No AMAZÔNIA:
Mais de 400 assentados de trinta municípios do oeste paraense interditaram ontem, por tempo indeterminado, a rodovia Fernando Guilhon, em Santarém. A estrada é a única via de acesso ao aeroporto municipal Maestro Wilson Fonseca. Os manifestantes são moradores de assentamentos criados pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) nos últimos cinco anos e que se dizem abandonados pelo governo federal.
Os assentados cobram mais 'respeito' e políticas públicas. 'O governo nos deixou no meio do mato abandonados e nos esqueceu; queremos respeito e ser tratados como seres humanos', disse o assentado José Antônio. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Santarém, Raimundo Mesquita, um dos líderes da manifestação, disse que o manifesto é por tempo indeterminado e que nenhuma negociação será feita pelas superintendências do Incra de Santarém ou de Belém. 'Só vamos conversar com membros do Ministério do Desenvolvimento Agrário ou do Incra de Brasília, porque aqui eles não resolvem nada', afirmou. Segundo Mesquita, constam na pauta de reivindicação dos assentados a criação de unidades avançadas do Incra nos municípios de Itaituba e Novo Progresso, além da instalação de uma superintendência do órgão em Altamira. Eles também querem a desinterdição de cerca de 70 projetos de assentamentos determinada pela Justiça federal de Santarém. 'Não temos infraestrutura e precisamos dessas unidades do Incra, pois as distancias são enormes em relação a Santarém. Também queremos políticas públicas, pois um agricultor na atual situação não consegue sequer um empréstimo em um banco para executar seus projetos ou fazer plantações', diz Mesquita.
A Polícia Militar foi chamada para o local e se instalou no trevo com a rodovia Everaldo Martins, que liga Santarém a Alter do Chão, para monitorar de perto os manifestantes e também negociar a liberação de alguns veículos. 'Nós estivemos em contato com as pessoas e conversamos, explicando a elas que o objetivo da segurança pública é a preservação da ordem e da segurança de todos os envolvidos. Vamos negociar para tentar amenizar os transtornos acusados pela manifestação', explica o major Anderson Mardock, do Grupo Operacional Tático, que chefia as negociações.
Estrutura - O manifesto está causando diversos transtornos à rotina do santareno. Vários carros formaram uma enorme fila ao longo da rodovia e muitos passageiros perderam o voo. Funcionários do aeroporto e das companhias aéreas têm de andar quase um quilômetro para chegar ao local de trabalho. O administrador de empresas José Alves teve que deixar o carro no estacionamento do aeroporto e voltar a pé até a barreira para pegar a carona de seu filho para o trabalho. 'Realmente, esse manifesto complicou a vida de muitas pessoas', reclamou Alves. Cargas e até os jornais vindos da capital não puderam circular ontem porque os manifestantes não deixam os veículos de transporte seguirem. Só ambulâncias e carros de funerárias estão autorizados a passar. Eles dizem que estão preparados para permanecer no local por até 30 dias. Uma enorme estrutura está sendo montada aos poucos. Carros com caixa d’água, bastante comida e fogões estão sendo improvisados à margem da rodovia. As árvores são utilizadas para armarem redes, transformando-se em imensos dormitórios. Muitas crianças e mulheres participam da manifestação.
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