sábado, 16 de janeiro de 2010

No Idesp, uma história de chutes, mangas e escorpiões

Olhem aqui: não tenham dúvidas.
Não tenham a menor dúvida.
A saída do pesquisador Peter Mann de Toledo (na foto, da Agência Pará) do Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará (Idesp) é o epílogo de uma história que envolve dissimulações políticas, inversão de prioridades e a prevalência de interesses político-eleitorais sobre todo e qualquer interesse, sobre todo e qualquer bom-senso.
A capacidade técnica, a excelência acadêmica e a respeitabilidade como administrador público de Toledo dispensam maiores apresentações.
Tais qualidades ficaram amplamente demonstradas quando ele dirigiu o Museu Goeldi.
Foram reafirmadas quando, na qualidade de chefe de Gabinete da diretoria do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), trouxe a instituição para Belém.
Foram reforçadas quando o governo do Estado – sim, o governo da Sua Excelência Ana Júlia de Vasconcelos Carepa – foi atrás de Toledo, com loas e festas para convencê-lo a aceitar a missão de reestruturar o Idesp, depois que o Instituto foi recriado em julho de 2007, para entrar em atividade em janeiro de 2008.

Depois das loas, o chute. Pra fora.
Eis que, dois anos depois de reconhecidas essas qualidades, Peter foi chutado.
Não para dentro do gol.
Foi chutado pra fora.
Foi descartado como se descarta a manga que, depois de chupada, é atirada no lixo.
A reestruturação do Idesp, que deram como missão a Peter Toledo, teve como pano de fundo um órgão com um orçamento ridículo, com absoluta certeza bem menor, muito menor, várias vezes menor que o Pará Território da Juventude, aquele, vocês sabem, cujo orçamento deu um salto fenomenal, espetacular e espetaculoso de R$ 2,4 milhões para R$ 16 milhões, tão espetacular como o da Casa Civil, que saltou de míseros (hehehe) R$ 30 milhões para mais de R$ 67 milhões.

A espera do que não veio
Peter – juntamente com o Idesp - esperou o concurso, que não veio.
Peter – com o Idesp – esperou uma sede condigna para abrigar o Instituto. Esse projeto parou no tapume – literalmente, aqueles tapumes do Palacete Faciola, o imóvel tombado pelo Patrimônio Histórico que fica ali na Avenida Nazaré com a Dr. Moraes e que o governo apenas começou a reformar para servir de sede ao Idesp.
Enfim, Peter e o Idesp estavam no caminho de firmar-se para alcançarem os objetivos que lhes foram propostos pelo governo Ana Júlia.
E aí?
E aí que Peter Mann de Toledo manteve a sua postura de técnico, de acadêmico.
A postura de um pesquisador independente, ainda que funcionalmente atrelado a objetivos supostamente traçados pelo governo a que pertencia.
E aí que não se juntou nem a grupos, nem a tendências.
E aí que, por isso e por tudo isso, passou à condição de descartável.
Ah, vocês dirão, mas todo cargo político e de confiança é descartável.
É sim.
Mas a forma como Peter Toledo foi descartado mostra a natureza dos que o descartaram.

Os escorpiões de terno e gravata
Lembram aquela historinha conhecida?
É aquela historinha da rã e do escorpião.
A rã ia atravessar a lagoa, e o escorpião pediu para que ela o levasse às costas, porque ele, tadinho, não sabia nadar.
- Mas você vai me picar e eu morro – diz a rãzinha, desconfiada.
O escorpião, lágrimas nos olhos, tanto implorou que ela se compadeceu e aceitou o pedido.
Quando iam chegando à outra margem, o escorpião picou na costa da rãzinha: créu.
- Puxa, e você me prometeu tanto que não me picaria – reclamou ela.
E o escorpião:
- É verdade. E eu não queria fazer isso. Mas, você sabe, é da minha natureza.
Pois a natureza dos escorpiões de terno e gravata é que tiraram Pete Mann de Toledo do Idesp.

A cronologia anuncia o descarte
Na segunda-feira passada, ele foi chamado pelo secretário de Governo, Edilson Rodrigues – aquele, vocês sabem, de quem o Émile Zola do governo Ana Júlia tem ódio no coração – e tomou conhecimento de que deveria colocar o cargo à disposição.
Na terça-feira, Toledo soube que seu substituto seria sabem quem?
O dr. José Raimundo Trindade, aquele, vocês sabem, que acha o nepotismo uma tremenda bobagem.
Pois essa Excelência é quem agora vai dirigir o Idesp.
Na última quinta-feira, circulou no Idesp a informação – confirmadíssima – de que desde a semana passada, lá pelos dias 6 ou 7, a Casa Civil do governo do Estado estava convocando algumas personalidades para, digamos, “rediscutirem o papel do Idesp”.
Toledo para foi convocado, foi chamado para integrar esse seletíssimo grupo?
Não.
Nunca foi.
Por quê?
Porque já estava certo que ele seria descartado.
“Rediscutir o papel do Idesp”.
Hehehe.
Sabe o que significa “rediscutir o papel do Idesp”?
Significa subordinar, significa relegar, significa rebaixar o Idesp às intenções, tentações e pretensões político-eleitorais do governo Ana Júlia.
Sobrou para quem?
Sobrou para Peter Mann de Toledo.
Sobrou para o Idesp, que perde até para o programa Pará Território da Juventude e caminha para o mesmo destino que teve a Coordenadoria de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (Cids), extinta no ano passado.
E sobrou – ah, sim – para o dr. José Raimundo Trindade.
Voilá, doutor Trindade.
Bem-vindo ao Idesp.
Se que é que ainda vai sobrar Idesp, é claro!
Céus!

4 comentários:

Anônimo disse...

Caro PB, esse governo não tem grandeza em nada. É uma convenção de medíocres e incompetentes que, festivamente, convidam grandes nomes para lhes dar credibilidade. Feito o H, esvaziam o projeto; se o incoveniente não pede para sair, eles pedem.
Algumas pessoas ficam no cargo, como o caso do Benatti no ITERPA, mas que possivelmente terá que explicar atos inexplicáveis em investigações futuras, favores que custarão caro a sua carreira.
O que esperar de uma medíocre que nem a Ana Julia, que nunca passou de "posto efetivo" no Banco do Brasil? É a típica de todo sindicalista: alpinismo político através do corporativismo sindical.
É isso.

Anônimo disse...

Lá vem a turma que gosta de achar chifre em cabeça de cavalo! Pergunte ao Peter se ele já não havia disponibilizado seu cargo no Idesp à alguns meses!?? Duvido que o Peter, com toda sua coerência, seriedade e profissionalismo negue que estava insatisfeito!!? Ele entregou o cargo e, depois de alguns meses seu pedido foi aceito. O Peter é um grande profissional e cumprio muito bem o seu papel em dar ao novo Idesp sua nova estrutura física e organização instituicional básica. Faltou apenas o concurso, coisa que ele lutou o quanto pode. Passando para o novo presidente a função ardua de conseguir finalmente a execução do concurso. Que todos esperamos se execute para a confirmação da nova instituição.

Anônimo disse...

Anônimo das 21:22,
Acho que vcs estão querendo encontrar uma desculpa para não encarar a realidade que vcs impuseram. O que a gente sabe era que em agosto ele pediu uma licença à governadora para cuidar de assuntos de saúde na família. Ele retornou em setembro e assumiu o seu trabalho normalmente. Foi inclusive com a Gov AJ para California e preparou extenso documento para que ela apresentasse em Copenhague. Só nao foi a COP15 pq estava sob tratamento médico. Isso é postura de alguem que está para sair?
Ele foi sim, enxotado do idesp - projeto que ele abraçou com muita garra.
Arranjem outra desculpa! esta não cola. O próprio Edilson assumiu na nossa frente na sexta que o motivo foi político. O Liberal já publicou a fala dele.

Anônimo disse...

Anônimo,

Na sua avaliaçao, porque Peter estaria insatisfeito com o Idesp? Não seria com o governo, que não lhe dava apoio algum? Para ter uma ideia, o atual Sec. da SEGOV, seu superior hierárquico nunca visitou o Idesp e não sabia nem o que estava sendo feito. Foi pego de surpresa com os quase 90 relatorios em cima da mesa, na sexta-feira – todos referentes às políticas de habitação, desenv. Econômico, social e ambiental do estado. Sem contar com uma versão do Atlas Econômico e Social do Pará com 800 páginas e o Banco de Dados aberto que já pode ser acessado na versão demo no site www. sie.pa.gov.br. Resta-nos saber se o novo presidente irá deixar as informações oficiais sobre a realidade do Pará, abertas e públicas. Não me admirarei se o site sair do ar...
Não me admiro de mais nada desse governo!