terça-feira, 13 de outubro de 2009

Puty fala: “Fato notório é o que dispensa a controvérsia”

O chefe da Casa Civil do governo do Estado, Cláudio Puty (na foto da Agência Pará), remeteu ao blog considerações a respeito de comentários aqui expendidos sobre entrevista que ele concedeu ao blog Perereca da Vizinha, da jornalista Ana Célia Pinheiro.
Abaixo, as considerações do secretário e, em seguida, alguns comentários do blog sobre elas:

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Tenho muito respeito e admiração pelo seu trabalho, mas permita que eu faça os necessários reparos em seu post.

1. Ocupo a chefia da Casa Civil do governo do Pará, cargo que, por definição legal, é de livre nomeação e exoneração e, como tal, não sou “notoriamente” pré-candidato. Muito menos ao governo do Estado, como você, certamente por equívoco, assinalou. Tenho, entre minhas atribuições, a de ser o articulador político do governo. Como você mesmo reconhece, sou um servidor que procura desempenhar bem o seu papel.
Declarei na entrevista à Ana Célia que não há nada certo em relação a uma possível candidatura a deputado. Você contrapõe e afirma que oito entre dez petistas, dez entre dez deputados da base aliada dizem que sou pré-candidato, mesmo admitindo que amanhã as coisas podem mudar. Quem são esses petistas e aliados?
Por que você prefere acreditar em quem sequer assume a própria identidade?
Paulo, fato notório é aquele sobre o qual é dispensável a controvérsia, o que não é o caso. E você, que tem formação em Direito, bem o sabe.
Reitero que me limito às minhas obrigações funcionais.
Em 2010, obedecidas todas as disposições da lei, se for para contribuir com a reeleição da governadora Ana Júlia Carepa e somar ao meu partido, esse quadro pode mudar.

2. Gostaria de discutir o mérito da questão. Não parece ser exclusividade do governo do Estado do Pará a existência de secretários com pretensões eleitorais - diga-se de passagem, legítimas e legais. Sobre o tema, recomendo a leitura do blog “Assuntos Candentes” (http://www.assuntoscandentes.blogspot.com), que fez uma pesquisa e “descobriu” algo que é a regra, e não a exceção, desde sempre em governos: secretários e secretárias fazem política, e podem ser candidatos.

3. Você contradiz minha declaração de que não é difícil a convivência do PT com o PMDB. Mas o próprio link de seu post confirma o que digo, em palavras textuais do deputado federal Jader Barbalho: “A vida é um permanente contraditório, seja nos grupos, seja nas famílias, seja nas empresas e muito mais na vida política”. Ele completa, ainda: “Não devemos perder tempo com besteira. Isso só pode ser coisa de desocupado. Vamos ajudar [a governadora]. O que o povo quer é trabalho, e não fofoca”.
Eu estava no jantar das lideranças partidárias oferecido à ministra Dilma no último sábado, véspera do Círio. As demonstrações de apoio à continuidade do projeto do presidente Lula para o Brasil são a prova de que, não obstante tensões menores inerentes à disputa política, a boa convivência PT-PMDB é um fato.

4. Sobre a tendência interna do PT Democracia Socialista, reitero que é uma abstração atribuir à DS a composição do “núcleo de governo”, como se um fórum interno do PT tivesse escolhido tal núcleo. Na verdade, o comando do governo é da própria governadora, que escolheu pessoas, de sua confiança política e pessoal, para auxiliá-la nessa tarefa. Qualquer um com o mínimo de contato com o governo sabe disso. E nem poderia ser diferente, já que a governadora Ana Júlia foi eleita pelo povo paraense, numa ampla coligação partidária.

5. Quanto à professora Bila Gallo, reafirmo que saiu do governo porque assim o quis. No que tange aos kits da Seduc, como você mesmo informa, quem decidirá é o Judiciário, pois, ao contrário do que figura no post, não há uma sentença judicial. O que existe é uma ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal.
Agradeço a acolhida desses esclarecimentos em seu muito lido blog. Você tem meu celular. Estou à disposição.

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Do Espaço Aberto:

Sobre o item 1
O blog reitera ao secretário e aos leitores o pedido de desculpas pelo equívoco cometido na postagem de ontem. Onde se lia “pré-candidato ao governo do Estado”, leia-se, evidentemente, pré-candidato a deputado federal. Ontem mesmo, foi feita uma atualização na postagem.
Diz o secretário ao poster: “Por que você prefere acreditar em quem sequer assume a própria identidade?”
Porque, secretário, muitas vezes é exigido o off. E não apenas por isso: porque outras evidências, outros elementos permitem que atribuamos crédito ao que foi dito em off. Mas podemos errar, claro. Todos erramos. E como!
Diz o secretário: “Paulo, fato notório é aquele sobre o qual é dispensável a controvérsia, o que não é o caso. E você, que tem formação em Direito, bem o sabe.”
Está certo o secretário. Fato notório é o sol que desponta a cada manhã. Esse fato, claríssimo como a própria luz do sol, dispensa controvérsia.
Na percepção do poster, é fato que dispensa controvérsia - portanto é um fato notório - que o secretário é hoje, dia 13 de outubro de 2009, pré-candidato a deputado federal. Mas amanhã, dia 14, pode mudar tudo, é claro.
E quem o diz é o próprio secretário: “Em 2010, obedecidas todas as disposições da lei, se for para contribuir com a reeleição da governadora Ana Júlia Carepa e somar ao meu partido, esse quadro pode mudar.”
Claro, pode mudar, sim.
Sobre isto, concordamos.
Inteiramente (veja, Puty, nem tudo está perdido - rsss!)

Sobre o item 2
O blog jamais negou, não nega e jamais negará que há “secretários com pretensões eleitorais - diga-se de passagem, legítimas e legais”.
Aliás, repita-se aqui o que já foi dito na postagem que ensejou a reposta do secretário: Puty tem absolutamente todo o direito de aspirar a um mandato eletivo, seja lá o qual for, até mesmo o de governador do Estado.
Não se discutem, portanto, as pretensões de quem quer que seja, inclusive a de secretários.
E entre os secretários, a de Puty.
Uma questão apenas o diferencia de outros secretários: o chefe da Casa Civil é o articulador político do governo. E misturar essa condição com a de pré-candidato atrapalha a articulação política.
É claro que mantemos a convicção de que o secretário é pré-candidato a deputado federal.
Mas essa é uma percepção nossa, com base em aferições e juízos de valor que entendemos pertinentes.
Podemos errar?
Claro.
Vamos ver...

Sobre o item 3
O que Jader disse – e o secretário destaca – é uma verdade indesmentível.
Mas é preciso analisar o contexto. Ou contextos.
E os contextos – complementados que por fatos que o blog reputa como notórios e que dispensam controvérsias – indicam que há problemas sérios, há turbulências de monta na relação entre PMDB e governo/PT.
Mas estamos falando de política, não é?
E amanhã, secretário, tudo poderá mudar.

Sobre o item 4
O blog não disse e nem sequer insinuou e muito menos atribuiu à DS a monopolização – ou seja lá o que for - da composição do “núcleo de governo”.
E muito menos o blog nega o fato de que a comandante do governo é Sua Excelência a governadora Ana Júlia.
O blog afirmou apenas que DS é um realidade – concreta, palpável, visível. Tem ativa participação no jogo de correlação de forças do governo. E, em alguns casos, tem a prevalência, porque, é claro, é a tendência a que pertence a governadora. E a carta da professora Edilza Fontes expressa isso.

Sobre o item 5
Aqui, a percepção – baseada em fatos e juízos de valor – outra vez nos separa
É como aqui já se disse certa vez: Bila saiu antes que fosse saída. Temos isso como uma evidência.
É verdade. Não há sentença sobre o caso. A ação começou a tramitar há pouco. Ao final, todos os réus poderão ser absolvidos. Ou não.
O blog presumiu que, ao dizer à Perereca da Vizinha que não tinha informação sobre superfaturamente no caso dos kits, o secretário estava objetivamente dizendo não ter sido informado sobre isso. O blog não entendeu essa afirmação de Puty como um prejulgamento do secretário de que não houvera o superfaturamento.
Por isso é que o blog linkou para as afirmações do procurador José Augusto Potiguar e para a íntegra da petição inicial da ação de improbidade, com menções expressas a superfaturamento.
Mas é evidente: precisamos esperar o pronunciamento final do Judiciário.
O blog se sente distinguido com a disponibilidade do secretário em opor-se, transparentemente, a juízos e informações aqui emitidos.
Isso evidencia que ninguém deve considerar-se confortável no olimpo de suas suas verdades.
Nem nós, jornalistas – que arrogantemente muitas vezes nos consideramos detentores do monopólio da verdade -, nem tampouco autoridades e homens – e mulheres, claro – públicos de qualquer escalão, de qualquer segmento.
E quanto mais divergências – honestamente travadas - houver, mais nos aproximaremos da verdade.
Sorte, secretário!

8 comentários:

Franssinete Florenzano disse...

Parabéns pelo debate, Paulo. Fiz um link do meu blog para cá.

Anônimo disse...

Viva a possibilidade da blogosfera e a disponibilidade para o debate "em tempo real". O Puty já devia ter entrado neste ritmo antes. Tem muito a dizer. Sabe o que dizer. E o blog, com a licença de quem o visita "religiosamente", sempre demonstrou uma animosidade feroz, diária e quase gratuita com o Puty. Uma opção editorial sugestiva de seu conservadorismo, talvez. Mas é demonstração de grandeza do blog se permitir o diálogo franco com o secretário. Considero que também tens um nível de acúmulo crítico importante pra debater com quem deve respostas ao povo. E é por isso, aliás, que o visito sempre. Pra mim, ganhas credibilidade, se é que isso importa a você, Paulo.
abração

Romulo Sampa disse...

Paulo, vc eh um craque.
abraco.

Lafayette disse...

Eita que mais um bom debate por aqui.

Depois de Cuba, Puty.

Qual será o próximo?

Marina e seu pensamento criacionista? (ainda vejo um debate deste... um dia!)

Anônimo disse...

O problema é que, com esse pessoal "cumpanheru", não há nem tem por quê haver debates.
Eles "se acham" os donos da verdade, eles não erram.
Não há diálogo; é monólogo mano.

Poster disse...

Caro Anônimo das 12:13,
Você está enganado.
Jamais houve animosidade pessoal , "feroz, diária e quase gratuita" contra quem quer que seja por aqui. Sobretudo e principalmente contra o secretário.
A prova disso é que Puty prestigia o blog quando vem aqui e contesta as colocações do poster.
Se ele tivesse algum indício de que há animosidade pessoal contra ele, não iria perder seu precioso tempo para expor as suas convicções.
A animosidade que alimentamos aqui, Anônimo, é contra situações, contra teses, contra condutas, e não contra pessoas.
No caso específico de Puty, a crítica, conforme o blog já destacou tantas vezes, é porque ele exerce as funções de secretário e, ao mesmo tempo, está na condição de pré-candidato a deputado federal, o que ele nega, evidentemente.
E essas críticas - que o blog sustenta - feita a esta situação em que se encontra o secretário recairiam sobre o José, o Joaquim, o João, sobre qualquer um, enfim, que eventualmente estivesse naquela situação.
Nada, portanto, de pessoal.
A mesma coisa em relação às divergências sobre Cuba, por exemplo. Não há nada de pessoal do blog contra o Stefani e, acredito, nem do Stefani contra o poster. Nem nos conhecemos pessoal, vale ressaltar.
Divergimos sobre teses, Anônimo, e não sobre pessoas.
Abs. e obrigado pela leitura diária.
E obrigado pelas críticas.
Pena que você não se identificou.
Mas isto é o de menos.
Continue por aqui.
Abs.

Francisco Sidou disse...

Parabéns, Paulo, pela oportunidade que deste aos muitos leitores de teu conceituado Blog de conhecer melhor as idéias do "condestável" do governo Ana júlia, Claudio Puty. Já o entrevistamos - o Carlos Mendes e eu - no programa "Jogo Aberto", onde apesar do calor do modesto estúdio e de algumas perguntas mais ou menos "calientes' ele se saiu bem, revelando surpreendente simpatia e postura democrática para quem era considerado pela "grande imprensa" como "todo-poderoso", arrogante e atrabiliário.
Até concordou com este modesto jonalista na avaliação de que "sobram DAS no governo Ana Júlia e falta comunicação".
Só saiu pela tangente no caso mal resolvido dos "kits escolares", alegando que como Chefe da Casa Civil o assunto não "era bem de sua área de competência "... Pelo visto, ele aprendeu bem aquele "conselho a um jovem político" do experiente político e filósofo mineiro Tancredo Neves: "Diante de uma pergunta incomôda de algum jornalista inconveniente (leia-se independente) , procure sempre ganhar tempo, principalmente se for em programa de rádio ou televisão. Nunca concorde com o jornalista inconveniente. Ele só precisa disso para deixá-lo em maus lençóis ou sem nenhum lençol..Na dúvida, jogue sempre o problema para alguma outra área de competência "...

Anônimo disse...

N[os petistas, somos os donos de nossas verdades. Você,anônimo, das suas. Se vocâ acredita em verdade absoluta, continue assim, vai acabar no céu.