quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O álcool é o verdadeiro responsável pelos homicídios em Belém?


Olhem aqui.
O Espaço Aberto fez ontem a postagem intitulada Apenas limitar o horário de bares vai reduzir a criminalidade? com a intenção de instigar, de provocar, de levantar o debate sobre questão que diz respeito a todos nós - bebamos ou não, sejamos ou não frequentadores de bares.
Isso porque todos nós estamos sujeitos à violência, não é?
Todos nós.
Pois é.
A intenção foi plenamente contemplada com comentários surpreendentemente bem motivados de leitores.
É o caso de Marcos Machado.
Vejam abaixo o que ele disse.

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Vou fazer um comentário e indicarei minhas fontes, para que não fique no achismo.
Em primeiro lugar, o Brasil, em 2011, ocupava 20º lugar, hoje ocupa o 11º lugar dentre os países com mais homicídios no mundo, 27,1 homicídios a cada 100 mil habitantes passando para mais de 32,4. Além de tais dados, a Associação Brasileira de Criminalística afirma que somente de 5% a 8% dos inquéritos de homicídio no Brasil são elucidados. Tais dados até 2012.
No Estado do Pará, só as mortes por arma de fogo, em 2011, totalizaram 28,3 mortes a cada 100 mil habitantes. Detalhe, só de armas de fogo, e ainda assim estamos acima da média nacional, que foi de 20,1 mortos a cada 100 mil (2011). Em Belém, o índice foi pior: 32,7 mortes por arma de fogo a cada 100 mil habitantes. A taxa de homicídios em Belém, no mesmo ano, foi 40,9. Um total de 574 homicídios. Desses, 459 foram por armas de fogo, 79.96%.
Logo, cabe a análise: a maior parte dos homicídios na Capital é cometido por armas de fogo. Seria o álcool o verdadeiro responsável? Catalisador? Ou estaria levando a responsabilidade pelo aumento desmedido de latrocínios e execuções?
Deixo a cargo do intérprete.
A política de fechar bares na madrugada foi iniciada em Diadema, na década passada. À época, diminuiu drasticamente os números dos homicídios locais. O problema é: a solução de uma época e de um lugar não necessariamente se aplicariam para solucionar outra problemática, pois, como sabemos, muitos fatores mudaram. Aumento do poder do tráfico de drogas, aumento de ações criminosas violentas. O que deve ser analisado, no case Belém, são os horários dos assassinatos; motivo; e as conexões, não somente com o consumo do álcool (quem quiser consumir ainda conseguirá consumir), mas com o consumo em bares e casas noturnas.
Uma coisa é certa: violência e consumo de bebidas alcoólicas estão relacionadas. Em mais de 54% das agressões que chegam aos hospitais públicos o paciente ingeriu álcool. Assim como a bebida alcoólica e mortes por acidentes de transito estão intimamente relacionados. Para esta última, já existe lei, falta a continuidade das medidas fiscalizadoras.
Para finalizar, deixou aqui um case e um pensamento.
Na Inglaterra, durante a revolução industrial, as mulheres saiam ainda de madrugada de suas casas para trabalharem nas fábricas têxteis, longe de suas casas, o que elevou o número de estupros. Fizeram leis mais severas. Os capturados fizeram de exemplo; aumentaram o policiamento. Essas medidas sozinhas não diminuíram a incidência. Porém, quando a prefeituras instalaram mais postes e iluminaram melhor os caminhos que as operárias faziam todos os dias, as taxas de homicídio tiveram uma queda vertiginosa. Será se punir mais, mais policiamento, fechar bares irá diminuir a violência? Temos que urgentemente quebrar o pensamento do Modelo Simples do Crime Racional (MOSCR), onde se pensa que o indivíduo criminoso apenas analisa a possibilidade de ser pego e a provável penalidade, pois, se fosse assim, bastaria aumentar o policiamento e as penas.

Fontes:
http://www.cisa.org.br/artigo/5828/-impacto-lei-seca-no-brasil-nas.php
http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2014/Mapa2014_AtualizacaoHomicidios.pdf
http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2015/mapaViolencia2015.pdf
http://www.cisa.org.br/UserFiles/File/alcoolesuasconsequencias-pt-cap7.pdf
http://www.conjur.com.br/2012-ago-30/coluna-lfg-homicidios-sao-elucidados-brasil

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Logo depois do comentário acima, o mesmo Marcos Machado voltou e fez um acréscimo.
Leiam abaixo.

Me esqueci de comentar. O caso de Diadema é sui generis, dada a estatística em 2000, que era de 76,15 homicídios por 100 mil habitantes.
A lei seca não foi a única medida. Inclusive o Estatuto do Desarmamento ajudou muito, a partir de 2004. A prova viva disso é que, em 2002, dos 325 homicídios, 291 foram por armas de fogo; em 2004 esse número foi reduzido para 183 homicídios por arma de fogo, uma redução de 37,11%.
A maioria dos crimes de violência eram homicídios dolosos, porém a maioria dos estudos em volta do tema ignoram a possibilidade de tais crimes terem ligação ou não com o crime organizado, da mesma forma que os estudos feitos na capital paraense.
Logo, resta a dúvida, poderia diminuir a violência (não só o homicídio), mas diminuiria a insegurança?

Fontes:
http://www.diadema.sp.gov.br/dmp/comunicacao/Comunicacao/Site2/sumario_miolo_20x26.pdf
http://www.mapadaviolencia.org.br/publicacoes/Mapa_2008_municipios.pdf

5 comentários:

Anônimo disse...

A frase final é o que importa. Diminuir a violência. Chega de mortes. Passa a régua e fecha tudo.

Anônimo disse...

A certeza da impunidade, isso sim, é que motiva e acelera a matança.
De longa data sai baratinho matar um, principalmente se réu primário.
O restante são causas menores.

Anônimo disse...

Concordo, das 10,21h, a certeza da impunidade. A grande mídia da destaque no dia de hoje a prisão do senador Delcidio Amaral, que trabalhava arduamente nos bastidotes com intuito de atrapalhar o andamento da operação lava jato e garantir a impunidade daqueles que cometeram crimes.

ANC

Unknown disse...

PB,
Obrigado por postar meu comentário. E espero ter ajudado na discursão. Posso compartilhar o texto que escrevi no blog que comecei hoje? Sinta-se a vontade de entrar nele e criticar: blogdommachado.blogspot.com

Poster disse...

Claro, Marcos.
Pode postar, sim, no seu blog.
O texto é seu.
Foi um privilégio o Espaço Aberto poder compartilhar a sua opinião.
Abs.