Para o Espaço Aberto, 1808, do jornalista Laurentino Gomes, lançado pela editora Planeta, é o livro do ano. Não é à toa que se tornou um best-seller. Já vendeu mais de 200 mil exemplares, um colosso neste Brasil que pouco lê.
O livro reconstitui a aventura da corte portuguesa na colônia, iniciada no final de 1807 - quando dom João VI fugiu de Portugal para escapar da razia que Napoleão fazia na Europa -, a chegada ao Brasil em 1808 e a permanência aqui até 1821, quando foi obrigado pelos portugueses a voltar de armas (quase nenhuma) e bagagens (bem poucas, em relação às que trouxe na vinda).
O livro é uma delícia porque Laurentino o escreveu no estilo de uma grande reportagem. Apresenta curiosidades, detalhes sobre os costumes (como o de comer com as mãos, por exemplo), expõe sem retoques a corte perdulária de dom João e descreve tipos, tudo isso numa linguagem que ganha força nos próprios fatos.
1808 mostra um Brasil rendido - de pernas e braços abertos - ao império britânico. Mostra uma corte desbragadamente gastadora, que se fez acompanhar por um número calculado de 10 mil a 15 mil pessoas na aventura marítima de Portugal até o Brasil. Uma corte que pagava o equivalente, hoje, a R$ 14 mil a um padre apenas para ouvir a rainha em confissão.
Revela como teve início a cooptação da Imprensa pelo poder na figura de Hipólito José da Costa, fundador do Correio Braziliense - prmeiro jornal brasileiro, editado em Londres - e de início independente, mas depois condescente quando passou a ser subsidiado por dom João VI. Foi tão condescendente que a partir de 1812 foi destinatário de uma pensão anual em troca de críticas mais amenas ao rei. Tão amigo do poder Hipólito se tornou que o imperador Pedro I o nomearia mais tarde agente diplomático do Brasil em Londres.
1808 traça o perfil de um rei inseguro, tímido, feio, glutão, que carregava nos bolsos pedaços de frango desossado para devorá-los durante as merendas do dia. Um rei totalmente relaxado com o vestuário, o que obrigava seus camareiros a remendarem as peças rasgadas ou puídas que ele se recusava a trocar. Um rei que tinha pavor de trovões e relâmpagos e, nos passeios da tarde, aliviava-se do excesso de comida no estômago como podia, para isso valendo-se da ajuda de serviçais que o encobriam de olhares indiscretos em espaços públicos. Mas 1808 faz justiça a dom João como um rei que teve o mérito de literalmente construir um País e, mais do que isso, esboçar um projeto de Nação. Para tanto, foi essencial que garantisse a integridade territorial do País.
Ler 1808 é fundamental para que se compreenda o Brasil de 2007. E o de 2008, que começa amanhã.
O livro reconstitui a aventura da corte portuguesa na colônia, iniciada no final de 1807 - quando dom João VI fugiu de Portugal para escapar da razia que Napoleão fazia na Europa -, a chegada ao Brasil em 1808 e a permanência aqui até 1821, quando foi obrigado pelos portugueses a voltar de armas (quase nenhuma) e bagagens (bem poucas, em relação às que trouxe na vinda).
O livro é uma delícia porque Laurentino o escreveu no estilo de uma grande reportagem. Apresenta curiosidades, detalhes sobre os costumes (como o de comer com as mãos, por exemplo), expõe sem retoques a corte perdulária de dom João e descreve tipos, tudo isso numa linguagem que ganha força nos próprios fatos.
1808 mostra um Brasil rendido - de pernas e braços abertos - ao império britânico. Mostra uma corte desbragadamente gastadora, que se fez acompanhar por um número calculado de 10 mil a 15 mil pessoas na aventura marítima de Portugal até o Brasil. Uma corte que pagava o equivalente, hoje, a R$ 14 mil a um padre apenas para ouvir a rainha em confissão.
Revela como teve início a cooptação da Imprensa pelo poder na figura de Hipólito José da Costa, fundador do Correio Braziliense - prmeiro jornal brasileiro, editado em Londres - e de início independente, mas depois condescente quando passou a ser subsidiado por dom João VI. Foi tão condescendente que a partir de 1812 foi destinatário de uma pensão anual em troca de críticas mais amenas ao rei. Tão amigo do poder Hipólito se tornou que o imperador Pedro I o nomearia mais tarde agente diplomático do Brasil em Londres.
1808 traça o perfil de um rei inseguro, tímido, feio, glutão, que carregava nos bolsos pedaços de frango desossado para devorá-los durante as merendas do dia. Um rei totalmente relaxado com o vestuário, o que obrigava seus camareiros a remendarem as peças rasgadas ou puídas que ele se recusava a trocar. Um rei que tinha pavor de trovões e relâmpagos e, nos passeios da tarde, aliviava-se do excesso de comida no estômago como podia, para isso valendo-se da ajuda de serviçais que o encobriam de olhares indiscretos em espaços públicos. Mas 1808 faz justiça a dom João como um rei que teve o mérito de literalmente construir um País e, mais do que isso, esboçar um projeto de Nação. Para tanto, foi essencial que garantisse a integridade territorial do País.
Ler 1808 é fundamental para que se compreenda o Brasil de 2007. E o de 2008, que começa amanhã.
2 comentários:
Realmente o livro é muito bom e o Laurentino Gomes está de parabéns. Para quem não sabe, vale lembrar que o autor já morou em Belém nos anos 80. Foi quando chegou por essas bandas vindo do Paraná para ser correspondente da revista Veja na região. Chegou e fez um belo trabalho e muitas amizades. Se enturmou com os colegas jornalistas daqui, participando inclusive daquelas famosas festas de confraternização do Sindicato dos Jornalistas e a "thurma" da redação do Liberal que ia até o amanhecer com muita birita, brincadeira e conversa boa que não acabava mais.
Antonio Fernando
Acabo de ler o livro e considero que ele não é mais do que uma anedota sobre portugueses, contada à maneira do Brasil.
O drama está em que uma coisa é escrever livros de anedotas e outra, bem diferente, é trabalhar sobre História.
Este livro, feito nuns meses, tenta reescrever a História e põe na lama todo o trabalho de investigação feitos historiadores probos, durante os últimos 200 anos.
Usando as regras clássicas do sensacionalismo jornalistico («como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil») o 1808 deixa mal a imagem do jornalismo brasileiro, ainda muito enquistado a traumatismos que muitos não conseguiram ultrapassar.
Mas, de outro lado, deixa um enorme desafio aos intelectuais em geral e aos historiadadores em particular.
Ele é, afinal, um excelente ponto de partida para um debate sobre essa interessantíssima fase histórica, que não pode deixar de fazer-ser.
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