Essa discussão sobre a farra de passagens aéreas que embriaga o Congresso Nacional e o deixa estatelado na sarjeta, vítima de uma embriaguez moral acachapante, tem produzido declarações curiosíssimas.
Curiosíssimas, para não dizer estranhíssimas e deploráveis, em consonância com estes tempos em que mais e mais se trata o dinheiro público como se fosse de ninguém; aliás, ainda que fosse de ninguém, o dinheiro que garante o funcionamento do Congresso deveria ser usado com parcimônia, com sobriedade e com critério.
Pois bem.
Entre as declarações curiosíssimas estão, por exemplo, a do senador Papaléo Paes (PSDB-AP) – na foto da Agência Senado - e a do deputado Sílvio Costa (PMN-PE), ambos defensores destemidos de que continue esse desregramento imoral.
Leia-se o deputado pernambucano:
“Não é justo que as mulheres e os filhos dos parlamentares não possam vir a Brasília. É preciso acabar com o teatro da hipocrisia. Quer dizer que agora eu venho para Brasília e minha mulher fica lá? Assim vocês querem que eu me separe. Esta decisão não é correta. É uma decisão acuada."
O senador amapaense, por sua vez, disse na última quarta-feira à noite, durante uma questão de ordem – que foi mais um discurso, como sói acontecer na maioria das questões de ordem –, que limitar o uso de passagens aéreas ao parlamentar, como agora passou a ser feito na Câmara, empurrará o Congresso para duas situações: ou Câmara e o Senado se transformarão em casas onde só terão assento parlamentares que disponham de favoráveis condições financeiras ou então deputados e senadores ficarão submetidos aos favores de “empresários e empreiteiros”, que os ajudarão com a concessão de passagens para permitir que os familiares dos congressistas estejam com eles regularmente em Brasília.
Deputado e senador disseram coisas escabrosas.
Pode até não ter pensado em dizê-las, mas disseram.
Qualquer cidadão - absolutamente qualquer um – que faz um concurso público sabe de antemão onde será provido o cargo que ele vai ocupar.
Editais de concurso público indicam claramente onde o candidato, uma vez classificado e nomeador servidor, vai servir – se no Oiapoque (AP), em Cabrobó (PE), em Paris ou no vilarejo mais distante, mais remoto do Afeganistão.
Pronto.
O candidato que se submete ao concurso público já está sabendo disso de antemão. E uma vez na condição de servidor, ou leva a família para morar com ele ou então faz visitas esporádicas aos familiares.
Mas isso tudo com o dinheiro dele, servidor.
Isso tudo com o salário que ele, servidor, recebe regularmente.
Por que deveria ser diferente com os congressistas?
Por quê?
Haverá concurso maior que uma eleição para qualquer cargo eletivo?
E o cidadão que aspira a ser deputado ou senador, não sabe antecipadamente que vai atuar em Brasília?
Por que esse privilégio odioso, em que o dinheiro público, no caso de um servidor, é utilizado corretamente, e no caso de deputados e senadores é usado desregradamente?
Por quê?
E o senador Papaléo?
Quer dizer então, Excelência, que o subsídio atual de um deputado ou senador impede que se mantenham com dignidade no exercício do cargo?
Quer dizer então, Excelência, que uma vez abolida a prática da concessão indiscriminada de passagens aéreas a deputados e senadores, os congressistas precisarão aumentar ainda mais seus subsídios, para compensar as despesas com deslocamentos de familiares a Brasília?
Quer dizer então, Excelência, que a honestidade de uma pessoa se mede por suas posses? Quer dizer então que todo pobre, todo remediado precisa cometer certos deslizes éticos para sobreviver com dignidade?
Quer dizer então, Excelência, que a inteireza moral de qualquer deputado ou senador deverá medir-se com a régua e o compasso de suas posses?
É assim mesmo?
Papaléo Paes e Sílvio Costa.
Duas vozes abalizadas do Congresso Nacional.
Desse Congresso Nacional.
O da farra das passagens, o do desregramento.
O Congresso Nacional que envergonha o País.
Um comentário:
Será que estes senhores são politicos só por causa de passagens? Na China ou em um país sério os senhores a estas horas estavam a contar com quantos ferros se faz uma céla.
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