segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Verniz facial cai muito bem


Parece óbvio, mas o grande desafio que nosso País enfrenta é encontrar um sistema econômico que produza riqueza e atenda às necessidades humanas sem gerar desigualdade e uma ordem política estável evitando o fundo do poço, onde um lodaçal extenso e cheio de mazelas nos espera com avidez. O que faz esse Congresso desde 2014? Nada. Absolutamente nada. As realidades do dia a dia são esquecidas por suas excelências, que deveriam exigir atitude de seus pares para que o Brasil saia desse marasmo, onde a falta de credibilidade se transforma no maior evento. Os motivos todos já sabem é a enfermidade crônica de que padece nosso País, da miopia coletiva com desprezo dos poderes executivo e legislativo.
O governo está desacreditado. Não tem um Norte, nem régua e nem compasso. E fica na cara de pau – um verniz facial cai bem – fazendo as mais torpes acusações, achando de todos somos idiotas, ao querer que, aceitemos de forma passiva, a insistência de que setores da oposição ao governo apresentam propostas para a cassação do atual mandato de Dilma e entregá-lo ao presidente da Câmara que está em um momento de enorme desgaste diante de acusações. Pensamentos fantasmagóricos permeiam essas cabecinhas sem argumentos, achando, também, que não partem apenas das delações premiadas, mas também de organismos internacionais. É a coroação da cara de pau e do péssimo caráter desses oportunistas.
Cada dia que passa o governo se enrola cada vez mais, está paulatinamente ficando sem representatividade, vive numa corda bamba e representa uma inversão nessa trajetória. As teses arcaicas de sua equipe econômica – que, segundo leitura feita por especialistas, remetem às de ex-presidentes da época dos anos de chumbo – levaram a um descontrole das contas públicas. Sofremos rebaixamentos significativos, perdemos o grau de investimento duramente conquistado, o que equivale a uma condenação no clube da economia globalizada. Pergunta-se: Que investidores querem apostar no país? Entre as deduções disso estão inflação, desemprego e miséria. Observem e constatem que o retrocesso econômico começa a comprometer os avanços sociais.
A única saída para se tentar ver a luz no fim do túnel é o País voltar a crescer, retomar a trajetória de modernização econômica e melhorar a situação social da população, principalmente os mais fragilizados e desvalidos. Exatamente por trabalhar contra essa agenda que Eduardo Cunha, representa o atraso. Enquanto teve poder no comando do Congresso – poder que aos poucos vai se esvaindo em meio a tantas denúncias de corrupção –, Cunha não se preocupou em laborar pelas reformas necessárias ao país. Em vez disso, começou a ameaçar o governo com a “pauta-bomba”, leis que aumentavam as despesas públicas, em vez de reduzi-las.
O ex-presidente Lula está plenamente convencido de que o canal aberto entre o governo e Eduardo Cunha ainda é insuficiente para barrar o movimento pelo impeachment de Dilma. A aliados, ele argumentou que a presidente precisa tomar para si a estratégia de aproximação com Cunha, sem delegá-la a terceiros. Para Lula, o gesto deverá desagradar a petistas – inclusive o ministro Jaques Wagner, elogiado em seu esforço de aproximação –, mas poderia ajudar a reconstruir pontes entre a presidente e Cunha.
O endereço do caos, da Revelação teológica, é a Corte, onde megaescândalos e malfeitos têm suas nascentes e se espraiam em muitos deltas, um deles está na Câmara, representado pelo seu presidente. Com tanta gastança no exterior e declarações contraditórias Cunha não se sustenta, cai em desgraça. Isso graças às autoridades estrangeiras, senão escaparia incólume em seus ritos e atos criminosos. Documentos comprovam sua desonestidade. Há quem tente lembrar o “Estadão” de 60 anos atrás – para manchete recente (“Lula e o mar de lama”) – então nutrido pela retórica de Carlos Lacerda, soçobrava o Palácio do Catete habitado por Getúlio Vargas.

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SERGIO BARRA é médico e professor

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