segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Puxaram a rede dos acrobatas



Seja como for, o cargo de ministro é por demais desprestigiado ou prestigiado demais? É a pergunta que fica quando da (infeliz) constatação de que alguns ministros não estão preparados para os cargos que ocupam. Há exemplos claros disso. Um deles, mais simplesmente, é de espantar, tem a ver com a falta de preparo de um ministro em relação ao assunto que ele se propõe (ou propuseram a ele) a gerir: a reforma agrária. Desprestigiado porque a pasta por si só claramente já o é, ou prestigiado demais a ponto de ser um fantoche ao sabor dos interesses nem sempre públicos e das conveniências políticas, estes e estas maiores que o cargo.
Recentemente, surgiram alguns exemplos concretos na própria Corte. Enquanto majoritariamente somente critérios políticos e não técnicos forem levados em conta, o clientelismo se manterá, escândalos se sucederão, verbas serão mal alocadas e o País vai continuar a marcar passo. Aliás, o jus esperniandi dos senadores: Pedro Simon (PMDB-RS), Cristovam Buarque (PDT-DF) e Ana Amélia (PP-RS), em apoio às ações da presidente Dilma Rousseff no combate à corrupção, encabeçam uma frente pluripartidária de senadores que decidiu defender, publicamente, as iniciativas de Dilma contra a corrupção. O grupo pede que o Executivo não ceda às pressões dos “fisiológicos”.
Tanto Simon, quanto Ana Amélia e Cristovam assinaram requerimentos de comissões parlamentares de inquérito (CPIs) contra o governo Dilma. No caso, pedindo a investigação da estranha evolução patrimonial do ex-chefe da Casa Civil Antônio Palocci. Ademais, esse grupo passou a defender uma frente suprapartidária em apoio à presidente depois que partidos da base aliada ao governo ameaçaram retaliar Dilma devido à “faxina” contra a corrupção que ela deflagrou, começando pelo Ministério dos Transportes e, depois, atingindo o Ministério da Agricultura. Neste caso, entretanto, a presidente dava sinais de que preservaria o ministro Wagner Rossi, do PMDB. Por esse motivo, o PR acusa Dilma de, digamos, “tratamento diferenciado”.
Agora, mais um complicador na vida de Rossi. Denúncias de ter utilizado em seus deslocamentos um avião de uma empresa que depende de autorização da pasta para negociar seus produtos. A empresa é a Ourofino Agronegócio, que atua no ramo de agrotóxico, sementes e saúde animal e colocou à disposição do ministro e de seu filho Baleia Rossi (PMDB-SP), deputado estadual, um jatinho da empresa, conforme revelou o jornal “Correio Brasiliense”. Ah, na quarta-feira, 17, Rossi pediu demissão em caráter irrevogável.
No Congresso, o governo está entre duas trincheiras. Os aliados boicotam a pauta na Câmara, enquanto a oposição tenta emplacar a “CPI mista da corrupção”. A CPI mista seria encarregada de investigar todas as denúncias de irregularidades em órgãos da administração federal, sobretudo em mais de uma dezena de ministérios. Será?
A brandura com a corrupção mina a democracia. Faz com que as pessoas tenham a sensação de que o roubo é de natureza do regime democrático e, assim, preparará o país para o aparecimento de algum salvador da Pátria. Dilma não será a salvadora da pátria. A presidente apenas tem tomado decisões sensatas diante de indícios fortes, gravações evidentes e flagrantes. A faxina é salutar, alguém tinha que tomar a iniciativa e começar a puxar a rede dos acrobatas. Uma atuação firme do governo vai inibir que os corruptos usem o poder.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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