O governo Ana Júlia – e nele a governadora, por evidente – não pode reclamar de que não foi avisado.
Não pode se queixar de que vozes sensatas não o alertaram enquanto havia tempo.
Não pode se queixar de que, em havendo tempo, não foi alertado para seus erros, para os caminhos tortuosos que começava a trilhar.
Enquanto havia tempo de aprumar-se rumo a seu norte, o governo Ana Júlia virou as costas.
Virou as costas não apenas para os críticos que tinham, da superfície ao mais fundo de suas almas, a pretensão de desqualificá-lo, de destroçá-lo, de aniquilá-lo irreversivelmente.
Virou as costas, vejam só, para críticos petistas.
Críticos do próprio PT.
Vocês conhecem o cara aí de cima?
Dificilmente haverá alguém que não o conheça.
É Charles Alcântara.
Foi um dos mais influentes – senão o mais influente – membro da equipe de transição da então governadora eleita Ana Júlia, no finalzinho de 2006.
Quando Ana Júlia assumiu, escalou-o para seu chefe da Casa Civil.
Charles Alcântara ficou no governo até o início de abril de 2008, quando foi praticamente enxotado do governo Ana Júlia.
Foi substituído na Casa Civil por Cláudio Puty.
Charles, quando saiu, bem que poderia dizer o que muito dizem que Luiz XV disse: “Après moi, le déluge”.
Depois de mim, o dilúvio.
Charles não disse isso.
Talvez tenha pensado, mas não disse.
Mesmo que não tenho dito, foi o que se viu.
Depois de Charles, foi o dilúvio.
E o próprio Chales, enquanto havia tempo, alertou os companheiros.
Uns três meses depois de deixar o governo, ele criou um blog.
O Blog do Charles.
Precisamente no dia 28 de julho de 2008, Charles deixou lá uma postagem.
O título: Enquanto há tempo....
Uma postagem para a posteridade.
Uma postagem lapidar.
Dessas para petista botar na cabeceira da cama e refletir sobre cada um de seus pontos, antes de conciliar o sono.
Charles escreveu em 28 de julho, enquanto havia tempo, coisas assim:
O núcleo dirigente do governo distancia-se cada vez mais do conjunto do governo, fruto de uma visão auto-suficiente e presunçosa de que o problema é que tem gente boicotando e querendo que o governo não funcione. O núcleo dirigente do governo tem baixa capacidade de auscultar o conjunto do governo e o seu entorno e de integrar pontos de vista, o que lhe faz recorrer à velha fórmula do autoritarismo e da cultura do medo. A mudança (mais uma) do modelo de gestão é um sintoma evidente desse enredo, como se o problema estivesse no modelo e não na cultura organizativa e no padrão da relação intra-governamental.
Ou assim:
Boa parte do tempo, inteligência e energia está voltada para as disputas internas (no governo, no PT e nos outros partidos aliados), comprometendo o desempenho do governo, que deixa de ser o espaço de convergências para colocar-se no epicentro das crises.
Ou assim:
O governo é confuso e inconstante em suas relações políticas e embaralha os espaços de decisões governamentais e partidárias.
Mas, afinal, o que faltava nesse governo, hein, Charles?
Enquanto havia tempo, Charles escreveu - em 28 de julho de 2008, não esqueçam.
Olhem aí algumas coisas que faltavam:
* Falta humildade para reconhecer os próprios erros;
* Falta sabedoria e paciência para reconhecer que o PT não tem hegemonia na sociedade e que a luta por uma nova hegemonia é necessária e legítima, mas é também de longo curso;
* Falta sabedoria e acuidade para interpretar o momento histórico e para não desperdiçar essa oportunidade, pois poderemos não ter outra tão brevemente;
* Falta altivez para assumir as suas contradições e para, apesar delas, seguir em frente;
* Falta capacidade para construir unidade política.
E Charles terminava assim:
DEFINITIVAMENTE,
O governo de Ana Júlia não é uma tese, um experimento;
Não é um clube de ciência;
Não é meio para enriquecer uns e conferir prestígio a outros;
O governo de Ana Júlia veio para mudar e só faz sentido se puder operar essas mudanças.
MAIS E MENOS
Mais governo e menos intriga!
Mais governo e menos fofoca!
Mais governo e menos fantasmas!
Enquanto há tempo...
Pois é.
Havia tempo naquele tempo.
Não houve mais tempo em 2010.
Ninguém ouviu Charles.
Enquanto havia tempo, ninguém o ouviu.
Ninguém o ouviu enquanto havia tempo.
O governo é confuso e inconstante em suas relações políticas e embaralha os espaços de decisões governamentais e partidárias.
Mas, afinal, o que faltava nesse governo, hein, Charles?
Enquanto havia tempo, Charles escreveu - em 28 de julho de 2008, não esqueçam.
Olhem aí algumas coisas que faltavam:
* Falta humildade para reconhecer os próprios erros;
* Falta sabedoria e paciência para reconhecer que o PT não tem hegemonia na sociedade e que a luta por uma nova hegemonia é necessária e legítima, mas é também de longo curso;
* Falta sabedoria e acuidade para interpretar o momento histórico e para não desperdiçar essa oportunidade, pois poderemos não ter outra tão brevemente;
* Falta altivez para assumir as suas contradições e para, apesar delas, seguir em frente;
* Falta capacidade para construir unidade política.
E Charles terminava assim:
DEFINITIVAMENTE,
O governo de Ana Júlia não é uma tese, um experimento;
Não é um clube de ciência;
Não é meio para enriquecer uns e conferir prestígio a outros;
O governo de Ana Júlia veio para mudar e só faz sentido se puder operar essas mudanças.
MAIS E MENOS
Mais governo e menos intriga!
Mais governo e menos fofoca!
Mais governo e menos fantasmas!
Enquanto há tempo...
Pois é.
Havia tempo naquele tempo.
Não houve mais tempo em 2010.
Ninguém ouviu Charles.
Enquanto havia tempo, ninguém o ouviu.
Ninguém o ouviu enquanto havia tempo.
10 comentários:
Caro blogueiro,
Meu olho foi direto numa palavra escrita errada: escreveste o mês de ABRIL como se fosse verbo (ABRIU). Por favor, corrija. Vamos evitar mais um erro, basta a eleição (de novo) de Jatene. Bom dia.
O Charles tem razão em parte. Na ALEPA ele negociava com o G-8 sempre com vantagens para esse grupo. Quando saiu do governo aprovou rapidamente um plano que beneficia a categoria dele na SEFA (da Simone também). Para terminar, Charles não percebeu que o representante do governo na Assembleia era fraco? Charles tem conhecimento técnico e político suficiente para avisar bem antes que as lambanças tivessem acontecido. Agora, Inês tá putrefada, só falta o enterro.
O tempo é o senhor da razão. O tempo passou e mostrou para todos os petistas o quanto Charles Alcantara fez falta ao governo Ana Julia. Ele saiu e ficou um vazio no governo até 31 de outubro de 2010, que não foi preenchido nem por Puty nem por Everaldo Martins, nem por ninguém. Charles, na sua modestia e humildade, bem que poderia ser as pernas, os braços e o coração da Ana Julia como apelou em palanque à militancia petista. Mas a cabeça, quem seria?
Postagem perfeita.Parabéns!
PS:Mesmo eu sendo tucana de carteirinha e tudo isso ter levado à nossa vitória.rsrsrs
Caro blogueiro,
Obrigado, ainda se usa (ou se escreve). Ou és daqueles que consertam os erros, mas não admitem??
Abra o olho, boto!
Caro Paulo, às vezes, os jornalistas, inclusive os bons, como você, criam personalidade totalmente do que é na prática, na realidade. Isso é incrível. E deturpador
Fiquei até emocionado, lembrar do Charles é lembrar da nossa vitória em 2005, mas quando lembro do Puty, não consigo esquecer a derrota em 2010, essa semana posso dizer, exatamente hj posso dizer, trabalhei duro esses 3 anos e 11 meses de governo, fiz tudo o que estava ao meu alcance nessa campanha para reeleger Ana Julia, e exatamente hj fui exonerado sem aviso, amanhã irei ao meu local de trabalho e nunca vou esquecer desse MUITO OBRIGADO POR TUDO COMPANHEIRO! que a Ana Julia me deu hj, pensei que como recompensa pelo trabalho e pela luta, teria ao menos o reconhecimento de sair junto com vc minha companheira, mas fica a lição e o meu muito obrigado, pois aprendi na vida a nunca ser ingrato.
Charles foi didático, lúcido e profético. Só resta agora aos coveiros da Ana Júlia cantarem em coro aquela musiica do Jorge Ben: "Oh, meu amigo Charles Brow ! Quanta falta você nos fez !
Não foi só com o Charles a ingratidão dela. A comadre dela a professora Edilza Fontes que sempre esteve do lado dela há 30 anos, sempre a ajudou a eleger, ela tirou do governo e ainda perseguiu todos os companheiros ligados a professora. Por ai vocês imaginam o que ela é capaz. Está conhendo o que plantou!
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