segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Conluios de última hora


 A trivialidade pode não ser a forma mais elegante de se expressar um pensamento, mas, às vezes, é a maneira mais simples de se traduzir uma situação. Ajusta-se ao conceito, uma expressão muito simples e bastante utilizada: contra evidências não há contestações. Não tem dia sem que um político, um ministro, até mesmo um petista de proa ou quem sabe, até a presidente da República e seu guru, mentor e antecessor recorram se enquadrar em maquinações de última hora.
Como se trata de um ano eleitoral, o Congresso fica agitado à semelhança de casa de marimbondo quando seu ninho é chacoalhado. Os ministros ficam em polvorosa, pois, ninguém quer entregar o osso. Mas essa época é propícia para fazer arrumações e promoverem-se algumas trocas. Entre essas trocas a mais significativa se deu na Casa Civil, com a efetivação de Aloizio Mercadante no lugar da senadora Gleisi Hoffman (PT-PR). Já se achando importante, o novo ministro tenta convencer a presidente Dilma a trocar o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia. Mercadante quer o petista José Guimarães, que mantém um bom diálogo com todos os líderes, em especial com Eduardo Cunha (PMDB). Chinaglia é hoje inimigo declarado de Cunha.
Pois é, de vez em quando a coisa fica fora de controle. O vice-presidente Michel Temer deve procurar Lula nos próximos dias para que ele interfira e tente resolver o imbróglio da presidente Dilma com o PMDB na reforma ministerial. Se por acaso, nada for feito rapidamente, Temer acredita que nem a aliança com o PT de apoio a reeleição de Dilma venha a ser aprovada na convenção. Hoje, Temer está falando para as paredes na defesa da presidente nas reuniões no Jaburu. E a posição do deputado Eduardo Cunha de rompimento é quase consenso, transformando o ex-vice da Caixa Econômica Geddel Vieira Lima num conciliador, tamanha a fúria que prevalece no partido contra o Planalto.
Nessa cumplicidade aparece um negócio milionário. O sucessor do ministro Aguinaldo Ribeiro no Ministério das Cidades herdará uma bela polêmica. Depois que o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) – órgão ligado à pasta – aprovou a obrigatoriedade dos simuladores de direção nas autoescolas, a Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara resolveu discutir os critérios adotados para selecionar quem irá explorar um mercado de R$ 480 milhões. O País só tem uma empresa habilitada, mas os deputados acham que é muito cliente para um mercado só.
Sabe daquela historinha que quando alguém quer se dar bem e, ainda, mamar nas tetas da Viúva, a primeira coisa que a turma da Transilvânia diz é: melhor contratar o conde Drácula para tomar conta da geladeira do banco de sangue? Assim, a presidente Dilma aproveitou uma reunião marcada para discutir a participação do PDT na campanha de 2014 e pediu explicações ao presidente do partido e ex-ministro Carlos Lupi sobre a denúncia, publicada em revista de circulação nacional, de recebimento de propina. Lupi afirmou que foi alvo de fogo amigo, devido a uma disputa para comandar o Comitê de Fundo de Investimento do FGTS, que cuida de R$ 200 bilhões em recursos. Lupi apoiava o nome de João Graça para assumir o comando do comitê, denunciado no escândalo.
Ainda, viajando em águas turvas. Os advogados dos condenados na Ação Penal 470 tentam emplacar, na marra, que se trata de um julgamento político. Mas a população sabe que se trata de uma organização estável voltada para a prática de crime. Os advogados dos mensaleiros fizeram suas sustentações. Mas o STF adia o julgamento dos recursos dos quatro réus. Essa turma que está cumprindo pena precisa de “simancol”, um medicamento que não está disponível nas grandes casas do ramo. A verdade, é que a lição fica para a História e políticos poderosos que se achavam inimputáveis, vão puxar cadeia por crime de corrupção e desvio de dinheiro. E como diz o colunista de O LIBERAL, Ancelmo Gois: você sabe, a primeira vez ninguém esquece.

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SERGIO BARRA é médico e professor

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