domingo, 26 de julho de 2009

Quanta indignação


O pedido inicial do senador Pedro Simon é inteiramente procedente quando diz que o presidente do Senado Federal, José Sarney, “tem que renunciar", pois nesta altura não adianta mais se licenciar. A fronte enrugada do peemedebista mostra toda a sua indignação e sofrimento neste árduo momento por que passa o Congresso Nacional. Simon teme que não se instale o Conselho de Ética e Decoro parlamentar. O senador gaúcho sente-se envergonhado pela grave crise na mais alta Corte do Planalto, sente-se inútil e admite "ir para casa", por acreditar que não tem condições de fazer mais nada.
Convenhamos, é muito triste ouvir o clamor de um homem digno que, muito magoado, acha-se impotente para, com alguns poucos, apreciar as denúncias contra o presidente da Casa. Compartilham dessa mesma idéia os senadores Cristovam Buarque e Arthur Virgílio e já até acreditam que o senador Sarney corre o risco de perder o cargo. O presidente do Senado deve fazer o que seus antecessores fizeram. Ele deve renunciar.
Não adianta, senador, tentar tapar o sol com a peneira: anulando atos, mandando auditar contratos e a folha de pagamento e unificar as contas bancárias e o quadro de servidores, fazendo de tudo para que não aconteça nada. Para o senador Sérgio Guerra, a crise no Senado é devastadora. Ele afirmou que o principal objetivo da Casa deveria ser o de encurtar a crise. E qual seria esse atalho? Outra grande preocupação da opinião pública é como será a composição de um colegiado criado para votar no "combinado", com a finalidade única de manter Sarney à frente da Casa. Isso vai prejudicar ainda mais a imagem do Senado.
Será que esses parlamentares acham que somos idiotas? Tudo tem o seu tempo, e a paciência do povo está se esgotando. Essa votação deveria ser aberta e cada senador deveria ir à tribuna dizer se está ao lado da instituição ou de Sarney. É essa atitude que a sociedade espera dos parlamentares.
Embora o início do incêndio tenham sido os 663 atos secretos, a cada dia mais irregularidades vêm à tona. Recentemente, o Jornal "O Estado de S.Paulo" deu ênfase a informação de que a Fundação Sarney teria desviado recursos de um convênio de R$ 1,3 milhão com a Petrobrás para empresas fantasmas e outros negócios da família. O convênio foi por meio de projeto aprovado pela Lei Rouanet, do Ministério da Cultura.
As proezas e travessuras protagonizadas pelo ex-presidente da República têm um suporte muito forte: Renan Calheiros & Cia, que não aceitaram a indicação do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) para presidir o Conselho. Renan e sua tropa de choque boicotaram a instalação que daria oficialmente, início às investigações. No lugar de Valadares, indicado pelo PT, o PMDB emplacou o senador Paulo Duque (PMDB-RJ), suplente sem compromisso com a opinião pública ou reeleição, que já disse a que veio na instalação da CPI da Petrobras. Só os néscios podem não saber, mas a grande maioria do povo brasileiro sabe, sim, que os aliados foram escolhidos a dedo para blindar Sarney. Ou seja, de um total de 11 membros, os aliados emplacaram 8 na CPI.

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“Será que esses parlamentares acham que somos idiotas? Tudo tem o seu tempo, e a paciência do povo está se esgotando.”
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Esse período de acalmia provocado pelo recesso parecia ser providencial. Mas denúncias e irregularidades voltaram a manchar a Casa, transformando em espetáculo circense a crise criada no Senado. Pasmem, uma empresa do ramo do vestuário e acessórios aparece como responsável por ministrar um curso de "história da arte", na fundação que leva o nome do presidente do Senado. Até os turistas não poupam críticas aos políticos, acham o Congresso Nacional muito "bonito por fora, mas podre por dentro".
Um dia depois de indiciar Fernando Sarney, um dos filhos do presidente do Senado, a Polícia Federal indiciou Tereza Cristina Murad Sarney, mulher do empresário, por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e crime contra o sistema financeiro. Tereza é uma das sócias da empresa São Luís Factoring. Agora, gravações ligam Sarney a nepotismo e ato secreto. Os grampos da PF mostram que Sarney intercedeu para que o namorado de sua neta Bia fosse nomeado para um cargo. Sarney se utiliza do Senado como se fosse propriedade particular. Trata-se de uma situação insustentável.
Sarney ainda tem a cara de pau de recorrer ao filósofo romano Sêneca: "A injustiça só pode ser combatida com três ações: o silêncio, a paciência e o tempo". Peço licença ao nobre pensador e filósofo romano e digo: Silêncio, para ninguém perceber o que a choldra apronta nos bastidores; paciência é o que o povo brasileiro não tem mais de tanto passar vergonha; e tempo é o que toda a caterva quer para que tudo permaneça como está. Zé Sarney, a dignidade manda renunciar. A patuléia penhoradamente agradece.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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