sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Um Obama de saias?


A preocupação já verbalizada por alguns setores conservadores da política com a provável candidatura da senadora Marina Silva à presidência da República, pelo Partido Verde, é sintomática, pois revela a apreensão e o medo de que ela possa “decolar”, conquistando a ampla camada da sociedade descrente com os políticos profissionais e seus métodos velhacos de fazer política..
Uma dessas “cobras criadas”, o ex-prefeito do Rio César Maia, a propósito da candidatura Marina, aconselhou-a a refletir sobre a experiência frustrada da líder indígena Rigoberta Menchú, na Guatemala, que começou a corrida eleitoral liderando as pesquisas e terminou com apenas 3% dos votos apurados.
Ora, pois, pois, diriam os distintos amigos lusitanos.. Só esqueceu de lembrar que o fanfarrão “Caçador de Marajás” começou a campanha eleitoral em 1989 com raquíticos 2% e acabou eleito presidente “surfando” na onda de perdidas e “colloridas” ilusões. O cenário de descrença nas instituições, as práticas fisiológicas de gestão da “coisa” pública e a desmoralização quase total da classe política estão conspirando a favor de um “caldo de cultura” semelhante às eleições de 1989, o primeiro pleito depois da redemocratização do País.
Seria conveniente também lembrar um exemplo mais edificante, o efeito Obama nas eleições americanas, onde surgiu como uma espécie de anticandidato, mas acabou empolgando o eleitorado, notadamente os mais jovens (e também seus pais, evidentemente), conquistando uma brilhante vitória eleitoral, catalizando os anseios do eleitorado pela renovação e mudança. A propósito do surgimento do fenômeno Obama, disse um antigo sindicalista negro, um ano antes da eleição para o cargo mais importante da Terra: “É complicado derrotar um “movimento”. Ele estava certo.

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“O fator Marina nas eleições presidenciais poderá representar um sopro de esperança e uma borrifada de oxigênio no poluído cenário da política brasileira.”
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Com simpatia, carisma, competência e habilidade, Obama soube utilizar os modernos meios de comunicação na rede web para arrecadar recursos de campanha e divulgar sua mensagem, que acabou empolgando o eleitorado americano, contrariando paradigmas e os prognósticos de alguns cientistas políticos e analistas “entendidos”, que viam na sua candidatura o “ imponderável de Souza” , como diria Nelson Rodrigues.
Marina Silva poderá também empolgar os milhões de eleitores brasileiros que desejam mudanças? Ela vai conseguir se identificar com um novo modelo de fazer política?
Uma coisa parece inquestionável: ela já está contribuindo, antes mesmo de ser lançada candidata, para alterar o cenário plebiscitário desejado por Lula, ou seja, o de “apequenar” o processo e o debate eleitoral, transformando uma eleição presidencial em medíocre plebiscito, na base do “quem é a favor ou contra seu governo., que considera o melhor desde Pedro Álvares Cabral..”
Marina terá dificuldades para explicar algumas contradições do Partido Verde, como o “apoio crítico” a alguns governos , integrando “bases de apoio”, às vezes trocando o programático pelo pragmático, além de contar com estrutura deficiente, tempo mínimo na televisão etc. Mas tem a seu favor uma biografia limpa e cristalina, comprometida apenas com a ética e a justiça social. E ainda tem como capital uma bandeira forte e moderna: a defesa da cidadania, do meio ambiente e da vida no planeta Terra, ameaçada pela ambição e pelo egoísmo dos mercantilistas que” topam tudo por dinheiro”, construindo “torres de marfim” e destruindo as “pontes” com a natureza e a vida.
Enquanto os políticos profissionais se negam a promover a reforma política que a sociedade deseja e mergulham cada vez mais num oceano de contradições, atos secretos, nepotismo, compadrio e descrédito, o fator Marina nas eleições presidenciais poderá representar um sopro de esperança e uma borrifada de oxigênio no poluído cenário da política brasileira.
O próprio presidente Lula admitiu recentemente que “o Brasil já está preparado para eleger uma mulher presidente”... Claro que ele estava se referindo à sua “ pupila” Dilma, que, com seu estilo autoritário e “durão”, ganhou nos bastidores políticos o apelido de “Hugo Chávez de saias”... Mas as palavras de Lula poderão se revelar proféticas, caso Marina consiga empolgar a Nação e acabe também virando um fenômeno eleitoral, “surfando” em um “movimento” pela mudança, uma espécie de “Obama de saias”.. . Um novo sonho é ainda possível ?

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FRANCISCO SIDOU é jornalista
chicosidou@bol.com.br

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