A violência mete medo.
Claro.
Todo mundo – é natural – tem medo de violência.
Mas precisamos ter medo da banalização.
Da banalização da violência.
E mais do que ter medo, precisamos nos indignar com a banalização do crime, da selvageria.
Porque ela, a banalização, é o combustível que ajuda a alimentar esse clima de faroeste que enfrentamos em todo canto, inclusive aqui em Belém.
Vejam a foto acima. Cliquem nela para ampliá-la.
Foi extraída pelo blog do caderno de polícia do Diário do Pará deste sábado (17).
Ilustra reportagem sobre um assassinato na Terra Firme.
A vítima é a que está coberta por jornais.
Em primeiro plano, vêem-se braços erguidos.
É de um evangélico que passava pelo local, na ocasião, e pôs-se a orar pelo morto.
A foto, de autoria de Keilon Feio, é jornalisticamente das mais expressivas.
E ao mesmo é o retrato – literalmente - da banalização.
Observem o rapaz de camisa vermelha encostado ao poste.
Ele ri.
A mulher de bermuda preta, ao lado dele.
Ela sorri.
Mais à direita, a moça de blusa azula e o rapaz de com a camisa do São Paulo.
Eles riem.
Mais à direita, uma moça de blusa verde.
Ela ri.
De que riem os espectadores dessa coisa horrorosa?
Não deveriam nem estar ali.
Mas estão.
Estão ali e, parece, não se comovem com nada.
Riem, simplesmente.
Sabe-se lá de quê.
Imagina-se que é do pregador.
Mas o pregador, com certeza, não estava contando piada.
Estava rezando pelo morto.
Mas o povo ri.
Ah, sim.
E observem que há crianças por lá.
Aparecem três, no lado esquerdo.
E duas delas parecem estar assustadas.
É assim!
3 comentários:
Repare que os jovens são os que riem.
Justamente a geração que foi criada sob o signo da violência.
Por isso a banalização.
Sem um choque de educação - que evidentemente não interessa a quem nos governa -, não haverá jeito e eles brevemente matarão os professores e irão ao cinema, parafraseando o velho filme.
O povo ri porque considera esse momento uma vitória: de ter dado um "fim à violência" com as próprias mãos e também por ter a certeza que o crime cometido pela vítime não ficará impune.
E o poder judiciário por onde será que anda?
Grande postagem. Triste postagem. Grande e triste pelo que revela e o que muito bem destaca o poster.
Na periferia, a banalização da violência se dá pela rotina instalada do contato direto com a violência. Entre os mais abastados, nos bairros de classe média e alta, a banalização também se dá, mas de forma diversa: vidros fechados, janelas fechadas, olhos fechados. É a ilusão da fuga da violência. E uma forma sustenta a outra. Ambas asseguram a continuação da violência, cada vez mais corriqueira e banal entre nós. Ai de nós, humanidade...
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