Virou um bordão dizer-se, no Pará, que os cartolas é que deram uma decisiva, inestimável, incomparável contribuição para afundar o futebol paraense e o deixarem no nível em que se encontra, com um de seus grandes clubes, o Paysandu, na Terceira Divisão, e outro, o Remo, em divisão alguma.
É verdade.
Mas os cartolas do Pará – se isso serve de consolo para Suas Senhorias – não estão sós.
Só mesmo está o torcedor, este forte – seja em Belém, em Baião ou São Paulo.
O que a diretoria do Corinthians fez com os torcedores corintianos que madrugaram nas filas, com a intenção de comprar ingressos para a decisão do próximo domingo, contra o Santos, é um despautério, um desrespeito, uma crueldade. E revela, além de tudo isso, uma percepção empresarial e de marketing absolutamente incompreensíveis, distorcidas, incompatível com qualquer intenção ou pretensão de viabilizar os clubes financeiramente.
Por que este jogo de domingo foi programado para o Pacaembu, que tem capacidade em torno de 35 mil pessoas, em vez do Morumbi, que comporta 60 mil?
Talvez a diretoria do Corinthians, emocionalismo à flor da pele, deixou preponderar um sentimento de rejeição ao São Paulo – o dono do Morumbi -, para não lhe pagar as taxas a que teria direito pelo uso do estádio, em vez de pautar-se por uma visão simples, matemática, objetiva, com amparo em realidade financeira incontestável.
Com o jogo no Morumbi, ali compareceriam, com a mais absoluta certeza, 58 mil corintianos e 2 mil santistas, já que seria mais ou menos esta a cota que caberia ao clube da Vila.
Com isso, mais dinheiro para os cofres do Corinthians.
Mas os cartolas do Corinthians, ao que parece, estão com as burras tão abarrotadas, diante do sucesso que foi a contratação de Ronaldo Fenômeno, que não estão mais nem aí para alguns milhões que eventualmente deixam de ganhar.
E o que fez, portanto, a diretoria do Corinthians?
Fez uma imbecilidade capaz de revoltar milhares de torcedores corintianos que, ontem, deram com a cara nos gradis das bilheterias e não conseguiram ingressos.
E por quê?
Porque a carga de ingressos disponibilizada pela diretoria do Corinthians para sete postos de venda espalhados por São Paulo foi de apenas 14 mil ou 15 mil, quantidade que restou após as vendas pela internet e pelo Programa Fiel Torcedor.
E aí?
E aí que os ingressos terminaram 1 hora e meia depois de iniciada a venda em todos os postos.
No Parque São Jorge, onde fica a sede do clube, havia seguramente mais de 3 mil pessoas, a maioria das quais passaram a madrugada inteira, sob um frio que chegou a beirar os 15 ou 17 graus.
Ninguém contou isso ao editor do blog.
O editor do blog estava lá e viu.
Era ele também um dos madrugadores.
Chegou às 16h de terça-feira ao Parque São Jorge e ficou bem no início da fila, a apenas uns 50 metros da bilheteria.
Na frente do poster, estavam apenas umas 150 pessoas, no máximo.
Por volta de 9h45, começou a venda de ingressos.
Uma hora e meia depois, não havia mais ingressos disponíveis para venda – nem no Parque São Jorge, nem no Pacaembu, nem no Canindé, em lugar algum.
Ficaram sem ingressos o poster e mais de 3 mil pessoas, que em sua maioria também madrugaram na fila.
E depois?
Depois, no final da tarde de ontem, o poster foi à procura de ingressos no Pacaembu.
E viu – ninguém contou – torcedores corintianos de ferro na mão, dispostos a agredir pessoas que eles suspeitavam fossem cambistas e a quem atribuem a culpa pelo rápido esgotamento dos ingressos.
- Nós chegamos aqui desde ontem [terça-feira] à noite, e vocês agora ficaram com tudo [os ingressos], seus f. d. p... – gritavam os torcedores exaltados, dirigindo-se a um dos suspeitos de ser cambista.
Um grupo de cinco torcedores chegou a correr atrás de um homem que, se alcançado, certamente ficaria machucadíssimo, porque um dos que o perseguiam estava com um pedaço de ferro na mão. O grupo correu atrás da presa em boa parte da Rua Itatiara, uma das que ligam a Praça Charles Miller - onde fica o Pacaembu - ao bairro de Higienópolis. Mas o perseguido foi mais rápido e conseguiu escapar.
A revolta é justa. O ânimo de agredir é incabível. Mas a revolta, repita-se, é justísssima.
Torcedores são torcedores, não são comerciantes.
Querem torcer por seus clubes.
Dispõem-se a fazer sacrifícios para torcer por seus clubes.
Madrugam nas filas por seus clubes.
Precisam, portanto, sem bem tratados. Precisam ter prevalência em relação a cambistas e a quantos esquemas – irreveláveis, alguns deles – mais existam capazes de expressar um tratamento desrespeitoso ao verdadeiro torcedor.
Até quando, afinal de contas, o Brasil será uma excelência no futebol praticado nos gramados, mas uma péssima referência nas práticas de administração, gerenciamento e marketing no futebol?
Até quando cambistas serão tratados como os proscritos dos estádios?
Até quando?
2 comentários:
Fala sério o título desse poster est´s horrível: "Em Pará" ou em São Paulo, os maus-tratos ao torcedor
Por que não ao invés de "Em Pará" não "No Pará" - fica mais elegante.
Heheehehehe,
Foi o sono, Anônimo.
Você tem razão.
Está alterado.
Grato.
Abs.
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