domingo, 14 de junho de 2009

A estratégia de Lula




A promessa de reforma eleitoral é como se fora uma colcha de retalhos. E, por quê? Simples: depois de sepultar a reforma política, a Câmara agora tenta fazer pequenos remendos à lei eleitoral. Todos, claro, em benefício dos próprios parlamentares. A intenção é evitar novas interferências do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que, no vácuo da omissão congressual, nos últimos anos vem aprovando medidas moralizantes. Entre as propostas em estudo, está a permissão de pré-campanha antes do ano eleitoral e maior flexibilidade na propaganda pela internet. Para quem esperava uma reforma ampla, nada mais pode ser mais frustrante. Mas até mesmo essas pequenas mudanças estão sob ameaça.
Entretanto, lá pelas bandas do Palácio do Planalto, Nosso Guia, até agora, está creditando tudo para a conta de Dilma Rousseff. A estratégia do presidente de usar sua popularidade para impulsionar a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil começa a dar resultados. O que se tem observado é a subida de Dilma nas pesquisas, com a ajuda do presidente, assusta a oposição.
O Nosso Guia tem um patrimônio invejado por qualquer político. Em meio à mais grave crise financeira da história econômica contemporânea, reacendeu antigos debates sobre as virtudes e os vícios dos "mercados" como mecanismos de coordenação econômica. De um lado, estavam os "fundamentalistas de mercados". Ingênuos acadêmicos em torres de marfim, orgulhosos de suas concepções teóricas, explicando a eficiência dos mercados como complexos mecanismos de transmissão de informações, de coordenação de conhecimento e esforços centralizados, de cooperação econômica em escala planetária entre bilhões de desconhecidos, Nosso Guia é um dos governantes mais bem avaliados do mundo.

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“O Nosso Guia tem um patrimônio invejado por qualquer político. Em meio à mais grave crise financeira da história econômica contemporânea, reacendeu antigos debates sobre as virtudes e os vícios dos "mercados" como mecanismos de coordenação econômica.”
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No início do mês, dois institutos de pesquisa mostraram que a crise não o afeta. De acordo com a CNT/Sensus, 81% dos entrevistados consideram "positivo" o desempenho pessoal de Lula. Segundo o Datafolha, 69% dos entrevistados consideram o desempenho de Lula "'ótimo/bom". O excelente resultado se tornou melhor ainda por causa de um detalhe. A aprovação pessoal de Lula havia caído em março, devido à chegada dos primeiros efeitos da crise no Brasil.
Agora, as pesquisas mostram que as medidas anticrise tomadas pelo governo - e seu eficiente trabalho de comunicação para mostrar que está trabalhando - ajudaram Nosso Guia, em três meses, a recuperar os índices de popularidade anteriores.
A um ano e meio de deixar o poder, Lula está usando esse patrimônio para fazer Dilma sua sucessora. Desde que deixou clara sua preferência em 2010 pela candidatura da ministra, uma personagem da política que nunca disputou uma eleição, o presidente subiu ao palanque e fez de tudo para expô-la em viagens pelo país. Tem dado certo. A pergunta que se faz é: será que, necessariamente, os eleitores de Lula votariam em Dilma porque ela é a "candidata de Lula"? Significa que o patrocínio de Lula faz com que o eleitor pare para prestar atenção para Dilma - um feito considerável.
A alta deixa Dilma em boa posição para enfrentar o desgaste dos próximos meses. Ela vai passar por um tratamento de quimioterapia para eliminar os riscos de reincidência de um câncer linfático. As incertezas proporcionadas por seu estado de saúde são compensadas pela veemência do apoio do Nosso Guia. Esse apoio também cria dificuldades para os adversários.
O governador de São Paulo, José Serra, passou a ser pressionado a assumir sua candidatura. Serra resiste. Dias atrás, ele afirmou que "ainda vai passar muita água embaixo da ponte", ao se referir à alta de Dilma nas pesquisas e à precocidade do debate eleitoral. Contudo, o governador das Minas Gerais, Aécio Neves, insiste em sua candidatura ao Planalto e quer a antecipação da escolha do nome dos tucanos para entrar na disputa com Dilma.
No plano eleitoral, também há riscos em anunciar a candidatura de Dilma tão cedo. Uma vantagem inegável é que a ministra ocupa um grande espaço por estar no governo e contar com o empurrão diário do Nosso Guia. Há a vantagem de que nem Serra e nem Aécio podem se dar ao luxo de esvaziar seus governos para se lançar mais cedo na disputa presidencial com Dilma. É um jogo que envolve riscos. Mas, por enquanto, está dando certo para o Nosso Guia.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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