terça-feira, 13 de outubro de 2009

Morre o repórter Raul Thadeu

No AMAZÔNIA:

A segunda-feira amanheceu cinzenta para familiares e amigos do jornalista Raul Thadeu da Ponte Souza. Após passar 17 dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital particular da cidade, em função de duas delicadas cirurgias, o coração de Raul Thadeu não resistiu e parou de bater nas primeiras horas de ontem. O corpo foi velado durante toda a manhã na capela 2 do Hospital Beneficente Portuguesa, em Belém. O enterro foi às 14h30 no cemitério Santa Izabel.
Raul Thadeu tinha 66 anos. E é impossível dizer com precisão quantos anos de profissão o jornalista acumulou. Quem teve a oportunidade de conhecê-lo afirma que Raul Tadeu tinha a sabedoria e perspicácia próprias de quem nasceu conhecendo os caminhos que levam à boa reportagem. Os amigos que velaram o corpo de Raul Thadeu tinham uma certeza: o jornalismo paraense sofreu uma grande perda. Na capela onde ocorreu o velório, amigos dos tempos de juventude e os companheiros recém-conquistados pelo bom humor do jornalista lembravam de situações vividas por ele. Entre os familiares, no entanto, quase não se ouvia vozes.
Mestre - Apenas Andréa Souza, a mais velha dos três filhos deixados por Raul, conseguiu falar sobre o pai. 'Ele foi o pai que levou os dois filhos pequenos para assistir ‘2001 - Uma odisséia no espaço’. Ele não via a idade como uma barreira e nos proporcionou muitas coisas maravilhosas. Nos ensinou bastante. O que me conforta é saber que ele sempre viverá dentro de nós', disse. Inconsoláveis, os irmãos Paulo e Saulo preferiram não falar durante o velório do pai.
Ana Lúcia Bentes Dias, primeira esposa de Raul Thadeu e mãe de Andréa e Paulo, revelou a tristeza que sentia pela perda do amigo. 'Estivemos casados durante dez anos, mas antes disso namoramos por cinco. Nos conhecíamos bem. O Raul era um homem inteligente, culto, perspicaz e um grande companheiro. Mesmo após nossa separação mantivemos a amizade. Perco um bom amigo e o mundo perde um grande homem. Quero dizer apenas que o mundo ficou mais pobre hoje', declarou. Rose Souza, a companheira de Raul até os últimos momentos, preferiu manter o silêncio.
Estudioso - Por onde passou, Raul Thadeu fez amigos. Na redação do jornal O LIBERAL, onde construiu grande parte de sua história, ou nas ruas, onde caçava a informação, o jornalista deixou marcas. O jornalista e escritor Vicente Franz Cecim compartilhou com Raul Thadeu mais de quatro décadas de amizade. 'Nos conhecemos no Bar do Parque e por lá fomos ficando. Dividíamos nossas impressões sobre a vida e também sobre a morte. Tadeu era curioso e um grande estudioso do sentido da vida. Ele não tinha medo da morte', afirmou.
O jornalista Eduardo Rocha, ao ser informado sobre a morte do companheiro, publicou na internet suas impressões: 'Conhecido como Carlos Gomes e Bufallo Bill, por causa do espesso bigode que ostentava à frente da caneta e um bloquinho de anotações nas mãos, diante do entrevistado, ou mesmo quando chegava para trabalhar no jornal em uma manhã de domingo, vestindo nada mais nada menos que uma camisa da Seleção Brasileira dos tempos do ponteiro esquerdo Zagallo, Raul Thadeu morreu há pouco'. Raul Thadeu sempre dizia, prossegue o repórter: '’se O LIBERAL não deu, ninguém sabe’. Quando eu conheci o Thadeu, ele já tinha esse visual todo, e sempre foi uma pessoa carinhosa com os colegas de trabalho, sem abrir mão de seu indefectível cigarro e a voz esganiçada, mas sempre, de prontidão, o faro jornalístico. Tadeu se vai fisicamente, deixando a redação vazia. Mas, com todo o seu valor, Tadeu não morre nunca. Fica sempre como um grande amigo, um gozador e jornalista da melhor estirpe'.

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