segunda-feira, 20 de junho de 2011
Os prodígios do transformismo
Ao demitir Antônio Palocci da Casa Civil na terça-feira, 7 deste mês, e nomear a senadora paranaense Gleisi Hoffmann, estreante na vida parlamentar de Brasília, não carrega "passivos" e tornara-se o grande destaque da bancada petista no Congresso nesses primeiros meses de mandato, a presidente Dilma Rousseff parece disposta a retomar a iniciativa política e imprimir sua marca na Corte. A presidente parece também ter entendido outro ponto. Ela precisa se tornar o Lula de si própria.
A demissão do ministro Palocci desvela os prodígios do transformismo dos donos do poder. Entre mortos, afogados e defenestrados sobrevive impávida a estrutura do poder real. A presidente deve precaver-se. Mas é que o PMDB quer ter mais poderes do que já tem. A saída de Palocci voltou a estimular o partido a cobrar o suposto direito de "sócio" que não existe em alianças políticas. Assim ocorre com a coalizão eleitoral entre PT/PMDB e outros partidos menores, em torno da candidatura vitoriosa que levou Dilma à Presidência da República.
As lideranças do PMDB falam que está na hora de fazer um redesenho da articulação política do governo. O senador alagoano Renan Calheiros, um dos mais influentes quadros do partido afirmou categoricamente que: "O PMDB quer e vai participar". "Agora, a presidente vai estabelecer um novo desenho do governo", concordou, em outro momento, o senador José Sarney sem o ímpeto de Calheiros. Nesse cenário não há coadjuvantes, só artistas. Esse discurso tem uma tradução: o PMDB quer tornar Dilma sua refém.
É um vício instintivo desse velho e incômodo aliado. Sem condições de construir uma candidatura majoritária própria para chegar ao poder alia-se com quem pode. Fez isso também no governo tucano de Fernando Henrique. Sem a voracidade de agora. Isso se traduz em um combate com o PT pelas posições mais importantes na máquina administrativa do governo.
Contudo, o que deveria ser normal numa aliança política bem-sucedida na eleição de 2010 vira, para o PMDB, um combate decisivo. Assim, ele irriga a horta da qual se nutre: tem a maior bancada do Senado e a segunda maior na Câmara, onde, pela primeira vez, o PT fez maioria. Sem o PMDB, a presidente teria enorme dificuldade em governar.
Ademais, esta é uma situação bastante confortável e se tornou de dupla utilidade, ou seja, "dois em um", o gabinete do vice-presidente peemedebista, Michel Temer: ora é "gabinete de conciliação", quando o interlocutor é o peemedebista Romero Jucá, líder do governo no Senado, ora é "gabinete de conspiração", quando o diálogo é com o Henrique Alves, líder do PMDB na Câmara.
Há uma rebelião no PMDB. Pois é, a reação, ainda verbal, surgiu com a escolha da senadora Gleisi pelo fato da presidente não ter se consultado com Temer. Ele soube meia hora antes, reclamam. Um privilégio, na verdade, diante da decisão praticamente solitária de Dilma. Aliás, digamos, a presidente tem enfrentado com dificuldade a fúria desse dragão.
Ah, a cúpula peemedebista se reuniu quarta-feira 8, no Palácio do Jaburu, residência de Temer. Estavam lá, entre outros, os já citados Sarney e Renan, além de Romero Jucá, Henrique Alves e o reaparecido Eduardo Cunha. Este na lista de reunião com Temer remete aos primeiros dias de governo. À época, Dilma, em nome da probidade, desafiou os peemedebistas e acabou com a influência de Cunha em Furnas, um dos pomares onde o PMDB comia do fruto proibido.
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SERGIO BARRA é médico e professor
E-mail: sergiobarra9@gmail.com
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