No AMAZÔNIA:
Os moradores do entorno da rua Coronel Juvêncio Sarmento, no distrito de Icoaraci, sofrem com a ocorrência de um crime ambiental. Foi despejado piche no igarapé do Livramento, que passa pela área. A origem do piche continua desconhecida, mas a população local desconfia que a irregularidade tenha sido praticada pelos trabalhadores da obra do Ação Metrópole, realizada em uma rua próxima a da comunidade. Ainda tomadas pelo piche, na manhã de ontem (19), as margens dos rios estavam negras e a água apresentava uma textura densa.
Morador da região afetada pela poluição, o ex-oleiro Raimundo Walter percebeu a presença do piche no igarapé na manhã da última segunda-feira, por volta das 11 horas. 'Nós não sabemos onde e por quem esse piche foi despejado, mas suspeitamos que os responsáveis pelo crime ambiental sejam os operários que pavimentam a 2 de dezembro', avaliou.
Raimundo mora há 23 anos no local e explica que o igarapé está cada vez mais sujo. Os problemas, de acordo com o aposentado, começaram quando a comunidade do Paracuri I começou a construir as habitações nas margens do igarapé. 'As pessoas fizeram do rio um esgoto, jogam todo tipo de lixo. Quando me mudei para cá, em 1968, podíamos nadar e capturar camarão na água. Hoje isso não é mais possível, ainda mais agora com esse piche todo despejado', disse Raimundo. De acordo com o morador, as garças que voavam por ali, desde ontem não aparecem mais.
A moradora Alessandra Santos acredita que o pior já passou, mas a quantidade de piche concentrada nas águas ainda é grande. 'Ontem o cheiro de querosene irritava as gargantas. Com a subida e descida da maré, os ribeirinhos podem ser afetados, pois o igarapé deságua na Baía do Guarajá e pode impactar a pesca deles', contou. 'Eu aprendi a nadar aqui nesse rio. Não podemos mais usufruir dele, pois ninguém respeita. Os mercados jogam sangue e pena de galinha pra cá, podemos pegar doenças. Entramos nessa água e a coceira aparece em minutos. Imagine o estrago ambiental que não deve causar o piche', argumentou Alessandra.
Ação Metrópole - A obra que atualmente é realizada em Icoaraci utiliza os recursos do Banco do Brasil. O intuito é pavimentar e revitalizar as rodovias a fim de melhorar a rede de transportes da Região Metropolitana de Belém (RMB). O projeto estaria orçado inicialmente em R$ 39,3 milhões apenas para a etapa da Arthur Bernardes. Conforme a divulgação na época de lançamento da Ação Metrópole, este trecho vai receber até o final do ano pista de rolamento com duas faixas, construção de uma nova ponte sobre o rio Paracuri, ciclovia, calçadas novas e baias de ônibus.
A denúncia foi verificada ainda na tarde de ontem pela Delegacia do Meio Ambiente (Dema), que já solicitou a perícia na área para saber a origem do piche. O que se sabe até agora, de acordo com o órgão, é que ele vazou na água por meio da tubulação. Não se descarta a hipótese de que a poluição seja produto de um serviço de infraestrutura mal feito na região. Contudo, o laudo com as informações definitivas apenas será divulgado na manhã de hoje (20).
Penalidade - A penalidade prevista para quem causa poluição de qualquer natureza que resultem em danos à saúde humana, morte de animais ou destruição significativa da flora vai de um a quatro anos de reclusão e multa, aplicação esta que pode ser reduzida para seis meses a um ano quando o infrator é julgado em regime culposo - isto é, quando o agente é responsável, mas não teria previsto as consequências do ato.
A Secretaria de Estado de Projetos Estratégicos (Sepe) foi procurada pela reportagem, mas até 22h de ontem não enviou resposta.
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