segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Círios continuam a conduzir milhares

No AMAZÔNIA:

Durante duas horas, algumas das principais ruas do bairro de Nazaré, em Belém, foram tomadas por anjos. Alguns estavam no chão, outros mais próximos do céu. Todos, no entanto, unidos em um só propósito: Homenagear Nossa Senhora de Nazaré. Assim foi a romaria das crianças, realizada ontem pelo 19º ano consecutivo. A diretoria da Festa estima que 270 mil pessoas participaram da procissão este ano. Vinte mil a mais que em 2008. Quando foi criada, em 21 e outubro de 1990, pouco mais de 1,5 mil fiéis estiveram na romaria - hoje considerada a terceira maior em número de integrantes.
Não são apenas os pequenos que participam da caminhada de quase três quilômetros. Como na grande procissão ocorrida no domingo anterior, idosos, gestantes, portadores de necessidades especiais, homens e mulheres de várias idades prestam homenagens à padroeira dos paraenses. Os sinos da Basílica Santuário anunciaram o início da romaria. As mãos e os olhares se ergueram quando a imagem se aproximava. Pessoas choravam. Sacadas e janelas foram tomadas por devotos. Papéis coloridos caíram das janelas. Mas nem tudo é igual.
A berlinda não faz parte da romaria infantil. A imagem peregrina é conduzida em um cibório, uma armação em metal constituída de um teto arqueado (abóbada), sustentado por quatro colunas retorcidas. Também não há corda - um dos maiores símbolos de sacrifício do Círio de Nazaré - atrelada ao carro com a imagem. O carro que conduz o cibório é conduzido por um grupo de crianças. Segundo o coordenador da guarda mirim de Nazaré, Osvaldo Farias, 'o cibório é muito mais leve que a berlinda e por isso é melhor para ser levado pelas crianças', explica.
Apesar não estar ligada diretamente à imagem, a corda é representada durante a romaria. No meio da multidão que vai à frente do cibório é possível identificar alguns grupos de crianças segurando uma fina corda. Não há sufoco. Sobra espaço na corda mirim. Caminhar segurando um pedaço de corda não é a única demonstração de sacrifício vista na romaria. Enquanto na romaria principal adultos cumprem suas promessas puxando a berlinda por uma corda, na romaria das crianças quem agradece pela graça concedida não é o promesseiro.
Vestidas de anjo ou usando roupas claras, são as crianças que fazem o sacrifício do círio. A maior parte delas já veio ao mundo com a obrigação de participar da romaria. Muitas ainda nem entendem o que estão fazendo em meio a tanta gente. Mikelly Nicole nasceu há sete meses. Ontem ela acompanhou o círio das crianças pela primeira vez. Foi sua mãe, Cinthia das Neves, quem fez a promessa. 'Eu tive sífilis durante a gravidez. Tive medo que ela nascesse com alguma sequela e por isso fiz a promessa à Nossa Senhora de trazê-la sempre à romaria', conta.
Nicolas também começou cedo a participar da romaria. Ontem pela manhã, vestido de anjo, o menino de pouco mais de um ano de idade participava pela segunda vez da procissão. Ele acompanhará a imagem peregrina por mais nove anos até que se cumpra a promessa feita por sua mãe, Eleonora Borborema. 'Quando o Nicolas nasceu, ele precisou ficar durante sete dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ele tinha uma baixa taxa de glicose em seu sangue. Felizmente Nicolas se recuperou', relata.

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