A trivialidade pode não ser a forma mais
elegante de se expressar um pensamento, mas, às vezes, é a maneira mais simples
de se traduzir uma situação. Ajusta-se ao conceito, uma expressão muito simples
e bastante utilizada: contra evidências não há contestações. Não tem dia sem
que um político, um ministro, até mesmo um petista de proa ou quem sabe, até a
presidente da República e seu guru, mentor e antecessor recorram se enquadrar
em maquinações de última hora.
Como se trata de um ano eleitoral, o Congresso
fica agitado à semelhança de casa de marimbondo quando seu ninho é chacoalhado.
Os ministros ficam em polvorosa, pois, ninguém quer entregar o osso. Mas essa
época é propícia para fazer arrumações e promoverem-se algumas trocas. Entre
essas trocas a mais significativa se deu na Casa Civil, com a efetivação de
Aloizio Mercadante no lugar da senadora Gleisi Hoffman (PT-PR). Já se achando
importante, o novo ministro tenta convencer a presidente Dilma a trocar o líder
do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia. Mercadante quer o petista José
Guimarães, que mantém um bom diálogo com todos os líderes, em especial com
Eduardo Cunha (PMDB). Chinaglia é hoje inimigo declarado de Cunha.
Pois é, de vez em quando a coisa fica fora de
controle. O vice-presidente Michel Temer deve procurar Lula nos próximos dias
para que ele interfira e tente resolver o imbróglio da presidente Dilma com o
PMDB na reforma ministerial. Se por acaso, nada for feito rapidamente, Temer acredita
que nem a aliança com o PT de apoio a reeleição de Dilma venha a ser aprovada
na convenção. Hoje, Temer está falando para as paredes na defesa da presidente
nas reuniões no Jaburu. E a posição do deputado Eduardo Cunha de rompimento é
quase consenso, transformando o ex-vice da Caixa Econômica Geddel Vieira Lima
num conciliador, tamanha a fúria que prevalece no partido contra o Planalto.
Nessa cumplicidade aparece um negócio
milionário. O sucessor do ministro Aguinaldo Ribeiro no Ministério das Cidades
herdará uma bela polêmica. Depois que o Conselho Nacional de Trânsito (Contran)
– órgão ligado à pasta – aprovou a obrigatoriedade dos simuladores de direção
nas autoescolas, a Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara resolveu
discutir os critérios adotados para selecionar quem irá explorar um mercado de
R$ 480 milhões. O País só tem uma empresa habilitada, mas os deputados acham
que é muito cliente para um mercado só.
Sabe daquela historinha que quando alguém quer
se dar bem e, ainda, mamar nas tetas da Viúva, a primeira coisa que a turma da
Transilvânia diz é: melhor contratar o conde Drácula para tomar conta da
geladeira do banco de sangue? Assim, a presidente Dilma aproveitou uma reunião
marcada para discutir a participação do PDT na campanha de 2014 e pediu
explicações ao presidente do partido e ex-ministro Carlos Lupi sobre a
denúncia, publicada em revista de circulação nacional, de recebimento de
propina. Lupi afirmou que foi alvo de fogo amigo, devido a uma disputa para comandar
o Comitê de Fundo de Investimento do FGTS, que cuida de R$ 200 bilhões em
recursos. Lupi apoiava o nome de João Graça para assumir o comando do comitê,
denunciado no escândalo.
Ainda, viajando em águas turvas. Os advogados
dos condenados na Ação Penal 470 tentam emplacar, na marra, que se trata de um
julgamento político. Mas a população sabe que se trata de uma organização
estável voltada para a prática de crime. Os advogados dos mensaleiros fizeram
suas sustentações. Mas o STF adia o julgamento dos recursos dos quatro réus.
Essa turma que está cumprindo pena precisa de “simancol”, um medicamento que
não está disponível nas grandes casas do ramo. A verdade, é que a lição fica
para a História e políticos poderosos que se achavam inimputáveis, vão puxar
cadeia por crime de corrupção e desvio de dinheiro. E como diz o colunista de O
LIBERAL, Ancelmo Gois: você sabe, a primeira vez ninguém esquece.
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SERGIO BARRA é médico e professor
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