quarta-feira, 29 de junho de 2011

A tela fria da internet


A comunicação na era da internet veio para ficar. Nunca a humanidade esteve tão próxima. O mundo virtual é uma teia que não para de gerar novas conexões. Atalhos. Vias expressas. Em todas as direções do planeta. Caminhos mil, capazes de quebrar distâncias e protocolos. Excelente ferramenta! Todavia, existem pelo menos três limitações ou aspectos negativos dessa rede virtual.
A internet é pobre de alma. A tela do computador tem séria limitação em passar emoções. Diria mesmo que representa um desafio entre emissor e receptor. Embora sua leitura física tenha a nitidez da alta tecnologia, a mensagem pode ser gravemente comprometida em seu conteúdo de verdade. Comprometida pelo veículo, sinônimo de conhecimento avançado, sinônimo de retrocesso.
Quanto à transmissão de nosso mundo emocional, a internet perde para o mais rude telefone. Ela não consegue às vezes fazer diferença entre sussurro e grito. Pedido e ordem. Conselho e autoritarismo. Por isso, para não confundir o receptor, às vezes precisamos grafar nossas emoções com uma linguagem própria desse mundo frio. Então, surgem os rrss e os risíveis kkk.
Quantas vezes você já foi mal interpretado? Escreveu: “Faça isto para mim!”, com a alma cheia de paz e candura. Porém, a leitura instantânea mostrou só as palavras. Quem acessou o e-mail viu em seu pedido um grito de ordem. Leu: “Faça isto para mim! Faça agora. Faça porque estou mandando. É seu dever. Faça!”
É interessante que a velocidade da internet não consiga carregar a emoção do emissor. De tão rápido, abandona-a no ato de “Enviar”. E, não carregando essa importante bagagem informativa, a leitura será feita exclusivamente pela ótica do receptor. Este, ao contrário da mensagem, é todo alma ao ler a palavra. Então, é grande a possibilidade de sermos mal compreendidos.
Mas, paradoxalmente, esse deserto emocional revela a alma de muitos. A internet expôs o caráter de muita gente que estava anônima. E, incrivelmente, consegue fazer isso com perfeição. É assim que na rede virtual, valendo-se da ausência física e do caráter anônimo ou semianônimo da postagem, muitas pessoas aproveitam para revelar o que de fato são. Sem meias-palavras e, como dissemos, superando a falha de comunicação acima tratada, pessoas há que xingam, escrevem obscenidades, ofendem a dignidade de quem mal conhecem. Fico impressionado!
Quem lida com a internet deve estar preparado para toda sorte de ataque. Deve saber que a rede virtual é um espaço onde valores são confrontados sem dó. O mundo não está afeto a muita coisa que antes considerávamos erradas. Há um exército oculto preparado a tentar destruir quem passar pela frente. Gente que só existe na internet, um tipo de subproduto desse mal necessário.
A internet não respeita nada. Este é o último ponto. Não respeita horários, dia, noite, condição de saúde, descanso, férias. Nada. E quem mergulha nessa teia tecnológica vai precisar adotar algumas regras, se quiser ter um pouco de paz. Para isto, precisará lidar com a internet quanto ferramenta. Indaga-se: precisamos utilizar toda hora nossos instrumentos de trabalho? Resposta: não. Portanto, precisaremos disciplinar o uso da internet. E isto digo para adultos.
Segundo a sapiência bíblica, há tempo para tudo. Logo, há tempo também para o acesso à rede. Tempo de enviar e-mails, tempo de recebê-los. Tempo de perguntar, tempo de responder. Tempo de ler notícias, tempo de esquecer notícias. Tempo de navegar. Tempo de atracar o barco.

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RUI RAIOL é escritor
www.ruiraiol.com.br

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