domingo, 14 de dezembro de 2008
Um time experiente e respeitado
A poucas semanas de voltar definitivamente para seu rancho no Texas, George W. Bush decidiu fazer um mea culpa pela mídia: "Meu maior arrependimento" foi acreditar em informações errôneas sobre armas de destruição em massa que levaram à invasão do Iraque, em 2003. E admitiu que não estivesse "preparado para a guerra".
Bush tem muito mais a lamentar do que a guerra. As pessoas jamais esquecerão as imagens dos soldados americanos abusando de prisioneiros iraquianos na prisão de Abu Ghraib. Ficará marcado como o presidente que levou a economia à maior crise desde a Grande Depressão, que deixou Nova Orleans se afogar, que apoiou a tortura e transformou os EUA em uma nação pária parece acreditar que sua única culpa é ter estado no lugar errado na hora errada. Bush se recusa a assumir responsabilidade pelos próprios erros.
E exatamente para não cometer tanta leviandade que o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, escolhe rápido e moderadamente auxiliares que já atuaram no centro ou na periferia do poder, fazendo um ajuntamento de pessoas experientes para formar o novo governo que deverá tomar decisões antes impensáveis.
Obama, na segunda-feira, 1º, anunciou "um novo amanhecer na liderança americana". A retórica poética serviu para introduzir a equipe de segurança nacional, composta de Robert Gates, que manteve o cargo de secretário da Defesa; do general da reserva James Jones, no posto de conselheiro; e da senadora Hillary Clinton, como secretária de Estado.
O presidente eleito tem limitada experiência em política externa, mostrou que pretende se cercar de assessores com autoridade e que não temem em discordar dele - duas coisas que faltaram ao governo de Bush.
Tanto a nomeação de Gates quanto a de Jones devem facilitar a relação de Obama com o Pentágono, vital para um presidente que assume um país atolado em duas guerras - a do Iraque e a do Afeganistão. A escolha de Hillary é aposta arriscada. Durante a dura campanha pela indicação do Partido Democrata, a senadora acusou Obama de ingênuo e foi descrita pelo rival como alguém cuja especialidade em política externa se limitava a "tomar chá com estadistas". O que mudou desde então?
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“O presidente eleito, Barack Obama, tem limitada experiência em política externa, mostrou que pretende se cercar de assessores com autoridade e que não temem em discordar dele - duas coisas que faltaram ao governo de Bush.”
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Obama pode ter optado por seguir o exemplo de seu ídolo, o ex-presidente Abraham Lincoln, que em 1860 chamou para seu gabinete três antigos rivais políticos, seguindo o velho e bom preceito de que é bom manter os amigos por perto - e os inimigos mais perto ainda. A questão é se esse "time de rivais", como a Imprensa alcunhou a trinca, vai ajudar ou atrapalhar o governo do novo presidente.
Na realidade, a seleção é boa. O que muitos vêem como problemas de Hillary são na verdade qualidades. Graças a seu passado como primeira-dama, ela terá livre trânsito com líderes mundiais. Diante de uma economia em frangalhos, que deve consumir o primeiro ano de Obama, entregar a política externa a alguém experiente tem grande apelo.
A equipe desagradou parte do eleitorado de Obama, porque ele se cercou de auxiliares do governo de Bush e da era Clinton. Será que este time é o da mudança? Como o governo nem começou, é cedo para saber se o discurso da mudança era só blablablá eleitoral. Até agora, a mensagem é ambígua.
A estratégia é brilhante, o raciocínio mais rápido levaria a crer que Obama pende para a direita. O que distingue Gates, Jones e Hillary não é o desejo de mudar às políticas de Obama para a direita, mas a sua capacidade de persuadir a direita a dar uma chance às políticas do novo presidente.
Nesse time de rivais - bushianos e clintonianos - Obama encontrou gente que pode fazer mais do que vender sua política externa a iranianos, iraquianos e israelenses. Pode vender também aos americanos. Todavia, Obama pode ser ambíguo ou pragmático, cercar-se de gente jovem ou experiente. Só não pode - e essa é uma grata segurança para o mundo - virar a mesa.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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