domingo, 6 de abril de 2008

Na FOLHA DE S.PAULO:

Natural do departamento de Arauca, o ex-guerrilheiro das Farc Ronald, 26, passou metade de sua vida alçado em armas contra o governo, que aprendeu a odiar na infância devido aos abusos do Exército. Há alguma semanas, repetindo uma decisão já tomada por mais de 8.000 guerrilheiros (estima-se que haja outros 8.000 combatendo), ele se entregou a esse mesmo Exército por meio do programa de desmobilização criado pelo governo Uribe.
Havia pouco, Ronald integrava a frente 10 das Farc. Com cerca de 1.200 homens, atua na tumultuada e estratégica fronteira com a Venezuela, uma imensa e pouco povoada planície. É do país vizinho, diz, que chega parte das armas e do apoio logístico da guerrilha. E é ali também que ocorrem os seqüestros mais lucrativos.
O presidente Hugo Chávez nega que a guerrilha colombiana seqüestre na Venezuela, mas Ronald diz que, em 2000, o governo venezuelano pagou à frente 10 para deixar de capturar do outro lado da fronteira. O acordo foi desfeito porque a prática não parou: ele diz que, nessa mesma época, fazia a segurança de um cativeiro na Colômbia de seis seqüestrados vindos da Venezuela.
Ronald revela uma atuação quase livre das Farc no país vizinho. Até o comandante da frente 10, Germán Briceño Suárez, o "Granobles", estaria morando na Venezuela, de onde comanda seus homens.
O desertor tampouco guarda boas memórias do Exército colombiano. Segundo ele, muitos de seus companheiros foram mortos depois de capturados - cita o próprio irmão. E diz que tanto militares colombianos quanto venezuelanos vendem armas para a guerrilha.
Atualmente, Ronald vive num albergue na zona sul de Bogotá junto com cerca de outros 30 ex-guerrilheiros das Farc e do ELN (Exército de Libertação Nacional) e seus familiares. Há uma semana, sua companheira deu à luz gêmeas, que nasceram prematuramente e estão hospitalizadas.
A ampla casa, num bairro de classe média, é limpa e bem conservada. O casal vive num quarto com banheiro privado e divide as outras dependências com demais desmobilizados. Ali, comem, têm atendimento médico e psicológico e, principalmente, planejam o futuro.

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