sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Presidente Dilma ou presidente Dilma?

E então?
Afinal de contas, é presidente Dilma ou presidenta Dilma?
Leitores querem saber, depois de lerem aqui um arroubo de petulância de dona Marta, aquela senhôura que é uma homenagem viva à arrogância.
Essa é uma discussão velha de três meses, desde que Dilma se elegeu presidente.
Mas de qualquer forma, e para afastar alguma dúvida, fiquemos com um craque nesse assunto, o professor Pasquale Cipro Neto.
Olhem só, abaixo, o artigo que ele escreveu logo depois da eleição da presidente.
E vejam como dona Marta é mesmo arrogante, quando pretende impor seus anseios vernaculares aos outros, entre eles, vejam só, o presidente do Senado, que inclusive é membro da Academia Brasileira de Letras.
Abaixo, o artigo de Pasquale.

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UFA! ACABOU! Não vou dizer que tivemos a pior campanha da história porque sou velho o bastante para ter vivido outras maravilhas (a de 1989 e as do tempo da mais do que hilariante Lei Falcão, por exemplo). Discurso sobre o nada, chavões, frases feitas e cacoetes linguísticos nunca faltaram na nossa história eleitoral.
Pois bem. A eleição se foi, mas a conversa sobre a terminação da palavra que designa o cargo que Dilma Rousseff ocupará a partir de 1º de janeiro de 2011, não. Perdi a conta das entrevistas que dei a respeito do assunto. Mesmo antes do segundo turno, tive de responder qual seria a forma "correta" para designar a função que Dilma ocupará: ela seria (será) presidente ou presidenta?
O leitor habitual deste espaço sabe bem que me nego terminantemente a reduzir a conversa a algo como "esta sim, aquela não", "está certo, está errado" etc. Posto isso, vamos ao começo da história. Que têm em comum palavras como "pedinte", "agente", "fluente", "gerente", "caminhante", "dirigente" etc.? Não é difícil, é? O ponto em comum é a terminação "-nte", de origem latina. Essa terminação ocorre no particípio presente de verbos portugueses, italianos, espanhóis...Termos como "presidente", "dirigente", "gerente", entre inúmeros outros, são iguaizinhos nas três línguas, que, é sempre bom lembrar, nasceram do mesmo ventre. E que noção indica a terminação "-nte"? A de "agente": gerente é quem gere, presidente é quem preside, dirigente é quem dirige e assim por diante.
Normalmente essas palavras têm forma fixa, isto é, são iguais para o masculino e para o feminino; o que muda é o artigo (o/a gerente, o/a dirigente, o/a pagante, o/a pedinte). Em alguns (raros) casos, o uso fixa como alternativas as formas exclusivamente femininas, em que o "e" final dá lugar a um "a". Um desses casos é o de "parenta", forma exclusivamente feminina e não obrigatória (pode-se dizer "minha parente" ou "minha parenta", por exemplo). Outro desses casos é justamente o de "presidenta": pode-se dizer "a presidente" ou "a presidenta".
A esta altura alguém talvez já esteja dizendo que, por ser a primeira presidente/a do Brasil, Dilma Rousseff tem o direito de escolher. Sem dúvida nenhuma, ela tem esse e outros direitos (e que não vá além dos direitos que de fato tem, por amor de Deus). Se ela disser que quer ser chamada de "presidenta", que seja feita a sua vontade -por que não?"
Resolvido" esse impasse, peço licença ao caro leitor para aproveitar o mote e trocar dois dedos de prosa sobre casos análogos. Vamos a um deles: o que significa "infante", palavra da mesma família de "infância"? Vamos lá: "infante" é simplesmente "aquele que não fala" (porque ainda não aprendeu a falar). Essa palavra, por sinal, é outra que é igualzinha nos três idiomas neolatinos que já mencionei (italiano, espanhol e português).
Outro caso interessante: o da palavra "fluente". Por que se diz que fulano tem inglês "fluente"? Porque "fluente" (em que também existe a terminação "-nte") é simplesmente "o que flui", ou seja, o que corre como um líquido. Assim como os líquidos fluem, a língua flui da boca de quem se expressa com facilidade.
Mais um? Vamos lá: já vimos que gerente é aquele que gere, certo? E de que verbo é a forma "gere"? Trata-se da terceira pessoa do singular do presente do indicativo de "gerir", sinônimo de "administrar", "gerenciar". Como é mesmo que se conjuga o presente do indicativo de "gerir"? Ei-lo: "eu giro, tu geres, ele/a gere..."; o presente do subjuntivo é "que eu gira, que tu giras, que ele/a gira...". E que ela gira. É isso.

Um comentário:

Luiz Ismaelino Valente disse...

Caro Paulo,

Certa vez eu levantei a questão da grafia "correta" do designativo dos nascidos em Alenquer: era "ximango" com "x" ou "chimango" com "ch"?

O primeiro vocáculo tem origem, digamos, ornitológica (trata-se de um gavião, uma "ave de rapina", credo!), e o segundo tem conotações políticas (era o apelido dos "federalistas" no RS, dos "alencarinos", no CE, etc.), embora muitos achem que era tudo a mesma coisa, desde que o poeta Amaro Juvenal lançou o seu livro de sátira política "Antônio Chimango" desnudando as "rapinagens" do desafeto Borges de Medeiros...

Diante do impasse, a turma da gozação lá de Alenquer passou a grafar "(chi)(xi)mango"...

Então, não demora vai ter gente querendo chamar a Dilma, por via das dúvidas, de "(a)(o) Presidenta(e)"...

E o quiproquó não pára por aí, não. Afinal, ela é a nossa "governante" ou a nossa "governanta"?

Taí mais um abacaxi para o professor Pasquale descascar.

Abraços.

Luiz Ismaelino Valente