Na FOLHA DE S.PAULO:
"Nada muda." Essa é a palavra de ordem do governo para tentar neutralizar o impacto na opinião pública e o apetite da própria base aliada para disputar a cabeça de chapa em 2010 após o anúncio de que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), pré-candidata à Presidência, irá se submeter a um tratamento de quimioterapia para combater um câncer linfático.
É para ratificar que Dilma "segue a rotina normalmente" que ela almoçou em um restaurante conhecido e lotado de São Paulo no sábado, rindo, comendo bem e tomando alguns goles de vinho, e viajará hoje com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o Amazonas e para o Acre, para assinar convênios na área social.
Lula volta a Brasília amanhã e Dilma continua na região, para um balanço das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) no Amazonas. Esses balanços devem continuar, na frequência de um Estado por semana.
Conforme a Folha apurou, o governo teme menos a oposição, que terá constrangimento em tirar proveito da doença de Dilma, e mais os próprios partidos aliados, que podem considerar reaberta a discussão de nomes para a sucessão.
Dilma informou a Lula sobre o linfoma, um tipo de câncer causado por alterações no sistema linfático, na hora do almoço de sexta-feira e se reuniu com ele e com o ministro Franklin Martins (Comunicação Social) na Base Aérea de Brasília, por volta das 19h. Ficou decidido que ela deveria convocar a entrevista coletiva de sábado, em São Paulo, reforçando a noção do "nada muda".
O principal temor recai sobre o PMDB, que é o maior e mais enraizado partido da base e cujo presidente, deputado Michel Temer (SP), já declarou à Folha que o quadro sucessório depende da evolução do tratamento da ministra. Ela é, até agora, a principal e praticamente única pré-candidata do lado governista.
Assim, o governo avalia que vai travar também uma batalha pela imprensa para massificar a compreensão de que, pelo diagnóstico médico, Dilma tem 90% de chance de superar totalmente a doença. O gânglio canceroso tinha apenas 2,5 centímetros e foi extirpado da axila esquerda há três semanas.
O problema começará com as sessões de quimioterapia, pois as reações variam de pessoa para pessoa e não é possível descartar efeitos colaterais, como perda de cabelo. Dilma fará sessões a cada três semanas, durante quatro meses.
Apesar da reação articulada pelo governo, é imprevisível ainda, se Dilma terá condições de acumular a Casa Civil, as viagens de caráter político justificadas pelo PAC e, agora, o tratamento de saúde.
A oposição tem sido cautelosa. O senador Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB, disse ontem que ela "tem ainda muito tempo neste ano para se cuidar, vai sair bem dessa, e pode deixar a disputa para o ano da disputa [2010]".
Outro tucano, o senador Álvaro Dias (PR), foi na mesma linha. "O problema dela parece de solução de curto prazo, muitas pessoas passam por isso [tratamento de câncer]. Acredito que o nome dela está posto e será sustentado pelo PT pelo menos no curto prazo."
Para o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), Dilma é "uma mulher que tem uma história de luta, de superação, e, portanto, logo vai estar pronta para suas funções e para o embate eleitoral de 2010".
Também o líder do partido no Senado, Agripino Maia (RN) usou o mesmo discurso.
"Sendo uma mulher cheia de vontade como ela é, tenho certeza que vai superar. Não alterará o projeto político dela nem o do partido", afirmou.
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