domingo, 17 de janeiro de 2010
Grécia: o mito e a atualidade
Num tempo longínquo para nós, o legado da Grécia para a civilização ocidental foi fundamental. Pois a Atenas original, polo de cultura da Grécia Clássica, é reconhecida como o berço da civilização ocidental, a mãe e protetora de gênios universais das artes plásticas, da literatura, da filosofia e da política.
A Hélade, território dos antigos gregos, abrangia desde o sul das Bálcãs até a ilha de Creta, todas as ilhas do Mar Egeu, do Mar Jônico, uma parte sul do Mar Mediterrâneo e as colônias espalhadas pela Europa, Ásia e África. Mas foi a Ilha de Creta, a maior do Egeu, seu primeiro pólo cultural. A civilização cretense floresceu entre 2000 e 1400 a.C., antes da chegada das tribos helênicas à região. Nesse período, Creta dominou o comércio marítimo no Mediterrâneo e estendeu sua influência à Grécia Continental.
A sociedade da ilha tem sido objeto de pesquisa de antropólogos e historiadores, especialmente no que diz respeito ao status da mulher. Segundo especialistas, a religião tinha como base o culto à Grande-Mãe, deusa da fertilidade, considerada a mãe de todos os seres vivos. A preponderância feminina na religião estaria associada a uma organização social semelhante ao sistema matriarcal.
No século XII a.C., a sociedade cretense foi subjugada pelos aqueus, tribos de origem indo-européia que se estabeleceram em Micenas e em outras cidades da Grécia Continental. Sob a hegemonia de Micenas, os aqueus também conquistaram a cidade de Tróia, na Ásia Menor, numa guerra que se estendeu por dez anos. Em meados do século VIII a.C., os episódios da guerra inspiraram uma obra-prima da literatura grega e mundial: o poema épico Ilíada (Tróia era chamada de Ílion), atribuído a Homero. Ele também é considerado o autor de outra obra-prima, Odisséia, que conta as aventuras do herói grego Odisseus (Ulisses) em seu retorno para casa, após a Guerra de Tróia.
Depois de alguns séculos, Atenas, hoje capital da Grécia, foi fundada pelos jônios no centro da planície da Ática, próximo ao Mar Egeu. Devido aos solos pouco férteis, a população voltou-se para o mar. Do porto do Pireu, próximo ao núcleo urbano, os atenienses desenvolveram o comércio no Mediterrâneo e abriram sua cidade às influências externas. Atenas conheceu formas de governo como a monarquia, a aristocracia, a oligarquia, a tirania e a democracia, e também desigualdades sociais e ásperos conflitos, mas soube desenvolver uma brilhante cultura e que a levou aos povos ocidentais.
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“Se a mitologia grega fosse reescrita pelos padrões da atualidade, o herói Hércules teria um 13º trabalho a cumprir.”
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Considerado um dos marcos da cultura grega, o pensamento filosófico e científico iniciou seu desenvolvimento no final da época arcaica e atingiu sua maior expressão no período clássico. No início do século V a.C., surgiram os sofistas, que negavam a existência de uma verdade absoluta e buscavam conhecimentos úteis para a vida por meio da retórica. O mais destacado dos sofistas foi Protágoras (c.480-410 a.C.), autor da frase: "O homem é a medida de todas as coisas".
Vieram a seguir os três principais filósofos gregos: Sócrates, Platão e Aristóteles. Nas ciências Ptolomeu, Eratóstenes, Euclides e Arquimedes. Na História, Heródoto de Halicarnasso e Tucídides. Os arquitetos, Ictinus e Calícrates. Um legado para cultuar.
Na atualidade, o peso da crise econômica atingiu além da Grécia, outros países europeus, que enfrentam o aumento da dívida pública. Agora, a Grécia tem uma dívida pública de 295 bilhões de euros que pesa sobre os gregos. Se a mitologia grega fosse reescrita pelos padrões da atualidade, o herói Hércules teria um 13º trabalho a cumprir. A tarefa seria sanear as finanças do berço da civilização ocidental.
A Grécia, como outras nações européias, amargou fortes perdas com a crise financeira. Mas o país sente acima de tudo o peso de seguidos governos populistas e corruptos, que arruinaram as contas públicas. Esqueceram o que lhe ensinaram os seus ancestrais. Quem não conhece a expressão: "Vida espartana", que se refere a uma existência dura, digna e austera? Elas expressam bem o espírito de Esparta, uma cidade fundada na Lacônia, na Península do Peloponeso.
O quadro é tão precário que o risco de moratória não foi descartado. Ademais, faz quatro anos que o sistema de saúde não paga um centavo aos seus fornecedores. A crise econômica na Grécia colaborou, na semana passada, para derrubar as bolsas de valores nos países emergentes. A origem do caos econômico grego, no entanto não deve ser atribuída exclusivamente à crise. Foi determinante o retrospecto de sucessivos governos ineptos, que incharam o estado e saquearam o dinheiro público.
O país tem pela frente um desafio hercúleo. Todavia, mais que um suposto castigo dos deuses, seu caso serve de alerta a países como o Brasil, cujos gastos da máquina pública aumentam a cada ano.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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Um comentário:
vc eh professor de que?
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