segunda-feira, 13 de junho de 2011

Corrupção e jogo sujo


Dia desses, acompanhando um programa televisivo, percebi que o entrevistado, o jornalista britânico Andrew Jennings, afirmou categoricamente que o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e seu “mentor” João Havelange, ex-presidente da FIFA, admitiram à justiça suíça ter recebido generosa propina da ISL, a companhia que cuidava do marketing do futebol nos anos 1990. Só Teixeira teria embolsado 9 milhões de dólares entre 1992 e 1997. Essa informação baseia-se em um processo que tramitava na Justiça suíça e foi encerrado em abril último, após um acordo.
Segundo a rede britânica BBC, Teixeira e Havelange aceitaram devolver o dinheiro em troca de não ter seus nomes revelados. Mas a BBC atrapalhou seus planos. E o caso não deve morrer aí. O jornalista suíço Jean François Tanda pediu ao promotor responsável pelo caso a abertura oficial de inquérito, mas advogados da Fifa têm conseguido impedir o acesso aos autos.
Diante de tantos fatos que começaram a vir à tona, a Fifa pode ser expulsa da Suíça? Pois é, o Parlamento suíço entende que a Fifa precisa ser mais transparente. Situação difícil de entender e explicar. Fala-se que a federação de futebol tem seis meses para apresentar mudanças. Caso contrário, estará “livre para deixar o país”. Pergunta pertinente: Qual país aceitaria a Fifa e seus métodos?
O futebol da bandalheira, sim, é uma verdadeira tragicomédia, como revelou recentemente no Parlamento inglês, Lorde Triesman, ex-presidente da Federação Britânica de Futebol. Segundo Triesman, o paraguaio Nicolas Leoz, o chefão do futebol sul-americano, recebeu da ISL 730 mil dólares em cinco parcelas, pediu um título de nobreza como o dele; o delegado da Tailândia expressou o desejo de ser premiado com os direitos de um jogo amistoso contra a Inglaterra. Já Jack Waner, de Trinidad e Tobago, solicitou dinheiro explicitamente para sua “herança”, enquanto Teixeira teria dito a Triesman: “Lula não tem nenhum valor, você deve falar comigo, venha visitar-me e me diga o que você pode me dar”. Teixeira nega a acusação.
Um projeto costurado pelo próprio dono do jogo, nos meses que antecederam a eleição, o suíço distribuiu 140 milhões de dólares aos seus eleitores. De nada adiantou o movimento rebelde liderado pela Associação Inglesa de Futebol, na tentativa de adiar as eleições da Fifa, afundada no maior escândalo de corrupção de sua história. Há 13 anos no comando da federação que controla os destinos do futebol mundial, Joseph Blatter foi reeleito, enaltecendo o velho princípio bolchevique de que não há virtude fora de seu colegiado. Só a agremiação sabe o que é melhor, digamos, para o povo.
Na eleição de quarta-feira, no dia 1º deste mês, Blatter, candidato único, recebeu 186 votos de apoio, de um total de 203 federações votantes. Ricardo Teixeira, presidente da CBF, enredado na rede de corrupção da FIFA, não esperou a contagem dos votos para abandonar o congresso. Optou pela saída à francesa e fugiu dos repórteres. Não era preciso esperar para saber que seu histórico aliado se manteria no cargo sem dificuldades.
Todos sabem, e não é de agora, que Havelange fez “escola”, foi professor de Teixeira e Blatter. A Fifa, para ensaiar ser transparente e tratar de conseguir passar uma imagem de neutralidade, precisa se reformular e se reinventar. A alternância no poder é uma delas. É inconcebível um dirigente ficar mais que oito anos no poder. Chega de corrupção e jogo sujo.

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SERGIO BARRA é medico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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