E se Duciomar for pra Pasárgada?

O artigo acima, Duciomar e a terceira via, assinado por Raul Meireles, merece ser lido com atenção.
Primeiro, porque aborda questões interessantes e claramente expostas, ainda que algumas delas discutíveis.
Bem discutíveis.
Segundo, porque Raul Meireles, além de advogado e presidente da Saaeb, é pessoa de extrema confiança do prefeito Duciomar Costa (PTB).
É seu articulador político.
É seu alter ego.
É pré-candidato a deputado federal pelo PTB, com o apoio direto, é claro, de Sua Excelência.
Enfim: Meireles não escreveria esse artigo se Duciomar não o autorizasse.
Quanto a isso, fiquem certos como dois e dois são quatro.
Fiquem certos como Raul Meireles se chama Raul Meireles e Duciomar Costa se chama Duciomar Costa.

Influência de Almir é superestimada
Mas o artigo, repita-se, é discutível em alguns pontos.
Realmente, Ana Júlia, Duciomar Costa, Jader Barbalho e Simão Jatene são os quatro maiores protagonistas das eleições são, respectivamente, a rainha e o rei – ou os reis – neste jogo de xadrez pré-eleitoral.
De fato, o PSDB está fragilizado.
Mas estará fragilizado porque “sua trajetória político-eleitoral está indelevelmente ligada à figura do ex-governador Almir Gabriel”, que Meireles classifica como “seu [do PSDB] criador no passado e algoz no presente”?
Nem tanto.
Almir está há quase oito anos sem um mandato eletivo.
Estava há quase quatro anos fora do Pará.
Chegou a passar por aqui na campanha para prefeito, em 2008.
Estava tão desgastado politicamente que seu apoio não fez a menor diferença para Valéria Pires Franco, a candidata a prefeito pelo DEM, partido que disputou a eleição aliado ao PSDB.
Durante todo esse tempo, quem de fato comandou o PSDB foi o ex-governador Simão Jatene. Não o fez, é claro, com a mão de ferro com que Jader comanda o PMDB, mas de qualquer forma foi a liderança mais presente e mais vistosa do partido.
Se Almir ainda tivesse influência no PSDB, se o PSDB fosse Almir e Almir o PSDB, então Jatene não teria sido consagrado como o pré-candidato do partido ao governo do Estado, com o apoio inclusive dos históricos (ex-almiristas) e contra a vontade de Almir.
Em resumo: Raul Meireles está superestimando a influência de Almir no PSDB, hoje praticamente nenhuma.

O PT está fechado com Ana Júlia
Mais uma coisa.
Quando Meireles diz que a maioria dos petistas – à exceção dos que integram a Democracia Socialista (DS), tendência da governadora – “não precisa necessariamente reelegê-la”, ele está querendo dizer que os petistas podem até fazer corpo mole para que Ana Júlia perca a eleição?
Se é isso, essa hipótese é remota – remotíssima.
Petistas são disciplinadíssimos.
Dão a vida – ou quase - pelo partido.
Hoje, é possível até que dez entre dez petistas tenham repulsa ao governo Ana Júlia, mas não há a menor possibilidade de que venham a fazer corpo mole para não a reeleger.

Duciomar é o mais tranquilo?
Mais uma coisa.
Diz Meireles: “O prefeito Duciomar, se olharmos pelo ângulo político-institucional, é o mais tranquilo”, porque ainda tem três anos de mandato e conta com “muitos recursos para investimento e com obras estruturantes em desenvolvimento”.
Hehehe.
Dr. Raul Meireles não pode estar falando sério.
A gestão Duciomar pode até contar com recursos.
Mas é inepta.
Não consegue, há mais de um ano, nem mesmo terminar uma calçada na Braz de Aguiar.
Uma simples calçada.
Numa extensão de mais ou menos 800 metros.
Os lojistas estão com ódio no coração.
Os moradores, idem.
Todo mundo.
Por que Duciomar seria o mais tranquilo?
Se ele se candidatar ao governo do Estado, terá condições de passar para o segundo turno?
Em que condições haverá de passar – se passar?
Se for candidato ao Senado, a estrutura do PTB, do PDT e do PR – que segundo Raul representariam cerca de um terço do eleitorado – seria suficiente para elegê-lo, num cenário que também tivesse como concorrentes Jader e Valéria, ambos muito bem colocados para o Senado, segundo as últimas aferições?
E mais: o dr. Raul Meireles não deve se esquecer que passou a pender sobre a cabeça de Duciomar uma espada de Dâmocles, configurada na sentença que, no final do ano passado, cassou-lhe o mandato.
E se o caso chegar ao TSE até o final deste ano?
E se o TSE cassar mesmo o mandato do prefeito?
Quem é capaz de dizer que não? Raul Meireles é capaz disso?

Gerson pedirá altíssimo
Outra coisa.
Raul Meireles raciocina como plenamente possível o bloco PTB/PR/PDT agregar o PP de Gerson Peres, atualmente integrante do governo Ana Júlia, bastando que, para isso, Duciomar ofereça ao deputado os “vários espaços” de que ainda dispõe no governo municipal.
Realmente, isso é possível.
Mas Gerson vai pedir uma contrapartida política altíssima para deixar o governo Ana Júlia.
E ponha altíssima nisso.

E se Duciomar for pra Pasárgada?
Termina Raul assim:

“A meu juízo, neste último cenário. Duciomar é candidato ao governo e comandará um segundo palanque para a ministra Dilma Rousseff no Pará.”

Perfeito.
Isso é possível, sim.
Mas é uma coisa é certa.
Duciomar não se elege governador deste Estado.
Isso é tão certo como Raul Meireles se chama Raul Meireles.
Mais essa aposta do blog é hoje, diz 16 de janeiro de 2010.
Não estamos falando de cenários?
Pois é.
Hoje, a aposta é esta: Duciomar não se elege governador.
Amanhã, no entanto, com outro cenário, o prefeito pode se eleger até rei de Pasárgada.
Aliás, que bom se Duciomar se eleger rei de Pasárgada, não é?
Ele iria embora pra lá e nós ficaríamos aqui, numa boa.
E Pasárgada veria o que é bom ter um prefeito como Duciomar.
Veria o que é bom...!