terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Vamos deixar Belém parar?

FRANCISCO SIDOU

O caos estabelecido no "Complexo do Entroncamento" está provocando, diariamente, congestionamentos colossais na entrada/saída da cidade, além do estresse motivado pelos buzinaços, sem falar nos prejuízos materiais decorrentes de atrasos nos transportes coletivos, de cargas e particulares. Até no "Fantástico" já saiu, no domingo, para todo o país, aquele "gargalo do Entroncamento" como um dos "pontos negros" do trânsito em todo o Brasil.
Para aquele entorno infernal convergem todas as mazelas de um sistema viário que é o retrato sem retoque da falta de planejamento urbano de uma cidade à beira do caos. As ruas de uma metrópole são como as veias do corpo humano: quando elas entopem provocam o colapso e, às vezes, a morte do organismo vivo.
O "Complexo do Caos" revela, além do irritante engessamento do tráfego, uma síntese de obras inadequadas, verdadeiros monumentos ao desperdício do dinheiro público, que são aquelas horrendas e inúteis passarelas que os pedestres não usam e o monumento à Cabanagem, que ninguém visita. Com os recursos desperdiçados naquelas obras cosméticas teria sido construído ali o anel viário, que daria vazão contínua ao tráfego no local, um projeto belíssimo do arquiteto Alcyr Meira, que dorme em algum escaninho da burocracia estatal. Os túneis construídos no local custaram mais caro que o projeto do anel viário e não resolveram o problema daquele gargalo infernal. Ao contrário, as rotatórias e o binário apenas têm contribuído para aumentar a balbúrdia na entrada/saída da cidade.
Os congestionamentos nos principais corredores de tráfego da cidade estão provocando danos inestimáveis não só de ordem material, mas também à saúde de sua população. A agressividade no trânsito engessado tem provocado discussões, brigas e até mortes por motivos banais.
Belém está se transformando numa metrópole do barulho e do caos. O agente da lei, quando comparece, é para multar, nunca para orientar ou tentar colocar ordem no trânsito conturbado e feroz.
Com o ingresso diário, em média de 80 novos veículos, circulando pelas mesmas e obstruídas vias , a cidade está parando, confirmando, aliás, a previsão dos técnicos da JICA, que, na década de 80, elaboraram completo Plano Diretor de Tráfego Urbano, que visava dotar Belém de um sistema viário moderno e compatível com sua vocação de metrópole da Amazônia.
Das obras viárias então planejadas, a única que está sendo agora construída, 25 anos depois, é o trevo de quatro pétalas da Júlio César com Pedro Álvares Cabral, que o governo do Estado anuncia como "o maior projeto viário da história do Pará, que vai transformar a Região metropolitana de Belém, garantindo organização, agilidade e segurança no trânsito, beneficiando diretamente mais de 2 milhões de pessoas ".
Em recente artigo em "O LIBERAL", o assessor de comunicação do Projeto Ação Metrópole, Edyr Gaya , otimista como devem ser os assessores do governo, chegou a "profetizar" que, finalmente, "Vamos sair do gargalo", com aquela obra, com o prolongamento da Avenida Independência e construção de 19 km de ciclovias. Com apenas essas obras não sairemos do gargalo, caro Edyr. É alvissareiro o fato de sairmos do imobilismo de mais de duas décadas de atraso, em termos de planejamento urbano e execução de obras viárias já consideradas inadiáveis na década de 80 pelo PDTU dos japoneses. Mas não precisa ser japonês nem técnico para avaliar que só essas duas obras do Projeto Ação Metrópole não vão evitar o colapso iminente da cidade, com a "fadiga" de suas vias entupidas e falência múltipla de seu sistema viário.
Essa falência, sim, é uma herança maldita de vários agentes públicos, que apenas contemplaram o "espetáculo do crescimento" dos problemas do trânsito da cidade , por falta de gestão competente e de visão de futuro, que diferencia estadistas de meros políticos de carreira.

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“Belém está se transformando numa metrópole do barulho e do caos. O agente da lei, quando comparece, é para multar, nunca para orientar ou tentar colocar ordem no trânsito conturbado e feroz.”
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Se os seis ou sete prefeitos que se revezaram no "Palácio Antônio Lemos", desde a década de 80, tivessem cada um realizado uma das obras viárias previstas no PDTU original da JICA, Belém hoje seria uma metrópole moderna. Certamente também não teríamos perdido para Manaus o título de metrópole da Amazônia. Nem a subsede da Copa do Mundo... Nos bastidores da Fifa, comenta-se que Belém perdeu não para Manaus, mas para o seu sistema viário ultrapassado e caótico. É revelador desse atraso o fato de estarmos convivendo com sinais de quatro tempos, cocadas baianas e "tartarugas" como balizadores de trânsito, enquanto em Manaus se constrói a linha do metrô de superfície....
Para Belém não parar de vez, confirmando a terrível profecia técnica (com precisão cirúrgica) dos japoneses, seria de todo urgente e inadiável:
* A construção de elevados por cima dos túneis do Entroncamento, com a demolição das passarelas e do monumento à Cabanagem.
* Deslocamento da estação rodoviária de São Brás para a Avenida Independência , no entorno do Aeroporto.
* Construção do anel viário em São Brás, mesmo que fosse necessária a demolição daquele horrendo "Chapéu do Barata ", que virou fumódromo de maconha.
* Terminais de Integração em São Brás (no local da atual estação rodoviária) e na Praça Waldemar Henrique.
* Redução de, pelo menos, 50% dos ônibus que circulam no eixo Ver-o-Peso/Presidente Vargas .
* Vias expressas para ônibus nos principais corredores de tráfego .
* Extensão da Avenida João Paulo II (1º de Dezembro) pelo menos até a Alça Viária.
* Prioridade para o transporte coletivo mediante a modernização da atual frota de ônibus, em sua maioria já "rodados" uns cinco anos no Rio de Janeiro, antes de vir para Belém.
* Tarifa diferenciada em ônibus especiais para estimular os donos de carros particulares a usarem o transporte coletivo.
* Criação de novos corredores de tráfego, com o prolongamento das avenidas Pedro Miranda e Senador Lemos até a Av. Júlio César.
O Projeto Ação Metrópole tem o mérito de quebrar o imobilismo de duas décadas de omissões e de iniciativas desastradas e empíricas como aquele viaduto meia-sola e os túneis do Entroncamento, que só fizeram multiplicar os congestionamentos na entrada/saída da cidade.
Sendo 2010 um ano eleitoral, quem sabe algumas dessas novas obras ainda poderão ser incluídas no PAC da Mobilidade? Afinal, a governadora anunciou, logo após a perda da Copa para Manaus, que o presidente Lula garantiu que as obras previstas para Belém seriam todas realizadas. Serão?

O melhor presente para Belém
Dentre os presentes e afagos de que Belém precisa, em seu aniversário, certamente o mais reclamado pela nossa bela cidade, além de um trânsito mais civilizado, é um pouco mais de carinho de alguns filhos ingratos que insistem em jogar lixo nos bueiros, nos canais e nas ruas; que teimam em estacionar em cima das calçadas; que não respeitam as faixas de pedestres; que estão acabando com os quintais e áreas verdes da cidade; que não sabem retribuir com amor o afeto que se encerra em seu seio gentil e generoso, em seus cheiros e sabores.
Mas há controvérsias. No último sábado, durante o programa "Jogo Aberto", na "Rádio Tabajara", em enquete feita nas ruas da cidade pelo intrépido repórter Mário Filé, a propósito dos 394 anos da cidade, indagados sobre qual o melhor presente para Belém, os ouvintes, em sua grande maioria, responderam objetiva e francamente: um novo prefeito! Faz sentido.

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FRANCISCO SIDOU é jornalista
chicosidou@bol.com.br

6 comentários:

Anônimo disse...

Respondendo ao título do excelente artigo do jornalista Sidou: se depender de nós, não; se depender do Prefeito D Costa, já parou.

J.BOSCO disse...

Meu amigo Sidou, muita gente grande patrocina esse caos, pra depois faturar com promessas.
A cidade está descaracterizada de ponta a ponta.Figura novamente na lista das quatro cidades mais miseráveis do Brasil.
Cadê os EDITORIAIS que denunciavam???
abs

Francisco Sidou disse...

Grande Bosco,
Você tem razão, aliás, quase sempre você tem, pincipalmente quando retrata com maestria,poesia e arte, o abandono em que se encontra nossa tão amada cidade. Os poderosos não querem perder seus privilégios, notadamente os donos de ônibus, que não aceitam qualquer alteração nesse caótico e neurótico sistema de transportes de Belém. Os ouvintes da "Tabajara" estão cobertos de razão: falta principalmente um prefeito para Belém.

Anônimo disse...

Não concordo com o Sidou, nem com o Bosco.
Belém tem um prefeito, sim. Não dá para negar.
Se é um especialista em planejamento urbano (e nem precisdaria ser se tivesse uma boas assessorias ou um efetivo compromisso com o povo)ou se é um "brilhante" oftalmologista do passado a questão é outra.
Como diz a sabedoria popular, "quem tem pena do miserável acaba ficando no lugar dele". Vai ver que o Dudu, de tanto curar a vista dos seus incautos pacientes, acabou cego. Tadinho dele. Ou de nós belenenses que estamos "pagando a fava que o boi comeu".
Para resolver a questão, fica uma idéia: Que tal o Sidou para Secretário de Urbanismo? ...
Não cai nessa não Sidou. Lembra do que dizia a vovó? "antes só do que mal acompanhado".Ou ainda "diz-me com quem andas que te direi quem és", ou., se preferir, "afasta-te dos vermes para que não sejas um deles".

Sérgio Pinto disse...

Caro Sidou, parabens pela postagem. Penso que já está mais do que na hora de nós, cidadãos, que queremos o melhor para nossa cidade nos mobilizarmos para mudarmos essa realidade. Contribuições como esta sua de levantar com clareza de argumentos o problema do trânsito de Belém que antes de tudo é está relacionada a ausência de planejamento urbano, são bastante estimulantes. Penso que precisamos ser mais proativos nesse desafio, que não é tarefa fácil, e aí me incluo. Não dá pra esperar mais. Paulo, perdoe-me dar pitaco no seu blog mas que tal fazer desse um tema recorrente em seu blog? Vou tentar postar comentário no blog da Ana Júlia que mais do que blogueira é Governadora e, é lógico, pode fazer muito mais do tão somente que debater o problema.

Anônimo disse...

O Sérgio Pinto ,pelo visto, está podendo, pois tem acesso ao blog da governadora. Será que ela também aceita críticas, Sérgio ? Ou será que o seu "politburro" censura também as postagens ? Não seria o caso de iniciar o debate que você propõe a partir deste artigo (excelente e com propostas de soluções) do jornalista Francisco Sidou , que você poderia encaminhar à Governadora ( se é que ela lê o próprio blog...) Paulo, parabéns pelo nível de seu Blog , que conta com colaboradores da estirpe do Sidou, que não conheço pessoalmente, mas que se firma a cada novo artigo como um jornalista antenado com a cidadania e com os problemas da cidade.