segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O desafio da corrupção


Felizmente, a democracia no Brasil amadureceu. Nosso Guia também aprofundou os programas sociais iniciados por Fernando Henrique e conseguiu transformar o Bolsa Família na maior vitrine de sua gestão. Identificado com os mais pobres e dotado de extraordinário carisma e capacidade de comunicação, Nosso Guia conseguiu manter sua imagem incólume ante a inundação de escândalos que fez da Corte um mar de lama.
Tudo o que é bom - como o pré-sal e ou a ascensão das classes C e D - gruda em Nosso Guia. O que é impopular vai para a conta dos outros. Nesta década, enquanto a estrela do PT encolheu como símbolo de ética e dos militantes engajados, a do Nosso Guia só fez brilhar. Ungido em 2002 como o operário que virou presidente, ele chega a 2010 e ao último ano do segundo mandato com 72% de aprovação. Mesmo assim, recusou-se a tentar mudar a regra do jogo para disputar o terceiro mandato - outro sinal da força de nossa democracia, hoje maior do que qualquer presidente, chame-se Lula ou FHC.
Nos últimos dez anos, a política brasileira foi um manancial de escândalos, alimentados por uma impunidade crônica. Antes da chegada ao poder, a agremiação do Nosso Guia insuflou ilusões de que inauguraria uma nova forma de relacionamento do governo com seus aliados políticos. Essas ilusões foram desfeitas logo no começo do governo Lula.
Os escândalos mais recentes, digamos assim, os mais graves começaram ainda no governo de FHC, em fevereiro de 2001, com a violação do painel do Senado, protagonizado pelo senador José Roberto Arruda (PSDB-DF), a mando do então presidente da Casa, Antônio Carlos Magalhães (PFL- BA) e em março de 2002, com o caso Lunus que a Polícia Federal apreende R$ 1,3 milhão numa empresa do marido de Roseana Sarney (PFL-MA). O escândalo torna inviável sua candidatura à Presidência.
Nas gestões do Nosso Guia, escândalos e corrupção ocuparam quase toda a década. Mas o que mais estrago fez foi o "mensalão". O partido do Nosso Guia à época tinha uma organização criminosa de fazer inveja. Sua cúpula sob o comando do poderoso ex-ministro José Dirceu, o ex-tesoureiro Delúbio Soares e outros delinquentes montaram uma superestrutura no PT. Por pouco o governo não fica acéfalo com tanta renúncia e só não minou Nosso Guia porque ele conhece como ninguém a técnica da blindagem.
O Senado, sempre respeitado, hoje é olhado com reservas, pois semana sim e outra também era palco de escândalos. Suas maiores estrelas eram o decano do Senado, José Sarney, assessorado pelos senadores traquinos Renan Calheiros e Fernando (Indiana) Collor. Parece que o dândi maranhense, em vez de ficar mais sábio com a idade, ele se apequena. A vaidade dessa gente é maior do que sua estatura, hoje é mais um desagregador, não perde a mania de se locupletar com as "benesses" que se apresentem. A eleição do dândi para o Senado abriu não só feridas como deixou sequelas na base governista.
Há sete anos, o governo distribuiu cartões de crédito corporativos aos seus funcionários de mais alto escalão. Seriam usados por ministros e seus assessores principalmente em viagens para pagar despesas imprevistas decorrentes do exercício do cargo. Essa fatura imoral, tendo o governo como ordenador de despesas, até hoje foi ficando e ficou.
Quem não se lembra do todo-poderoso ex-ministro Antônio Palocci? Palocci é aquele que teve que renunciar ao Ministério da Fazenda, quando denunciado pelo caseiro, que culminou com a quebra de sigilo do ex-ministro e, pasmem, é uma das peças do xadrez do Nosso Guia que poderá ser usada para disputa do governo de São Paulo. Uma questão de observação: está muito difícil tirar essa das mãos de Geraldo Alckmin.
Não entendi como a decisão do Supremo Tribunal Federal beneficia 62 cotistas do fundo de Dantas. Uma liminar paralisa o inquérito que investigava remessa de recursos para as Ilhas Cayman, suspeitos de cometer crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e sonegação fiscal. Para os envolvidos na Operação Satiagraha, medida pode resultar no cancelamento de processos e de inquéritos, que já estavam na fase final. É brincadeira!
Ufa! E ninguém mais fala mais na Operação Navalha, desencadeada pela PF em nove Estados e no Distrito Federal, que prendeu 46 integrantes de uma quadrilha especializada em desviar dinheiro público por meio de fraudes em licitações em obras do governo, estima a PF que sangraram os cofres do governo em torno de R$ 170 milhões. São tantas as manobras suspeitas contra o erário que a mais recente foi no DF, protagonizada pelo governador José Roberto Arruda e seus delinquentes, aqueles do dinheiro na cueca, na meia etc. Pergunta-se: diante de tantos flagrantes delitos e provas irrefutáveis, quando esses quadrilheiros irão pagar por crimes contra a nação?

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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