Da advogada Mary Cohen, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PA, sobre a postagem O que eles disseram:
Não obstante a ampliação do campo de atuação dos movimentos de direitos humanos, que hoje não ficam restritos apenas às violações praticadas pelos agentes do Estado, ainda há os que, equivocadamente e de forma pejorativa, acusam os defensores de direitos humanos de protegerem bandidos (sic).
É verdade que nosso trabalho deve voltar-se contra os abusos cometidos por agentes do Estado. A execução de um suspeito por um policial, por exemplo, constitui uma violação aos direitos humanos e corre sério risco de ficar impune. Diferente da morte de um policial por um criminoso, que deve deflagrar, por parte do Estado, todo esforço necessário para prender o culpado.
Todavia, diferente do Ney Figueira, que questionou se o pessoal dos direitos humanos deu apoio aos que perderam seus esteios, quero ressaltar que acompanhamos as vítimas da violência, sim. Ou para esse leitor a menina Marielma (violentada e morta) não foi uma vítima? E a irmã Dorothy não foi vítima dos criminosos que tomam de assalto nossa Amazônia? E o publicitário Gustavo Russo? E os meninos da Ceasa? E as garotinhas que foram mortas na mata da Yamada? E as mulheres vítimas de violência? Esses e tantos outros nós acompanhamos Sr. Ney. Como também nos solidarizamos com a família do médico Salvador, inclusive abrindo as partas da OAB. É inconcebível que ainda hoje haja pessoas que desconhecem o trabalho dos defensores de direitos humanos, se pegando a clichês ultrapassados.
Agora, uma coisa é certa: a defesa dos direitos humanos implica também a defesa dos bandidos sim, como de qualquer outro cidadão, mas não por serem bandidos, mas sim indivíduos com direitos legais.
Se o pior criminoso for tratado conforme a lei, todos nós teremos a certeza dos nossos direitos. O tratamento que um estado confere aos criminosos é um termômetro do cumprimento da lei e do trato que esse mesmo estado dispensa aos seus cidadãos em geral.
Mary Cohen
Presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/PA
3 comentários:
Desculpe-me Dra. Mary Cohen, seu discurso é muito bonito, a teoria é bela. Mas na prática, infelizmente, não assim como a senhora dulcifica. Temos exemplos diariamente de pessoas que têm seus entes queridos assassinados por facínoras, e não simples bandidos, como são tratados. Estes assassinos, Sra. Mary devem ser tratados com os rigores da lei e não com as benesses, como se verifica. O termômetro do cumprimento da lei é quando verificarmos que estes assassinos confessos, pegos em flagrante, serelepes e risonhos apodrecerão na cadeia. E não sejam libertados pouco tempo depois para cometerem novos assassinatos. Conheço amigos que reagiram matando ladrões (com extensa ficha criminal) que são perseguidos por muito tempo por ações judiciais, por advogados e familiares dos mesmos. E tantos outros que perderam familiares abrupta e criminalmente e jamais receberam uma palavra de alento por parte dos ditos Direitos Humanos. Todos os dias vemos cidadãos, principalmente humildes, moradores de bairros periféricos, mas nem por isso inferiores aos moradores de bairros nobres mais abastados, serem assassinados. Faça uma pesquisa rápida e pergunte a alguns quando alguém dos Direitos Humanos os procuraram. Faça isso e se 09 entre 10 não foram procurados eu irei pessoalmente à OAB/PA, e me ajoelharei aos seus pés e pedirei perdão pelo presente comentário. Agora, faça o contrário também referente aos criminosos, se no mesmo dia não aparece várias pessoas para ajudar a soltar o criminoso. É um absurdo, mas é a realidade.
Pertinente e completo, anônimo 18:31.
Infelizmente, sua apreciação é pura verdade.
Infelizmente.
Valeu!
Ao anônimo das 18:31:
Concordo com você quanto ao fato de não estar presente em todas as situações de violação de direitos humanos, especialmente quando um cidadão tomba em razão da violência urbana. Acontece que isso não significa que apoiemos os que tiram a vida de pais e mães de famílias, de jovens e de trabalhadores.
Se não estamos em todas as situações, é porque, caro anônimo, somos poucos para dar conta da grande demanda. Nosso trabalho é voluntário, não raro sacrificando o convívio familiar para estar perto daqueles que precisam de ajuda. Para você ter uma idéia, quando assumimos a Comissão de DH na Ordem, criamos algumas coordenações em alguns pólos, como o oeste paraense e sudeste paraense. Aqui temos o trabalho da Dra. Celina Hamoy, que cuida do tema criança e adolescente. Em Altamira a Dra. Élcia, em Marabá Dr. José Batista. Mas isso não é sufiente, precisamos de mais voluntários, que estejam dispostos a sacrificar o lazer e até o trabalho remunerado pela causa dos direitos humanos e isso não é fácil não – são profissionais que têm família e contas a pagar.
É muito fácil criticar, ser estilingue. O difícil é arregaçar as mangas e ir a luta para transformar a realidade, trabalhar (de graça) para tornar a sociedade mais justa e solidária.
Hoje, além da Seccional, trabalho na Comissão Nacional de Direitos Humanos, com demandas de todos os estados da federação e pelo menos uma vez por mês desloco-me num final de semana a trabalho. Como quem está na chuva á pra se molhar, também coordeno o combate ao trabalho escravo e por conta disso preciso atender uma demanda enorme, pois isso não acontece só aqui no Pará. São Paulo tem trabalho escravo com a exploração dos estrangeiros ilegais em suas confecções de roupas, o sul tem trabalho escravo nos canaviais...e por aí vai.
Sei, Sr. Anônimo, que tudo isso pode não interessar-lhe, mas é importante que pessoas como o senhor saibam como é extenuante a rotina dos defensores de direitos humanos e como sofremos quando nos deparamos com as tragédias provocadas pela violência. Toda vez que deparo com esses fatos, minha vontade é estar perto daquela mãe, daquele pai, irmão, irmã, filhos, pegando na mão de cada um, confortando-os. Sofro por não poder levar o conforto a todos que precisam.
Provavelmente o senhor volte a desferir críticas e as encaro com serenidade, pois a defesa dos direitos humanos implica em tentar ver, em cada rosto um irmão. Essa é a minha proposta de vida.
Grata.
Mary
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