segunda-feira, 12 de setembro de 2011
Estranho no ninho
Dizem que o pior cego é aquele que não quer ver. Essa máxima se aplica a José serra. Sinceramente, não gostaria de estar na pele do ex-governador paulista. Serra continua sonolento e preocupa a cúpula tucana que se une para segregá-lo. Insiste em se apresentar para a disputa presidencial de 2014, após ser derrotado em 2002, por Lula, e em 2010, por Dilma Rousseff. Será que não percebeu o novo xadrez do PSDB, dos movimentos mais recentes de seus principais nomes, o mais expressivo partido de oposição em termos numéricos e políticos, armam um cenário de isolamento de Serra no ninho tucano.
Há sinais irrefutáveis, consistentes e é possível supor com base em argumentos fortes, que o governador paulista Geraldo Alckmin, o senador mineiro Aécio Neves e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fizeram um pacto contra as ambições políticas de Serra. E confortavelmente, para isso, a própria presidente dá, talvez com malícia, oportuna contribuição.
O príncipe dos sociólogos deixou-se aproximar de Dilma, embora tente ardilosamente empurrá-la para uma cruzada, digamos assim, udenista-moralista que ele próprio, em dois governos, evitou pelas mesmas razões que Dilma evita agora. O governador paulista mantém uma relação administrativamente pacífica com o governo federal e com certeza se beneficia eleitoralmente desses vínculos. Já o senador Aécio Neves, além de pavimentar o caminho administrativo de Antonio Anastasia, sucessor dele no governo das Minas Gerais, constrói um trabalho próprio e de oposição comedida, oposto ao radicalismo de Serra. Ambos estão de olho na eleição presidencial de 2014. Um exemplo comparativo apenas na diferença de tom.
Serra, em Florianópolis, no final do semestre, atacou o governo de Dilma: “Temos um governo que não sabe para onde vai, não sabe o que quer e nem sabe fazer acontecer aquilo que não sabe direito o que fazer”. Não seria cedo demais para cornetar? Serra reitera que está “longe” de se “aposentar”. É um dos políticos mais atuantes no universo virtual. Mantém no Twitter um estimulante número de seguidores: quase 700 mil. Ele joga todas suas fichas no fracasso da política econômica de uma forma que traga desprestígio popular para Dilma.
Preferencialmente, Aécio Neves evita possíveis efeitos colaterais da palavra corrupção, dá preferência a “malfeito” que pegou emprestado do discurso de Dilma. Ele segue a picada ancestral dos mineiros: ora morde, ora assopra. Encontrou um tom próprio, embora possa também se beneficiar em caso de fracasso da economia. Torna amplo o discurso quando fala em reformas, que Lula não fez e que a presidente terá problemas para fazer se a aprovação do governo declinar.
Há que se levar em conta que o calendário eleitoral municipal de 2012 é parte importante nesse contexto. As principais consequências das eleições municipais na política nacional não são diretas. Sair-se bem, ganhar muitas prefeituras, não prepara um partido para ter bom desempenho nas eleições presidenciais, como mostram os exemplos do PMDB e do DEM (nas suas encarnações anteriores de PDS e PFL).
Aécio costura ampla coligação partidária em Minas, o segundo maior colégio eleitoral do País. Flerta com Sergio Cabral, no Rio de Janeiro, o terceiro colégio eleitoral, e com Eduardo Campos, em Pernambuco. É fraco em São Paulo, mas cultiva a simpatia de Alckmin. Serra não tem mandato. Quer ser prefeito e governador. É uma trilha conhecida.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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