segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Praça para inglês ver


Aprendemos na escola que os principais responsáveis pela queda de Adolf Hitler foram os Estados Unidos. Certo? Há controvérsia. Pontos cruciais dessa visão sobre o maior conflito do século 20 têm sido questionados. Quando os aliados chegaram, Hitler já amargava suas piores derrotas. A narrativa tradicional ignora batalhas decisivas antes e depois da Normandia. A luta de vida ou morte entre Stalin e Hitler começou de modo traiçoeiro: com uma aliança. Assinaram um pacto de não-agressão em 23 de agosto de 1939 e, uma semana depois, os alemães invadiam a Polônia. Foi uma manobra para ganhar tempo.
Hitler esperava que a guerra com a Grã-Bretanha fosse curta. Queria se entender com os ingleses e, logo, voltar-se contra Stalin. Desde o início, seu plano era eliminar a URRS, que ele via como pior inimigo. Mas cedo ou tarde, um dia a Alemanha teria de se expandir para o leste. Hitler não planejava exterminar só judeus. Entre as “raças” marcadas para morrer estavam os eslavos - dominantes na URSS e no Leste Europeu.
O acerto cínico entre Alemanha e URSS durou apenas 3 anos. Nesse meio tempo, os nazistas levaram de roldão a Escandinávia, a França, os Países Baixos, a Bélgica e Luxemburgo. Os bombardeios incluíram a Grã-Bretanha, mas o primeiro-ministro Winston Churchill recusava-se a fazer um acordo com os nazistas. Foi então que Hitler cometeu o maior erro estratégico de sua vida: optou por invadir a URSS. Ele queria eliminar a hipótese de uma aliança entre Londres e Moscou. Agredindo ao leste, pretendia neutralizar os aliados na Frente Ocidental. O petróleo do Cáucaso e outras riquezas soviéticas seriam um prato cheio para alimentar a máquina de guerra nazista.
Às 3 horas da manhã de 22 de junho de 1941, o Terceiro Reich havia mobilizado mais de 3 milhões de soldados alemães, além de 3 mil tanques, 2 mil aviões e 600 mil cavalos. A maior operação militar de todos os tempos foi batizada de Barbarossa. As tropas alemãs cruzaram as fronteiras da URSS, do mar Báltico ao mar Negro. Em algumas semanas Lituânia, Bielo-Rússia e Ucrânia viram os estragos que os blindados alemães fizeram. Parecia uma barbada. Tudo indicava que Hitler triunfaria. O exército alemão chegou a Stalingrado, a batalha mais sangrenta da História: 2 milhões de vítimas. A antiga Tsaritsyn foi rebatizada em 1925 em homenagem ao ditador soviético (desde 1961, porém, se chama Volvogrado). O último dia da batalha de Stalingrado, em 2 de fevereiro de 1943, selou a primeira derrota dos alemães na Segunda Guerra Mundial, mais de 1 ano e 4 meses antes do Dia D.
Após Stalingrado, os soviéticos começaram a avançar, recuperando territórios perdidos. Em 4 meses, fizeram os nazistas recuarem 500 quilômetros para o sul. Onde ficava a pequena cidade Kursk, onde se deu a maior batalha de tanques da História. Quando Hitler soube que a Itália dava sinais de abandono, a batalha de Kursk teve de ser encerrada. Os nazistas já haviam sido derrotados no sul. Agora, faltava expulsá-los do norte do país. Foram 900 dias de cerco a São Petersburgo, na década de 1920, fora rebatizada de Leningrado, em homenagem a Lênin. Mais de 1 milhão de russos tinham morrido e Leningrado não se rendera. Finalmente, a chamada Operação Bragation reuniu quase 2 milhões de soviéticos para impor última derrota a Hitler.
Para todos os efeitos, no momento da ofensiva na Normandia, o Terceiro Reich já havia perdido a guerra.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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