Por ANA DINIZ, em seu blog Na rede:
Em memória de Carlos Coimbra
Na solidão pastosa da palavra mergulhaste teu passo,
ó Semeador!
E nas frias madrugadas milenárias
atirastes cintilantes sóis
estrelas azuis explosivas,
cadentes serpentes de sabedoria
que rasgaram o negrume,
perfuraram a treva, envenenaram o mal.
No terreno pantanoso das ideias estendeste teu braço,
e semeaste as pedras necessárias para abrir caminho
entre as figuras embuçadas no lodo
espantadas,
agarradas a velhas raízes apodrecidas.
Não percebeste as flores
que nasciam em tuas pegadas
nem o espraiar da palavra candente
brotando chamas,
nem sequer os caminhos que venceram
o pântano traiçoeiro,
por onde outros trilharam.
Não te voltaste.
Colheste, recolheste e selecionaste as sementes
que distribuías a qualquer um, a quem quisesse,
indiferente ao que seria feito com elas,
esperando entretanto que um dia
revelassem seus segredos
iluminassem novas trevas,
sombreassem novas canículas,
embelezassem novos jardins,
e consolassem novas pessoas.
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