Nenhuma fotografia, por melhor que seja, pode traduzir o que é o Círio de Belém. Quantas não foram as vezes que ouvi falar desta que é a maior demonstração de fé nacional... Mas nada se compara à "experiência" do Círio.
Estar no meio daquela multidão, a maioria de pés desnudos, corpos colados formando um só ser, é uma vivência inesquecível, daquelas para levar por toda a vida.
O Círio, confesso, não foi a motivação inicial da visita que fizemos ao Pará no último ano.. Foi um motivo bem terreno, a comida, que nos levou ao topo do Brasil, este pedaço tão desconhecido pelos brasileiros de outros cantos.
Apesar de parecerem dissociadas uma da outra, a festa do Círio e a alimentação estão intimamente ligadas, para a nossa imensa sorte! Não há oportunidade melhor, como pude descobrir lá, para conhecer tais comidas do que na festa de Nossa Senhora de Nazaré.
Toda a viagem foi planejada de maneira a se enfronhar na tão aludida comida paraense, rica por sua diversidade, sua autenticidade e sabor incomparável. Sabe a quê? Ah... Para essa pergunta há apenas uma resposta: vá e prove. Nenhuma comparação é suficientemente fiel.
E o que era apenas uma pesquisa para compor minha monografia de conclusão de curso virou quase uma vivência antropológica. A comida, associada a quase todas as situações - da vida à morte, é também uma das figuras centrais do Círio.
Enquanto a maniçoba ferve no fogão, para se livrar de todo o seu veneno, na rua ferve também a fé católica, capaz de carregar uma corda de grosso calibre sob o calor escaldante e úmido de Belém. Tentativa de se livrar do veneno humano e do pecado original incutido em nossas mentes desde sempre? Talvez. Aliado, é claro, ao desejo de agradecer as graças alcançadas, à casa comprada, à saúde recuperada. Mas que não se ignore um certo sentido de festa pagã implícito à data. E desde que o mundo é mundo, há as relíquias - e o comércio delas. Não faltam os que se gabam de colher um pedaço da corda, à custa de um canivete bem afiado, nem que seja apenas para exibir seu pedaço do "troféu". Gracejo juvenil, quase sempre. Não importa. Nada estraga a beleza desta festa, nem que para isso recorra-se à face mais romântica inerente nesta que é a demonstração mais humana que já presenciei.
E no que concerne à alimentação, não só a maniçoba faz a festa do Círio. À mesa, farta, fartíssima, não faltam o pato ao tucupi. E mais a farofa, simples e deliciosa. E por que não um arroz paraense? E mais aquela infinidade de sobremesas: os deliciosos sorvetes de sabores regionais - do açaí ao cupuaçu, passando pela tapioca, as cocadas da sogra da mulher do irmão...
É, em Belém é assim. O sentido de família ainda há. E nada teria valido a pena não fosse o contato com uma família verdadeiramente paraense. Porque a festa do Círio só existe porque existe o encontro, o encontro da família que se abre - como não? - a forasteiros... A uns bandeirantes curiosos, ávidos pela cultura do Círio e pelo afeto!
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JANAINA FIDALGO, é repórter da editoria de Gastronomia da “Folha de S.Paulo”.
Estar no meio daquela multidão, a maioria de pés desnudos, corpos colados formando um só ser, é uma vivência inesquecível, daquelas para levar por toda a vida.
O Círio, confesso, não foi a motivação inicial da visita que fizemos ao Pará no último ano.. Foi um motivo bem terreno, a comida, que nos levou ao topo do Brasil, este pedaço tão desconhecido pelos brasileiros de outros cantos.
Apesar de parecerem dissociadas uma da outra, a festa do Círio e a alimentação estão intimamente ligadas, para a nossa imensa sorte! Não há oportunidade melhor, como pude descobrir lá, para conhecer tais comidas do que na festa de Nossa Senhora de Nazaré.
Toda a viagem foi planejada de maneira a se enfronhar na tão aludida comida paraense, rica por sua diversidade, sua autenticidade e sabor incomparável. Sabe a quê? Ah... Para essa pergunta há apenas uma resposta: vá e prove. Nenhuma comparação é suficientemente fiel.
E o que era apenas uma pesquisa para compor minha monografia de conclusão de curso virou quase uma vivência antropológica. A comida, associada a quase todas as situações - da vida à morte, é também uma das figuras centrais do Círio.
Enquanto a maniçoba ferve no fogão, para se livrar de todo o seu veneno, na rua ferve também a fé católica, capaz de carregar uma corda de grosso calibre sob o calor escaldante e úmido de Belém. Tentativa de se livrar do veneno humano e do pecado original incutido em nossas mentes desde sempre? Talvez. Aliado, é claro, ao desejo de agradecer as graças alcançadas, à casa comprada, à saúde recuperada. Mas que não se ignore um certo sentido de festa pagã implícito à data. E desde que o mundo é mundo, há as relíquias - e o comércio delas. Não faltam os que se gabam de colher um pedaço da corda, à custa de um canivete bem afiado, nem que seja apenas para exibir seu pedaço do "troféu". Gracejo juvenil, quase sempre. Não importa. Nada estraga a beleza desta festa, nem que para isso recorra-se à face mais romântica inerente nesta que é a demonstração mais humana que já presenciei.
E no que concerne à alimentação, não só a maniçoba faz a festa do Círio. À mesa, farta, fartíssima, não faltam o pato ao tucupi. E mais a farofa, simples e deliciosa. E por que não um arroz paraense? E mais aquela infinidade de sobremesas: os deliciosos sorvetes de sabores regionais - do açaí ao cupuaçu, passando pela tapioca, as cocadas da sogra da mulher do irmão...
É, em Belém é assim. O sentido de família ainda há. E nada teria valido a pena não fosse o contato com uma família verdadeiramente paraense. Porque a festa do Círio só existe porque existe o encontro, o encontro da família que se abre - como não? - a forasteiros... A uns bandeirantes curiosos, ávidos pela cultura do Círio e pelo afeto!
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JANAINA FIDALGO, é repórter da editoria de Gastronomia da “Folha de S.Paulo”.
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