terça-feira, 21 de setembro de 2010

Responsabilidade é do eleitor, conseqüências são para todos


Votar deveria ser a porta de saída de uma situação indesejada para chegar a uma capaz de realizar cada vez mais o enorme potencial do país em benefício de todos os brasileiros. Neste ano, mais uma vez exerceremos a livre escolha para presidente, governador, deputados e senador. Sobre a mesa, para guiá-la, vários fatos e critérios visitando a consciência individual e coletiva.
São fatos e critérios que sempre vem à tona a toda hora na mídia, em conjuntura eleitoral, apresentando-se na forma direta ou indireta. Em conexão com isso, tem crescido no eleitor o sentimento de estabelecer rédeas curtas aos candidatos através de um rigoroso sistema de fiscalização, no curso do mandato. Pois a regra geral, em momento pré-eleitoral, tem sido os candidatos se aproximarem do eleitor de modo intenso. Mas, uma vez eleitos, fogem do eleitor como o diabo foge da cruz, diria a expressão popular.
A bem da verdade, a responsabilidade inicial pela qualidade dos que serão eleitos no vindouro três de outubro é de cada eleitor e eleitora. A responsabilidade para retroceder ou avançar é, decisivamente, nossa e tem consequências para todos. De outro ângulo, os que forem eleitos devem ter consciência da responsabilidade que assumirão nos anos de exercício de mandato perante as necessidades da sociedade. Por isso tudo, na qualidade de eleitores, devemos avaliar, sem preconceitos ou discriminação de qualquer natureza, se escolheremos o que pode está dando certo e pode evoluir para aperfeiçoar as políticas públicas em geral ou apostar em outra coisa.
Sempre convém lançar um olhar retrospectivo sobre o ato de votar a fim de captar as consequências que dele pode advir. Certo é que, na qualidade de eleitores, não somos inocentes e os eleitos não são responsáveis exclusivos pelas mazelas sociais e políticas que costumamos criticar com grande facilidade e veemência. Sob esse ângulo, portanto, somos todos responsáveis e não estamos às cegas. Stanislaw Ponte Preta talvez tivesse razão quando disse que a consciência é como vesícula, a gente só se preocupa com ela quando dói.
O voto deveria ser parte da agenda positiva de cada cidadão, apto a reconhecer avanços indicadores à diminuição das desigualdades sócio-regionais e continuar a promover a higiene ampla, geral e irrestrita no quadro da qualidade de nossos representantes. Portanto, nestas eleições, a preocupação central deveria ser a qualidade da escolha que fazemos na busca de referências probas. Dessa perspectiva, duas frentes importantes e complementares poderiam ser identificadas como dimensões qualitativas: não vender o voto e escolher candidatos com conduta pessoal e pública ilibada, provada, tanto no discurso quanto na prática.
Por conseguinte, o exercício do mandato não é para aqueles que utilizam os cargos públicos como sinecuras, fazendo dele uma ação entre amigos, parentes e credores, fato que debilita a confiança na democracia.
Em meio a esse cenário - lógica de homens de espírito público escasso -, é atualíssima a apreciação do grande Ruy Barbosa ao afirmar que “... de tanto ver agigantar-se os poderes nas mãos de maus, o homem chega a desanimar da virtude, rir-se da honra e tem vergonha de ser honesto”. A nosso ver, votar neles ou nos seus office boys é como comer veneno: faz mal. Em face disso, torna-se razoável impedir o retorno à cena política de candidatos que traíram de algum modo a nossa confiança.
Finalmente, não podemos deixar de mencionar que a saída para o aperfeiçoamento do Estado Democrático de Direito continua sendo a necessidade permanente de levar a sério o voto que digitamos e confirmamos na urna eletrônica, pois essa e muitas outras questões requerem um voto responsável.

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STAEL SENA LIMA é pós-graduado em Direito pela UFPA

2 comentários:

Artur Dias disse...

Para mim, o eleitor é um ente genérico demais para ter debitada em sua conta a responsabilidade sobre a eleição de pessoas corruptas e incompetentes. Nem o fato de se viver numa sociedade considerada mais "avançada", mais "politizada" garante a eleição de políticos confiáveis, imagine aqui, onde a "onda" carrega os eleitores mais facilmente... Penso que toda crítica deve se dirigir primeiramente às elites, aquelas parcelas da sociedade que têm conteúdo intelectual suficiente para modificar as instituições e tendências na sociedade. Pensemos por exemplo na imprensa: depois de transformar a informação em mercadoria, agora tem sérias dificuldades para convencer as pessoas de que a corrupção nos altos escalões do Governo Federal tem sua raiz na própria concepção de poder do PT. O problema não está em ter uma opção ideológica, mas sim em trabalhar com fatos de maneira a mostrá-los em sua coerência lógica.
Podemos atacar a mentalidade imperante, denunciada por Ruy Barbosa, mas oferecer uma solução moral, apelando à consciência individual, dilui a responsabilidade em relação às questões políticas. Não existe apenas o problema da escolha do candidato; parece-me haver, antes, um problema de "criatividade", em diversos níveis sociais e políticos. Quero dizer, se o cidadão comum absorve o pensamento mesquinho e imediatista da política, porque não pode desenvolver também uma mente libertária, pensando a renovação da política em aspectos muito mais abrangentes que os de uma eleição? Um abração pra ti, Stael!

Anônimo disse...

Obrigado amigo Artur,
Sua crítica é bem-vinda, assim avançamos.
Stael