Cortes de 90% na Cids provocam demissão coletiva

No AMAZÔNIA:

A governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, foi surpreendida no final da tarde de ontem por uma carta com pedido de demissão coletiva entregue por todos os funcionários da Coordenadoria de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (Cids). A decisão do corpo funcional foi tomada depois que o governo determinou cortes de quase 90% do órgão. Dos 16 comissionados da Cids, apenas dois seriam mantidos pelo Estado, a secretária Nazaré Imbiriba e mais um assessor. O restante deveria ser exonerado.
Contrariada com a determinação, uma vez que em outros setores do governo o corte é de 20%, Imbiriba, numa primeira tentativa, propôs a demissão de 50% dos funcionários, o que não foi aceito por Ana Júlia. Não suportando a pressão, a secretária pediu, então, renúncia no início da tarde de ontem e comunicou a equipe. Em seguida, todos os funcionários decidiram, também, entregar seus lugares na Coordenadoria.
Aprovada pela Lei Estadual 7.023, de 24 de julho de 2007, e vinculada institucionalmente à Secretaria de Estado de Governo, a Cids atua com captação de recursos no exterior para serem aplicados em projetos de desenvolvimento sustentável no Estado. Com o dinheiro em caixa, as secretarias se encarregavam de executar os programas.
Em dois anos desde a criação do órgão, foram captados mais de 150% do previsto pelo orçamento estadual. Recentemente, a Cids fechou um contrato de compensação transfronteiriça de 1 milhão de euros para o programa PO Amazoni, entre o Pará, Amapá, Guiana e Suriname. Também estava em andamento a captação de 130 milhões de euros com uma organização italiana.
De acordo com alguns funcionários, que preferiram não se identificar, ao que parece o governo de Ana Júlia 'não se importou com a grandeza do papel da Cids para o Estado; parece que, para o governo, esse trabalho de captação de recursos não era importante, que a Cids não quer dizer nada para o Estado'. Pioneiro no Brasil, o modo de trabalho da coordenadoria previa novas parcerias internacionais, um trabalho, segundo os comissionados do órgão, que deve ser desenvolvido a médio e a longo prazo.
A carta de demissão coletiva foi protocolada no gabinete de Ana Júlia no final da tarde de ontem. Para o governo foi uma 'surpresa', lamenta a assessoria de Comunicação Social do Estado. Os trabalhos da Cids, afirma a assessoria, serão redistribuídos entre as outras secretarias do governo, e a coordenadoria reativada após 'a turbulência sofrida com a crise financeira mundial', motivo que vem provocando os cortes de funcionários públicos no Estado.