segunda-feira, 11 de junho de 2012

... E se não houvesse o golpe de Vargas?


Foi um tiro de canhão na ditadura. O caso de Getúlio Vargas. O ano, 1945! O mês, fevereiro! Uma entrevista marcou o fim de oito anos de censura à Imprensa e enfraqueceu o já combalido Estado Novo. O "Correio da Manhã" lança em sua edição do dia 22 a entrevista que seria considerada o início da retomada da liberdade de imprensa, duramente controlada pelo temido Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). O onipresente "Grande Irmão" do Estado Novo de Vargas, comandado por Lourival Fontes era considerado o super-ministério que vasculhava (e censurava) toda e qualquer produção cultural e intelectual do País desde sua fundação em 1937.
Contudo, mais do que romper o silêncio conferido pela censura do Estado, a entrevista concedida por José Américo de Almeida, político, escritor paraibano, afastado do poder por decisão própria, abriu caminho para que, meses depois, acontecesse a derrubada do regime ditatorial imposto pelo próprio Vargas, em 10 de novembro de 1937.
Pergunta pertinente: Como seria... Se não houvesse a revolução de 1930? Para bem e para mal, Vargas, digamos assim, inventou o Brasil. Ele adotou um modelo de industrialização baseado em estatais "estratégicas" e protecionismo às empresas nacionais. Depois da Revolução de 30. Quem defendia uma economia liberal passou a ser chamada de "entreguista". Surgiam assistência social, medicina pública, e direitos trabalhistas.
Tudo começou em um golpe que prometia democracia. Em 1929, Vargas foi candidato à presidência, mas perdeu para o paulista Júlio Prestes. Como era comum na República Velha, as eleições incluíam uma parcela mínima da população e muitas fraudes. A genética política do nosso País é podre. Vargas acabou "eleito", mesmo assim, por um golpe militar, em 24 de outubro de 1930. Seu governo "provisório" duraria até 1945.
Com ou sem Vargas, a República Velha agonizava. Os militares ensaiavam golpes desde 1922, com a revolta dos 18 do Forte, em Copacabana. A crise em 1929 lançou um desafio imenso a uma economia baseada só na exportação do café. Medidas ousadas do governo ditatorial de Vargas, como a proibição do plantio de café, seriam muito difíceis de serem aprovadas num regime representativo.
Se a revolução de 1930 não acontecesse, as coisas seriam distintas, mas nem tanto. Tema dos tenentes de 22, a reforma eleitoral viria, transformando a democracia de fachada da República Velha em democracia plena. A ditadura de 1964, que nasceu da divisão da sociedade entre esquerda e direita, talvez não ocorresse. Teríamos um país mais democrático, menos nacionalista e com alguns direitos mais relativos.
A exploração do petróleo seria feita por multinacionais - como é desde 1995, parcialmente, sob concessão. Mais concorrência significa combustível mais barato - e mais contribuição ao aquecimento global. O carnaval seria bem diferente. O samba passou a ser patrulhado. As letras se tornaram nacionalistas. Instrumentos tidos por "estrangeiros", como saxofone e trombone foram proibidos em sambas-enredo. Sem Vargas, o samba seria parecido com a axé music: um som híbrido, influenciado pelo pop e pelo rock. E bem mais comercial. O custo menor para empregar significaria que teríamos mais multinacionais interessados em nossa mão de obra.
Viva a democracia. A política seria bem mais civilizada - e também mais chata. Discursos incendiários e demonização da oposição se tornaram tradições brasileiras durante os anos Vargas e 1964. Teríamos dois campos bem definidos, de partidos de esquerda e direita - e não o centrão indefinido e personalista que ainda ganha a maioria dos votos.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Sergio,

O programa dos tenentes produziu a revolução de 30. Sem ela, que foi a "vencedora da história", haveria uma derrota das plataformas que acabaram vitoriosas. Logo, acho que aquela plataforma viria mas de forma muito mais torta, mal-feita, ajambrada, desconexa e descompactada.
A divisão entre esquerda e direita talvez fosse mais pesada, com o PCB e não o PTB liderando o pólo vermelho. Talvez tivessemos mcartihismo e o golpe precipitado e mais sangue já que parcelas do empresariado não teriam sido ganhas para a agenda trabalhista. O samba virou comercial, nos anos 90.