segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

# Vai ter agito


Sempre manso e paciente o tempo ainda é o melhor mestre. E muitas vezes, faz parecer a melhor terapêutica. Ou seja, o grande remédio que o governo deixa passar ao largo e, com pouca visibilidade, não vislumbra para tirar proveito. As manifestações e os protestos de 2013 foram intervenções fortes, poderosas e a administração superior, facilitadora, ao que tudo indica, não dá a mínima bola para o fato. Nesse início de ano, vários acontecimentos de gravidade acentuada começaram a eclodir.
Um dos mais graves acontecimentos foi a barbárie que se consumou dentro e fora do cárcere. Essa convulsão prisional no complexo de Pedrinhas com sua perda de controle por parte das autoridades afeta a todos. O que aconteceu lá dentro não é admissível em nenhuma circunstância. O que se sabe, é que os bandidos mandavam nesse complexo prisional. As cenas em que cabeças decapitadas rolavam pelo chão são um absurdo, parece um filme de terror. O tempo urge e providências ainda não foram colocadas em prática.
Não adianta consultar nenhum oráculo, os agitos vão continuar. Movimentos sociais que partem de premissas corretas, ladeados por anarquistas, black blocs e os manjados reacionários, integram a fauna diversa e barulhenta que promete agitar as ruas durante a Copa do Mundo. A quatro meses do Mundial, as mobilizações continuam a desafiar as diferentes instâncias de governo envolvidas nos preparativos. Pessoas atingidas por obras, militantes de movimentos sociais e partidos, jovens organizados nas redes sociais e a classe média amedrontada se misturam em uma rede de indignados, mais de seis anos após o País ser escolhido para sediar o evento esportivo.
No final do mês passado, um ensaio dos agitos ocorreu em oito capitais. Em São Paulo, uma manifestação convocada por rede social por um perfil apócrifo reuniu 2 mil pessoas e terminou com as costumeiras depredações ao patrimônio de pessoas que trabalham e pagam seus impostos. Com mais de uma centena de detenções e um jovem gravemente baleado, a vítima mais recente do despreparo das forças policiais para lidar com protestos. Em outras cidades a adesão foi menor. Mesmo assim, as autoridades sentiram o golpe.
A Copa do Mundo será de risco? O Brasil decidiu organizar uma Copa complexa, um Mundial com 12 sedes, com logística mais intrincada e gastos mais vultosos. A previsão de gastos era inicialmente de R$ 17 bilhões. Em junho passado o Grupo Executivo da Copa do Mundo atualizou para R$ 28 bilhões e anteviu um acréscimo de R$ 5 bilhões até a bola rolar – um total de R$ 33 bilhões. Dessa dinheirama, a União será responsável por 85% e o setor privado por 14,5% - cerca de R$ 4,7 bilhões. Em 2007, em Zurique, o então presidente Lula afirmara: “Tudo será bancado pela iniciativa privada”.
As cidades brasileiras já deveriam estar coloridas, chamando atenção com bandeiras, banners, Brazucas e Fulecos gigantes deveriam já alimentar um clima festivo no país. Em vez disso, O País segue tomado pela desorientação, pela dúvida sobre sua capacidade de organizar a Copa de forma satisfatória. Na semana passada, as inquietações foram estampadas em revista de circulação internacional, como a francesa “France Football”, com a manchete “Medo sobre o Mundial”. Para a publicação, a Copa tornou-se uma “fonte de angústia”.
Os ingredientes necessários para uma competição profissional, cativante e histórica continuam presentes. Para realizá-la, será preciso superar várias ameaças e desafios. A violência – um coral de vozes dissonantes – rejeita a Copa no Brasil. Temos sérios problemas de infraestrutura, principalmente no entorno dos estádios e nos aeroportos. Os preços desde agora estão ascendentes em todos os tipos de serviço, com destaque para hospedagem. O que fazer? O mundial enfrenta ameaças graves – a única saída é otimizar esforços para garantir segurança, conforto e facilidade nos deslocamentos.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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