sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Vocês conhecem Pelé? Eu conheço. Tirei até uma foto com ele.

Manaus, Vivaldão, abril de 1970: Pelé e Ércio Bemerguy, o primeiro radialista
santareno (terá sido o único?) a entrevistar não um rei quaquer, mas o Rei.

Pelé, 80 anos!

O que dizer ainda de Pelé?

Nada.

Sinceramente, nada!

Dizer que ele é o Rei (assim mesmo, com o artigo definido, masculino, singular, para indicar que é único) ainda é muito pouco.

Dizer que é gênio? É pouco.

Que é iluminado? É pouco.

Que é um artista? É pouco.

Que é único? É pouco.

Que parou guerras com sua arte incomparável? É pouco.

Que majestades se curvaram ante ele? É pouco.

Que poderosos de todas as raças, de todos os credos e todas as ideologias se rendiam à realeza de Pelé para mendigar-lhe um autógrafo ou um rapidíssimo cumprimento? É pouco.

Que foi o único a ultrapassar (comprovadamente e oficialmente) a barreira dos 1 mil gols? É pouco.

Pelé - com sua genialidade - deu margem a que fizéssemos dele e sua arte inigualável inspirações para poetizarmos nossos textos, nossas exaltações, nossas babações explícitas, inchadas, fartas, prenhes e plenas de orgulho por tê-lo como nosso patrício.

Mas criar novos adjetivos sobre Pelé? Não tem mais como.

Não há dicionário que ainda contenha novos adjetivos para expressar a genialidade dele.

Porque tudo já se disse sobre Pelé.

O Rei é íntimo nosso. Pelo menos, é íntimo meu.

Quem, como os da minha geração, nasceram e cresceram vendo Pelé jogar ou meramente imaginando sua arte, quando ouvíamos os jogos do Santos pelo rádio - como foi o meu caso, na Santarém sem TV dos anos 1970 -, travaram com ele uma intimidade das mais próximas.

E os íntimos sempre têm histórias e histórias uns dos outros.

Íntimo de Pelé, tenho uma - especial, inesquecível.

Em 1970, como apenas dez anos, eu já era apaixonado por futebol.

Não pensava em outra coisa, a não ser em futebol. Todo dia, o dia todo.

Vivia a expectativa de acompanhar a Copa do México, em junho.

Em março daquele ano, o estádio Vivaldo Lima, o Vivaldão, hoje Arena da Amazônia, era inaugurado em Manaus.

No dia 5 de abril, exatamente essa data, a Seleção Brasileira, então em fase preparatória para a Copa, fez um amistoso no Vivadão contra a seleção amazonense. Ganhou de 4 a 1.

Pelé jogou essa partida.

Ele estava lá.

Meu tio também.

Ércio Bemerguy - hoje aposentado e blogueiro - viajou a Manaus especialmente para cobrir a partida para a então Rádio Educadora, hoje Rádio Rural de Santarém.

Foi o primeiro radialista santareno a entrevistar o Rei.

Foi a Manaus, viu Pelé, entrevistou-o e trouxe a foto para comprovar.

Não acreditei - às vezes, continuo quase não acreditando - quando vi a foto de meu tio entrevistando Pelé.

Contava isso pra todo mundo.

Mas não podia mostrar a foto, porque ela virou um tesouro bem guardado até hoje.

Agora, posso mostrá-la.

Vendo-a repetidas vezes na casa de minha avó Didó, onde meu tio ainda morava, eu me sentia, naquela foto, junto a Pelé.

Sentia-me - e às vezes me sinto até hoje - como se eu mesmo tivesse sido fotografado ao lado de Pelé.

E me sentia cada vez mais orgulhoso de um tio meu, ora bolas, ter entrevistado não um reizinho qualquer, mas o Rei, o único.

Hoje, acompanhando os programas de esporte, como acompanho compulsivamente, vejo homenagens em que vários narradores, muitos deles ainda nem nascidos quando Pelé jogava, mostram-se diante da TV narrando antigos e célebres gols de Pelé como uma forma de homenageá-lo neste 23 de outubro, data de seu aniversário.

E sentem orgulho dessa experiência, mesmo que não tenham, presencialmente, narrado os gols do Pelé no momento em que efetivamente aconteceram.

Na semana passada, Marcelo Barreto, apresentador do programa Redação SporTV, contou que uma vez entrevistou Pelé. E disse que ficou atordoado quando, em meio à conversa, Pelé citou naturalmente o nome dele, Marcelo Barreto.

"Eu pensei: nossa, mas o Pelé citando meu nome!" - contou Barreto.

Esse Pelé, essa lenda viva do esporte (essa qualificação também é nova, viu, gente?) viveu 80 anos até agora.

Mas parece que ele é imemorial.

Parece que sempre viveu.

Parece que desconhece os tempos.

Vivendo imemorialmente, tempos a forte senação de que sempre foi íntimo nosso.

E nos faz orgulhosos, até quando um tio nosso aparece na foto com ele.

Viva, Pelé!

E viva sempre.

Imemorialmente.

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