Por Filipe Faraon, do AMAZÔNIA:
Números sobre a movimentação da economia no Círio de Nazaré fazem parecer que todos os setores se beneficiam do aumento do número de pessoas na cidade de maneira uniforme. Uma análise sóbria a partir dos números do Dieese e um olhar mais acurado sobre a situação derrubam o ufanismo que cerca notícias em torno do assunto. Se, de um lado, vendedores de artigos religiosos, de blusas e donos de supermercados têm lucros excepcionais em outubro, o mesmo não se pode dizer da indústria hoteleira, de agências de viagem e lojas, que veem as vendas crescerem pouco, apesar do volume ímpar de pessoas em Belém.
Dados do Dieese divulgados há cerca de uma semana mostram que o Círio injeta por volta de R$ 700 milhões na economia da cidade, principalmente nos setores de indústria, comércio e serviços, este último com destaque para o turismo. Para chegar a esses números, Roberto Sena, economista supervisor técnico do departamento, coordena uma equipe de profissionais para um serviço árduo e, dado o volume de trabalho, não chega a aprofundar mais no tema.
Um olhar rápido e descuidado sobre o dado faz parecer que os lojistas de Belém, por fazerem parte do ramo comercial, faturam altíssimo com a presença de romeiros, a maioria vindos do interior do Estado. Isso foi verdade, afirma o vice-presidente do sindicato dos Lojistas do Comércio de Belém (Sindilojas), Joy Colares, há cerca de 15 anos. Naquele tempo, quando o comércio nas demais cidades do Pará era mais fraco, famílias tinham o hábito de aproveitar a vinda à capital, em outubro, para comprar roupas e até eletrodomésticos novos. 'Hoje, com a expansão de redes de lojas no interior, isso já nem faz sentido. Em geral, o ‘cara’ prefere comprar na cidade dele, onde tem crédito e onde é conhecido, a gastar em Belém', afirma.
Muitas datas comemorativas, como Dia das Mães, Dia dos Pais e Dia dos Namorados, são mais lucrativas para donos de lojas. Até o Dia das Crianças, a ser comemorado um dia depois da grande procissão do Círio deste ano, é esperado com mais expectativa por Joy Colares do que o próprio Círio. 'Não digo que, com o aumento do número de pessoas, as vendas também não cresçam. Crescem, sim, mas não tanto quanto a maioria das pessoas acham', esclarece. Segundo Colares, não há um benefício geral para o comércio, mas vários, de forma pontual. 'Os shopping centers ficam lotados, mas não há um ânimo específico para compra, como costumava existir. Lojistas não contratam mão de obra para esta época, como fazem no Natal', diz.
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