domingo, 18 de outubro de 2009

Será realmente verdade?


Queria saber, de verdade, se algumas pessoas acreditam piamente que livros de autoajuda, de pensamentos positivos e sentimentos, dependendo de sua qualidade, criam um campo energético que vibra numa determinada frequência e atrai energia e vibrações semelhantes. Será que a humanidade está focada no desânimo, no medo, na falta de sorte? Será que iremos atrair acontecimentos que vibram na mesma energia desses sentimentos? Por outro lado, se procurarmos manter a alegria, a confiança, o otimismo e a gratidão pelo que já temos de bom, irá atrair uma realidade que vibra nessa frequência.
Desde algum tempo, venho buscando e tentando entender a moral da chamada Lei da atração, que segundo seus seguidores era um conhecimento restrito, que passava entre grupos de iniciados. Agora, com as recentes descobertas da ciência que comprovam o quanto a realidade física pode ser afetada pela realidade não-física (pensamentos e sentimentos), a Lei da atração está sendo divulgada amplamente, podendo alcançar a todos. Será?
A grande maioria desses seguidores exibe em seu final uma exemplar e sábia lição. Esse processo nos leva a entender que tudo é provável e verossímil, basta que consigamos compreender e manter a vibração positiva de nossos pensamentos e sentimentos, poderemos transformar a nossa vida. É fundamental e precisa ficar claro que seus adeptos acham que essa lei da atração está agindo a todo o momento, e o que precisamos fazer é usá-la em nosso proveito. Pergunta pertinente: Mas como colocar em prática esse conhecimento que parece encantador, nos dando a sensação de ilusionismo?
Será que não chega de pensamento positivo? Em revista de circulação nacional, um grupo de pesquisadores canadenses demonstra que ele até dá resultado. Só há um problema: é o resultado oposto.
O pensamento positivo faz o cidadão se sentir melhor - e ele acaba por produzir mais, conquistar seu objetivo, viver melhor. Não há dúvida que o pensamento pode dar certo para muita gente, mas não beneficia nem mesmo muitas pessoas que tenham o chamado pensamento positivo.
Há que se notar que tecer elogio a si próprio dá resultado. Desventuradamente, não é o resultado esperado. As palavras açucaradas, ditas em voz alta até beneficiam, modestamente, quem já apresentava autoestima elevada. Mas pioraram bastante a autoimagem de quem mais precisava de uma forcinha. Quem tinha autoestima reduzida, saiu ainda muito pior. Não é que o pensamento positivo baixe a autoestima em geral, mas ele pode prejudicar alguns indivíduos - de cara, aqueles que já têm baixa autoestima.
Nota-se que a baixa autoestima é um problema crescente hoje - e parece preceder a um transtorno emocional denominado de depressão nos seus mais variados graus. Mas isso evidencia a inexistência de soluções mágicas e as limitações da autoajuda. Os especialistas do pensamento positivo, como era de se esperar, discordam.
Só "viajar" não resolve nada. Absolutamente nada. Não é como difundiu por aí "O Segredo", que é só pensar e o dinheiro cai do espaço. Para quem não lembra, "O Segredo" é um documentário-livro-audiolivro que foi gravado no Brasil em 2006 e foi sucesso de venda. Ele tenta fundamentar cientificamente o poder do pensamento positivo. Para aqueles que acreditam nesse documentário, esse poder se basearia numa suposta Lei da Atração. Por essa lei, pensar num acontecimento contribuiria para sua ocorrência.
O imaginário, portanto, é que tenhamos uma autoestima condizente com nossas capacidades. Ou um pouco acima, para nos incentivar a progredir. Contudo, no mundo de hoje, padrões inatingíveis de estética e sucesso podem levar a pessoa mediana a desenvolver uma noção de fracasso. Muitas pessoas com baixa autoestima significam mais gente propensa a tentar o pensamento positivo. Mas lembre-se: não vai dar certo.
Em poucas palavras, para o filósofo Emmanuel Kant, além do mundo da experiência, há um mundo de coisas incognoscíveis; e, além do imperativo categórico da vontade humana, existem os postulados da razão prática.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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