Jatene: “Nunca farei política com ódio”

Acusado pelo ex-governador Almir Gabriel, entre outras coisas, de ter feito “corpo mole” na campanha de 2006, quando Ana Júlia destronou o próprio Almir e, com ele, 12 anos de sucessivos governos tucanos no Pará, o ex-governador Simão Jatene, pré-candidato do PSDB ao governo do Estado, não pretende responder àquele que hoje se transformou no seu mais irredutível, inflexível e radical adversário dentro da própria legenda.
O poster falou por telefone rapidamente com Jatene, no início da tarde de ontem. O ex-governador disse que não vai bater boca com ninguém, sobretudo em público. Cauteloso e comedido nas palavras, acrescentou apenas que não se desviará um milímetro da concepção básica que tem norteado a sua vida pública e que, conforme lembrou, foi confirmada em seus quatro anos de gestão: o destino do Estado é mais importante do que os homens, é mais importante do que a transitoriedade do poder.
Jatene acrescentou apenas que qualquer pessoa, inclusive e sobretudo os homens públicos, têm todo o direito de expender opiniões e juízos sobre o que bem entenderem. Mas finalizou: “Uma coisa eu lhe digo: nunca fiz, não faço e nunca farei política com ódio.”
Se Jatene prefere, pessoalmente, não ingressar no terreno pantanoso da lavagem de roupa suja em público, pelo menos quatro tucanos com os quais o blog conversou não se negaram a avaliar os efeitos das disputas que hoje dominam o PSDB e que ganharam alto teor explosivo com a entrevista concedida pelo ex-governador Almir Gabriel ao Diário do Pará, em sua edição deste domingo (07).

Poder pelo poder, não
Os quatro tucanos – um deles do grupo considerado histórico, que fundou o PSDB no Estado do Pará – interpretaram o gesto de Jatene, de não travar duelos verbais em público, como uma demonstração de que o ex-governador tem consciência do momento histórico que o Estado vive, das circunstâncias políticas e das responsabilidades dele próprio como ex-governador e uma das mais expressivas lideranças do PSDB no Pará.
“O Jatene jamais orientou-se pela prática do poder pelo poder. Essa nunca foi a sua praia. Nunca foi a sua prática. Ambicionar o poder pelo poder sempre foi considerada uma prática mesquinha pelo Jatene. Isso não é desambição sua. Muito contrário. Mas você pode observar que seus princípios têm se mantido intactos. Prova disso, por exemplo, é que o Jatene, quando ainda estava no governo, manifestou-se contrário ao instituto de reeleição e disse que, por isso, não seria recandidato. E não foi mesmo”, recordou um dos tucanos ouvidos pelo blog.
Em comum, os quatro concordaram não fazer o menor sentido, não guardar a menor coerência com os fatos a acusações feita por Almir, de que Jatene fez corpo mole na eleição de 2006 e, com isso, abriu espaço para corroer a candidatura tucana, facilitando a vitória da candidatura petista Ana Júlia Carepa.
“Você acha razoável que o Jatene fosse fazer corpo mole para impedir que o PSDB fosse vitorioso pelo quarto governo sucessivo? Alguém acredita que ele faria corpo mole para eleger uma petista? O Jatene, inclusive, poderia ter saído do governo para ser candidato ao Senado ou a deputado federal. Você acha que ele não se elegeria pelo menos deputado federal?”, indagou um dos tucanos com os quais o blog conversou.

Maioria no interior do Estado
Eles reforçaram que atualmente o ex-governador detém maioria no partido e que sua pré-candidatura é mais forte em relação à de Mário Couto. Quando o poster retorquiu que a mesma coisa dizem o senador Mário Couto e os que apoiam, um dos tucanos contrapôs o seguinte argumento: “Veja os deputados estaduais. Todos estão com o Jatene. Veja a bancada federal. A maioria está com o Jatene. Você acha que os deputados não refletem a tendência e a vontade das bases do partido no interior? E mais: se você quiser avaliar qual a tendência dos prefeitos, converse com a Odileida [Sampaio, de Altamira] e com os prefeitos do Baixo Tocantins e de Paragominas e confirme quem eles apoiam.”
Os tucanos jatenistas que falaram ao blog preferiam, também eles, não se pronunciar diretamente sobre a virulência das declarações de Almir Gabriel ao Diário do Pará, mas ressaltaram que é preciso avaliar objetivamente o momento de fragilidade por que vem passando o governo Ana Júlia e pensar num candidato que possa ser o contraponto do governo petista. “Com o Jatene candidato, não há dúvida de que temos meios de fazer uma comparação direta entre os quatro anos do governo Simão Jatene e os quatro anos do governo Ana Júlia Carepa”, ressaltou um dos tucanos.