domingo, 10 de maio de 2020

O Covid-19, esse político que não está sujeito a leis, pega no contrapé seu adversário Helder Barbalho

O governador Helder Barbalho recebe respiradores chineses na segunda-feira (9) (foto Marco Santos/Agência Pará)
Vivemos tempos estranhos – muito estranhos, se vocês quiserem.
Estes são tempos em que um vírus – invisível, por óbvio – torna refém de sua letalidade o mundo inteiro. Literalmente o mundo inteiro, repita-se.
A rigor, o mundo inteiro deveria estar escondido, abrigado em casa, por causa desse vírus. Mas não está, infelizmente. Por isso é que as mortes avançam de forma avassaladora.
Nestes tempos estranhos, o Brasil se excede nas estranhezas que exibe.
Aqui no Brasil, conseguimos, por arte e magia de nossas habilidades, politizar esse vírus.
Conseguimos atribuir-lhe, acredite, até filiação partidária. Conseguimos, conforme nossas preferências, tornar o Covid-19 bolsonarista, petista, esquerdista, comunista, emedebista ou tucano – não necessariamente nessa ordem.
Pois essa pandemia está escancarando de forma clamorosa, para todos os governantes, a capacidade que eles devem ter de conciliar as premências ditadas pela necessidade de salvar vidas com as conveniências políticas que eles, os governantes, são tentados a satisfazer mesmo neste contexto trágico em que vivemos.
O caso dos respiradores chineses adquiridos pelo governo do estado, mas que não funcionam, representam à perfeição os atropelos legais que podem ocorrer quando as conveniências políticas colidem com os trilhos legais impostos à Administração Pública, em qualquer âmbito.
Na segunda-feira (4), chegaram a Belém 152 dos 400 respiradores. Alguns foram destinados ao interior. O governador Helder Barbalho foi pessoalmente recepcionar a carga. No site da Agência, em matéria que você pode ler neste link, ele disse o seguinte.



Essa foi a primeira comemoração.
Na quarta-feira (6), a Sespa encarregou-se de fazer a segunda comemoração, divulgando um vídeo em que mostrava, no Twitter (veja a postagem abaixo), um dos respiradores sendo usado em um paciente em tratamento de Covid-19 no hospital de campanha montado no complexo do Hangar, em Belém.


Eis o governo Helder Barbalho atendendo à conveniência política de festejar, instantaneamente, a operosidade de seu governo em melhorar a estrutura do sistema de saúde para melhor atender os pacientes acometidos da Covid-10.
Retirados os respiradores das embalagens, constatou-se, no entanto, que eles não funcionavam, ao contrário do que dissera efusivamente o próprio governo Helder Barbalho.
A Sespa, então, excluiu a postagem acima, começaram a vazar para as redes sociais imagens em que internautas anônimos mostravam a inutilidade dos aparelhos e agora, neste sábado (9), o governador Helder Barbalho usou suas redes sociais para dar essas explicações a que você vê pode assistir abaixo.


Viu?
Temos aí o governador Helder Barbalho rendido às imposições legais diante de uma situação objetiva: de um lado, a necessidade de reverter, de forma urgente urgentíssima, um problema técnico que, a persistir, prejudicará o atendimento a milhares de pessoas acometidas de Covid-19, e de outro a necessidade de resolver um problema gravíssimo de ordem legal, diante do volume de recursos, nada menos de R$ 50 milhões, despendidos sem processo licitatório para adquirir equipamentos que se revelam imprestáveis.
O MPF já enviou recomendação ao estado requisitando mais transparência tanto nos dados de contágio pelo novo coronavírus quanto nas operações de compra e aquisição feitas pelo governo paraense com recursos federais, mas não foi atendido e se retirou do comitê que analisava esses documentos, pela demora no envio de dados e ausência de documentos importantes.
Com bom político, o Covid-19 também tem seus interesses, sendo o maior deles devastar vidas. E tem uma grande vantagem: não está subordinado a qualquer lei.
Com bons políticos, governantes precisam enfrentar esse adversário, mas estão condenados a trilhar os limites legais.
Sem isso, não teremos nada a comemorar.
Nem os paraenses, privados de um sistema público de saúde que os atenda adequadamente.
Nem o governo Helder Barbalho, privado das condições de demonstrar que seus esforços para salvar vidas foram realmente eficazes.
Enfim, caberá ao MPF, ao MPPA e à PF investigarem se as boas intenções de salvar vidas colidiram, ou não, com as exigências legais a que estão, inapelavelmente, subjugados os gestores públicos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Será a legalidade, política ou incompetência de quem as comprou, não necessariamente incompetência do Helder, que nada deve entender desses equipamentos, mas dos que o especificaram.

Será que os que realizaram a pesquisa e especificaram, em plena pressão política e social, sabiam o que estavam fazendo ou, noutro prisma, os que auxiliaram essas pessoas (possivelmente empresas fornecedoras) estavam com boas intenções com a sociedade?

Tudo isso é um caso a se pensar.. então, vamos deixar às autoridades competentes.