segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Algumas situações-limite


Até meados do primeiro semestre, existiu a possibilidade da oposição fazer frente à candidata Dilma Rousseff imposta por Nosso Guia. Ser a ungida de Lula parece confortável e compensa todas as dificuldades. José Serra, candidato tucano à Presidência, desperdiçou uma vantagem inicial que tinha e que não tem mais. Na medida em que o tempo foi se encurtando e se aproxima o dia do sufrágio, o que se vê é a oposição sem programa consistente e sem densidade política. Serra é o único responsável pela irresponsabilidade a que submeteu seus pares. Serra cometeu erros, alguns infantis, e Dilma não pode ser subestimada.
O candidato tucano demorou demais para confirmar a candidatura. E a escolha do vice foi desastrosa. Indio da Costa como vice-presidente do Brasil? Aliás, Álvaro Dias teria sido bem melhor, tem experiência, com certeza teria sido um candidato com força no Sul do país. Ademais, a escolha de Dilma também não foi ótima. Michel Temer, embora com larga experiência, representa o antigo. O PMDB, agora, se vê em uma encruzilhada sobre as informações de que tanto o PT quanto o PSDB estariam se articulando para neutralizar a força política presumida do partido num futuro governo Dilma. É que essas movimentações são uma constatação de que o PMDB será uma força real no futuro governo.
Por outro viés, claro que ainda existem no PT facções e grupos nostálgicos do marxismo-leninismo, mas não são a maioria. Já pararam para pensar? Na verdade, no campo ideológico você tende a uma convergência. A política econômica do governo Lula, com o passar dos anos, é cada vez mais social-democrata, no sentido europeu. Portanto, hoje em dia, o PT e o PSDB se sobrepõem ideologicamente.
Para tentar mudar o resultado da eleição, que até agora aponta Dilma como provável vencedora já no primeiro turno, a tendência é que a oposição busque desesperadamente o que chama de "fato novo". Este é o único produto que está no imaginário e em alta na campanha tucana no momento. Com o "fato novo" procura-se avidamente um acontecimento que, usado calculadamente, poderia causar impacto suficientemente forte para mudar o rumo da eleição, ou que, pelo menos, teria força para frear Dilma e manter a chance de levar Serra ao segundo turno. Marina Silva daria um empurrãozinho?
Chama a atenção pergunta surgida na internet do ex-prefeito carioca Cesar Maia, protetor de Indio da Costa, candidato a vice na chapa de Serra: "Drew Westen dizia, dois meses antes das eleições de 2008 nos EUA, que Obama precisava criar um fato novo. A quebra do Lehman Brothers encarregou-se disso. Aqui, isso não deve ocorrer. Então, o quê?”
Maia é o introdutor do factoide no cenário brasileiro. Mas factoide não é uma mentira. É um fato inexistente até ser usado com sensacionalismo, como ato de manipulação política. Factoide é uma criação do jornalista e escritor norte-americano Norman Mailer, que deu esse sentido à expressão. Factoides são os únicos recursos existentes no arsenal da oposição brasileira na campanha eleitoral. A força do factoide não está no fato em si, mas na forma com que é usado. Agora, reapareceu o episódio da quebra do sigilo fiscal de várias pessoas, entre elas pessoas ligadas ao candidato da oposição. É um fato grave, sim. Que a polícia Federal apure e os culpados sejam condenados de acordo com a lei.
Ah! Mas antes que esse fato tome forma, me deixe contar uma piada em forma de charada, que recolhi de uma revista de circulação nacional.
Pergunta: O que é uma serra com um índio, numa marina verde, ao lado de uma mulher sendo levantada por uma lula?
Resposta: Uma anedota política no limite da legislação.
Sei que não é engraçada, quem sabe espirituosa, mas é o que temos até outubro.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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