sábado, 10 de outubro de 2009

No Círio, “o homem parece estar mais próximo do sagrado”

De Adriana Bisi Nicolau, no artigo “Círio de Nazaré: ‘a pororoca da fé’”:

O contagiante espetáculo do Círio faz com que nos sintamos diante de algo familiar, algo que se insere num espaço que já fora ocupado anteriormente, talvez de forma diferente, mas com a mesma intensidade. Acompanhar o Círio traz a sensação de estar fazendo uma contribuição pessoal com um aspecto coletivo. É como se fosse a união do uno e do todo. Homens unidos no mesmo caminho da fé. Percebe-se nos poucos que não participam do acontecimento, que existe um ar de medo: é como se estivessem indo de encontro ao sagrado, por não serem testemunhos de um encontro de fé.
Podemos pensar que o Círio promove uma nova auto-interpretação do homem, redefine suas relações com os outros, contribui para que pensem em novas possibilidades de realização pessoal. Nesta época do ano, principalmente, o homem parece estar mais próximo do sagrado, daquilo que muitas vezes pensa ser inalcançável. As realizações dos pedidos e o cumprimento das promessas é a forma que encontra de mostrar a sua devoção, o seu respeito e humildade perante o divino. O Círio mostra ao homem a sua natureza humana, e também divina. Alcançar um pedido é considerar o milagre da Nossa Senhora e também perceber o quanto a determinação do devoto é importante para tanto. Percebe-se nesse momento que a única sensação mais forte que a energia da massa é a fé.
Aqui ocorre uma identificação íntima com o divino, estar acompanhando a procissão, segurando a corda, assistindo-a passar nas ruas é mais do que nunca estar com a Santa, protegendo-a, se protegendo. O espírito de solidariedade é o mais presente entre os fiéis, dão tudo aquilo o que gostariam de receber. Homens e mulheres participam lado a lado no mesmo rio de fé. Nessa festa religiosa o ser humano dialoga com aquilo que não é ele, assim se constrói e se enriquece, exercendo a sua capacidade de aceitar (quando os pedidos não são realizados), de suportar (sacrifícios) e de comungar a diferença, constituindo o vigor de sua identidade pessoal.


Leia aqui a íntegra do artigo.

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