terça-feira, 6 de outubro de 2009

“Nenhuma ditadura impede o surgimento de espíritos livres”

De um Anônimo, sobre a postagem “Cuba só é reverenciada por quem nunca morou aqui”:

Leio o blog da Yoani Sánchez já há algum tempo (Generación Y) e posso dizer que, além de escrever muito bem, ela sempre pontua os textos dela com fotografias do cotidiano cubano nas quais se vêem a miséria, o atraso e mesmo a falta de liberdade dos cubanos.
Penso que só não foi presa porque adquiriu fama internacional, sendo que o blog dela já foi premiado na Itália e em outros países. E é, além disso, uma prova de que, mesmo numa ditadura cruel como a cubana, ainda é possível, utilizando-se a internet, romper o cerco imposto pelo regime e comunicar-se com o mundo.
É tão óbvio que o regime castrista ruirá que nem vale a pena gastar nosso latim com isso.
Penso que os EUA, quando o regime cair, vão ter um problemão para resolver. Não haverá outra saída senão injetar milhões de dólares em Cuba a fim de evitar uma emigração em massa para a Flórida.
Estarão, assim, na mesma situação em que ficaram os alemães ocidentais quando o Muro de Berlin ruiu em 1989, obrigados a socorrer a inepta economia da Alemanha Oriental.
A coisa vai-se repetir em Cuba - é inevitável. A economia cubana produz apenas tabaco e cana-de-açúcar, os mesmos produtos que produzia na época da colonização espanhola. Há, é claro, o turismo que incrementou um pouco a economia, mas não é suficiente para gerar divisas para o país.
Mas a verdade insofismável é que Cuba é miserável porque nada produz (há um discurso recente de Raúl Castro no YouTube falando da baixa produção de leite, o que obrigou o governo a distribuir leite apenas para os menores de sete anos de idade. Incrível, mas rigorosamente verdadeiro!).
Dizer que o culpado são os EUA porque impuseram um bloqueio econômico à ilha (a maior ilha do Caribe) é uma tremenda mentira, umas maiores dos séculos XX e XXI porque Cuba mantém relações diplomáticas com diversos países e pode comprar deles aquilo que é negado pelo governo dos EUA.
E por que não compra (como papel higiênico que anda em falta na ilha)?
Porque nada produz, porque o socialismo liquidou a economia de mercado e não existe mais os generosos subsídios soviéticos para dar novo oxigênio ao agonizante regime (é verdade que Chávez ajuda Cuba, mas a queda nos preços dos barris de petróleo deve ter impactado essa ajuda).
O embargo econômico norte-americano serve - o que é mais relevante - como mera justificativa do regime castrista para o fracasso em todas as frentes. E, como sabemos, todas as ditaduras precisam anatematizar algum inimigo para justificar seus erros e fracassos.
De certo modo, foi bom Fidel Castro ter vivido muito, a despeito do sofrimento que impôs ao próprio povo; viveu tanto, que envelheceu junto com sua própria Revolução, agonizando ambos na certeza de que passarão e um novo momento de radiante liberdade ressurgirá, como se pode constatar pelo exemplo de Yoani Sánchez e outros dissidentes.
Num lugar em que o Estado controla tudo, sobretudo a economia, ele acaba por determinar que modo de vida as pessoas deverão seguir e até mesmo o que devem pensar.
Em tal situação, as pessoas, temerosas de que lhes falte comida ou emprego, acabam tornando-se obedientes e até servis. É claramente o que sucede em Cuba há 50 anos.
Ocorre, todavia, que nenhuma ditadura (ou tirania) consegue impedir o surgimento de alguns espíritos livres por mais que os controles sociais se tornem ainda mais rígidos (Em Cuba, existem os Comitês de Defesa da Revolução - os CDR - que colocaram em cada esquina do país um cederista com a missão abjeta de observar a movimentação na vizinhança e denunciar qualquer coisa estranha, como uma reunião, ao regime).
Mas, como bem ensinou Cornelius Castoriadis, "Se queremos ser livres, ninguém deve dizer-nos o que pensar."
E Yoani Sánchez, mesmo cercada pelo regime que a impede de viajar à Europa e receber os prêmios com os quais foi agraciada, prova que é possível ser livre, apesar do alto preço que se paga.
Abraços democráticos.
E viva Cuba livre!

4 comentários:

Renato disse...

Fiz meu mestrado em educação na UEPA em um convenio com o IPLAC (instituição de ensino de Cuba). Todos nossos professores eram de Cuba e a coordenação também. Esses professores eram escolhidos a dedo pela administração de Cuba, para não haver pedido de asilo entre outras coisas.
Assim que chegavam o que eles mais gostavam de fazer era ir as compras naquela loja de 1,99 que tem a estatua de liberdade na frente. Compravam o que? Sabonete, xampu, desodorante e perfumes, pois lá não tinha essas coisas. Compravam aos montes para quando retornassem a ilha, levessem junto.
Dei de presente para minha orientadora uma impressora (ela me pediu uma matricial pois jato de tinta não ia adiantar quando acabasse a tinta), aí perguntei o que faziam quando acabava a fita de impressão. Eles usavam o papel carbono entre o papel e o cabeçote de impressão. Dei a ela uma Epson L300 que eu tinha mas que estava com defeto em uma das cabeças e aí ficava uma linha em branco. Ela adorou e chorou de emoção (mesmo com o defeito).
Apesar de serem escolhidos a dedo, falavam muito das desgraças do país e pediam para não comentarmos nada com a coordenadora, pois essa era casada com um militar assessor direto de Fidel e que havia lutadoem Sierra maestra junto com ele.
Mas a coordenadora era igualzinho a eles e sentia as mesmas coisas, só que eles não sabiam porque ela nunca falava.
Acho que o dia em que os estados unidos acabarem com o embargo, o regime acaba.

Anônimo disse...

Publica isso Bemerguy:

Golpista hondurenho desmente mídia brasileira


Por Vinícius Wu,

A declaração de ontem do autodenominado presidente interino de Honduras, o golpista Roberto Micheletti, ao jornal argentino “Clarin”, desmoraliza a cobertura da “crise em Honduras” realizada por alguns dos principais órgãos de imprensa do Brasil. Foi o próprio golpista hondurenho quem declarou: “Tiramos Zelaya por seu esquerdismo e corrupção. Ele foi presidente, liberal, como eu. Mas se tornou amigo de Chavez, Correa e Evo Morales”. Segundo Micheletti, o presidente eleito, Manoel Zelaya, preocupou as autoridades hondurenhas, pois “se tornou esquerdista” e convidou “comunistas” para seu governo. Estes foram os motivos do golpe segundo seu principal artífice.

A esmagadora maioria das matérias veiculadas nos jornais impressos e telejornais brasileiros iniciam ou terminam seus textos com ressalvas do tipo: “o presidente deposto, Manuel Zelaya, que pretendia alterar a Constituição para se manter no poder” ou “Manuel Zelaya deposto após tentar aprovar sua reeleição”. A informação, repetida mil vezes por aqui, era que Zelaya queria aprovar sua reeleição, contrariando a constituição, e, por isso, havia sido derrubado. Esqueceram-se, apenas, de combinar o discurso com o golpista Micheletti.

Muita gente bem intencionada preferiu reproduzir o mantra oficial, ao invés de proceder a averiguação dos fatos. Digna exceção foi o experiente jornalista Mauro Santayana que nos alertou, em artigo publicado no Jornal do Brasil, para o fato de que Zelaya não propunha a aprovação de sua reeleição, mas sim uma consulta à população sobre reforma constitucional. Ainda que tivesse em seus planos aprovar a reeleição naquele país, já não haveria tempo de o próprio Zelaya beneficiar-se da mesma. O artigo de Santayana está disponível em http://www.cut.org.br/content/view/16873/170/

Desde o início da “crise em Honduras”, a cobertura da mídia brasileira procura omitir informações e distorcer fatos com o claro objetivo de relativizar o golpe naquele país. A começar pelo sutil eufemismo com que os jornais anunciam suas matérias. As “cartolas” dos grandes jornais (aquele titulozinho que fica acima das matérias) falam de “crise em Honduras”, quando deveriam estampar “golpe em Honduras”, pois é disto que se trata.

Os ataques à posição do governo brasileiro frente ao golpe, buscam disfarçar a evidente concordância de parte dos escribas da direita brasileira com os golpistas. Frente a um presidente que pretende “perpertuar-se” no poder, o recurso ao golpe de Estado é algo perfeitamente válido para alguns articulistas da grande imprensa. Naturalmente, o mesmo ardil não seria válido nos casos de Álvaro Uribe, que tenta aprovar, este sim, sua própria reeleição, ou do próprio FHC, que o fez com apoio da grande mídia.

A relação instrumental de parte da grande mídia com a democracia é algo, no mínimo, preocupante. Em um país recentemente governado por um regime de exceção – que ainda caminha para uma efetiva reconciliação com seu passado – a complacência de órgãos de imprensa com um golpe de estado não pode ser aceita passivamente pelas forças democráticas. Ainda mais se somarmos este fato à postura da grande mídia frente ao tema da punição dos torturadores do regime militar. O que está em jogo é o futuro da questão democrática no Brasil. E, infelizmente, não há grandes indícios de que a democracia e o respeito à soberania do voto popular sejam temas universais em nosso país.

Anônimo disse...

PB,

No www.assuntoscandentes.blogspot.com
o LEVY escreveu o texto q desafiaste ele a fazer sobre Honduras...e aí...vai gelar...

Anônimo disse...

Paulinho,

Tu estás sinceramente perdendo a linha. Esse blog devia ser o que o 5a foi, mas tá virando um negócio ranzinza anti-petista e anti-comunista. O blog é teu, claro que tens todo o direito de dizer o que quiseres, só acho que poderias fazer melhor.
O Bordalo que de vez em quando postas pode ser uma boa referência do contraditório para assuntos políticos estaduais, já que ele se propõe a escrever um blog de opinião.
O Levi, quem sabe, pode ser um cara para assuntos internacioais (ele escreveu a contestação ao Reinaldo Azevedo), convide ele, igual fez com o meia bomba Chico Sidou ou o Barra...
Só quero ajudar...