quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Pará perde ícone da culinária regional

Do Portal ORM

 

O Pará perdeu, nesta quinta-feira (9), um dos principais representantes de sua culinária. Chef Paulo Martins faleceu, por volta das 5h da manhã de hoje. Considerado ícone da culinária regional ele foi um dos principais divulgadores das delícias da mesa paraense no Brasil e no mundo, conquistando o respeito e premiações nacionais e internacionais. O velório acontece na capela do Recanto da Saudade, no bairro do Umarizal. O sepultamento será às 16 horas, no cemitério Recanto da Saudade, em Ananindeua.

Paulo Martins tinha 64 anos e por dois anos e três meses lutou contra o diabetes. Ao longo de sua carreira, que soma mais de trinta anos, ele conquistou a admiração de outras personalidades importantes do mundo da gastronomia, como o chef Alex Atala, do restaurante D.O.M, de São Paulo e Ferran Adrià,  do El Bulli, na Espanha, a quem apresentou a culinária amazônica.

Por várias vezes os amigos estiveram na capital paraense em visita a Paulo Martins, não só participando do ‘Ver-o-peso da Cozinha Paraense’, evento criado por Martins para divulgar a riqueza da culinária local. Hoje ao saber de sua partida vários deles prestaram condolências à família, entre eles Alex Atala. ‘Todos entraram em contato conosco através de mensagens’, contou Tânia, esposa de Paulo Martins.

A organizadora de eventos Georgina Ribeiro, que trabalhou junto com Paulo Martins, no Ver-o-peso da Cozinha Paraense, ficou surpresa com a notícia. 'É uma perda irreparável não só como pessoa, mas para nossa culinária também', lamentou.

Ribeiro lembra como era trabalhar com o chef e elogia sua postura profissional. 'Ele era uma pessoa altamente qualificada e adorava expandir a culinária paraense para o mundo. Isso era tudo o que ele queria uma reunião dos maiores chefes do mundo para levar a nossa culinária. Era sempre muito atento para tudo. Perfeição era o nome dele', lembra com carinho a organizadora de eventos.

Debilitado por conta da doença o mestre da culinária passou a administração do restaurante para as duas filhas. Uma delas, Daniela, seguiu os passos do pai e hoje é responsável em perpetuar seu legado no restaurante ‘Lá em Casa’. Na administração da casa, ficaram a outra filha, Joana, e a sempre presente esposa Tânia Martins.

O talento para a culinária Paulo Martins herdou da mãe, a quem observou ainda quando criança. Sem ter nenhum curso de formação específica, ele usou apenas seu instinto e ingredientes da Amazônia e conseguiu revolucionar a culinária regional, sendo considerado o embaixador da culinária paraense.

Entre os prêmios que ganhou está o de melhor chef de cozinha e melhor restaurante regional, da revista Veja Comer & Beber, conquistado por diversas vezes.

Em entrevista por telefone ao Portal ORM, o editor de Veja Cidades, Miguel Icassati, também lamentou a perda de Martins. 'Em relação a Veja Belém, ele foi um dos personagens que justificou e ajudou a consolidar a presença da revista na cidade ao longo dos anos, não só por meio das premiações que ele e o restaurante conquistaram, mas, sobretudo, pelo amor que dedicou à culinária que ele acreditava', comentou.

Icassati também ressaltou a importância de Martins para a divulgação na culinária amazônica. 'O legado que ele vai deixar é a importância de se valorizar a cozinha do coração, com os ingredientes e recursos que todos podemos encontrar ao nosso redor, no quintal de casa, no mercadinho do lado, no rio que passa pertinho da gente. Essa é a maior marca que ele vai deixar. O legado dele vai ser essa cozinha com o coração e inteligência no uso dos recursos naturais que temos perto da gente', finaliza.

3 comentários:

JOSE MARIA disse...

Fico triste com a notícia, mas bem sei que Paulo não autorizaria tristezas.
Descanse em paz, grande chef.

Luiz Braga disse...

A tristeza da notícia foi aumentada pela omissão do nome da mãe do Paulo, a fabulosa Ana Maria Martins, assunto de inúmeras matérias, inclusive no New York Times e que foi quem iniciou o processo de valorização da culinária paraense onde hoje muitos neófitos surfam, muitos sem o talento genial dela. Seus docinhos artesanais servidos na bandeja do Lá em Casa do casarão da São Jerônimo são inesquecíveis, assim como seu sorriso e sua hospitalidade, esses sim o grande legado dela para o Paulo. Espero assim estar corrigindo a omissão do(a) repórter do portal ORM que deveria conhecer melhor sobre o que escreve. Mas isso é outra conversa...Belém perdeu um de seus melhores filhos. E haja perda nessa terra onde pessoas como Ana Maria e Paulo tanto fazem falta. Não só por essa história de divulgar culinária que todos pegaram carona, mas pelas inúmeras realizações e inovações que implantaram, muitas delas à frente do tempo modorrento da província.A começar pelo nome do seu primeiro restaurante: Lá em casa!
Só para citar um exemplo, foi com a cumplicidade e o apoio total deles, que realizei em 1980 minha exposição Portfolio 80, inteiramente montada na inesquecível discoteca Signo´s Club. Haviam nús totais (em tempo de censura), um estúdio montado na pista, trilha sonora. Uma montagem ousada que só foi possível pelo parceria incondicional deles que eram os donos da casa.
Amigos, parceiros, carinhosos e cordiais, só me resta a gratidão por terem participado de tantos momentos inesquecíveis da minha vida.

Jornalista disse...

Ana Maria e Paulo colocaram o Pará no topo da culinária brasileira, é verdade. Mas o que fizeram por Belém foi muito mais: eles provocaram uma reviravolta completa no setor de restaurantes. Se você hoje tem um camarão imperial no Avenida, ou um filhote bem preparado no Pomme d'Or, ou salgadinhos de pato na Portinha - tudo isso tem origem na dupla, que introduziu padrões de qualidade e paladar na cozinha profissional, não apenas estimulando a concorrência mas - e esta ação não apenas é rara, como extremamente importante - trazendo gente de fora para ensinar os colegas.
Toda a minha força para que os herdeiros de Paulo continuem inovando, divulgando e compartilhando sua sabedoria.