sexta-feira, 24 de abril de 2009

Fora-da-lei do campo descobrem vantagens do escudo humano

No Blog de Augusto Nunes, sob o título acima:

Por tratar como caso de polícia o que era uma questão social, o presidente Washington Luis antecipou a chegada à senilidade precoce da República Velha, enterrada sem honras pela Revolução de 1930. Por tratar como questão social o que é um caso de polícia, o presidente Lula pode acabar retardando a chegada à maioridade da democracia brasileira, recém saída do berço. Os líderes do incipiente movimento operário do século passado, que apresentavam reivindicações elementares, não mereciam cadeia. Mereciam de Washington Luis mais atenção. Os chefes de velharias ideológicas que alcançaram o começo de milênio berram exigências tão aceitáveis quanto a restauração da monarquia. Não merecem as atenções que Lula não cansa de dispensar-lhes. Merecem cadeia.
Que tal começar pelo MST?, sugere a biografia da sigla que está festejando ainda mais ruidosamente o 25° aniversário. Criança problemática desde o primeiro vagido, virou delinquente juvenil e, adulto, tornou-se um pecador sem remissão. Antes de mais um “abril vermelho”, que no calendário dos sem-terra começa no dia 17, o prontuário já lhe garantira o segundo lugar no ranking da bandidagem organizada, abaixo do PCC. Ainda na primeira semana de barulhos no campo, a partitura da violência - composta de atentados à propriedade privada, ataques a prédios públicos, roubos e furtos, destruição de residências, de plantações e laboratórios, agressões físicas, ameaças de morte e outras estridências - incorporou sustenidos especialmente perturbadores.
No dia 19, travou-se em Xinguara, nas lonjuras do Pará, mais uma batalha da guerra pela posse da Fazenda Espírito Santo. A propriedade transformou-se em alvo preferencial do MST não por ser improdutiva, mas por pertencer ao Grupo Opportunity, controlado por Daniel Dantas. Foi invadida não porque Dantas tem problemas com a Justiça, mas porque é inimigo de classe. Burgueses bilionários não devem ser tratados com clemência por tropas que lutam pela construção do paraíso comunista. A reforma agrária é só o começo. Ou um bom pretexto.
Não era pouco o que estava em jogo no Pará, entenderam os atacantes. Valia a pena, por exemplo, transformar em escudos humanos quatro jornalistas presentes à zona conflagrada pelo confronto entre soldados do MST e homens contratados para defender as divisas da fazenda. Valia a pena qualquer brutalidade, logo saberiam os reféns. “Os sem-terra mandaram que desligássemos as câmeras e avisaram que íamos ficar com eles”, contou o cinegrafista Felipe Almeida, da TV Liberal. “Mandaram que continuássemos andando na direção dos seguranças. Alertamos que ia haver tiro. ‘Vocês que estão na frente que se virem’, eles disseram. Quando o tiroteio começou, todo mundo correu”.
Felipe registrou cenas do combate que terminou com oito feridos. Os outros foram impedidos de filmar a movimentação dos sem-terra. Na tarde de domingo, ao encontrar os reféns libertados minutos antes, o gerente da fazenda pediu-lhes que ficassem por lá. “Para ele, éramos uma garantia”, disse Victor Haor, repórter da TV Liberal. “Nós não aceitamos porque já não havia condições de permanecer no lugar”.
O presidente Lula nem comentou o episódio. Depois de nomear-se conselheiro de Obama, o cara não tem paciência para miudezas. O ministro da Justiça, Tarso Genro, reiterou que não lida com questões estaduais. Basta a trabalheira exigida pela libertação do camarada Cesare Battisti. Lula e Tarso são cúmplices da companheirada sem juízo. A governadora Ana Júlia Carepa é a comparsa que os sem-terra pediram a Lênin.
Descansam nas gavetas da administração estadual quase mil mandados de reintegração de posse. “O Pará é muito grande”, explica Geraldo Araújo, assessor do secretário de Segurança Pública. O Brasil é ainda maior. E fica muito longe, ensinou Tom Jobim.
Em barracas de lona preta, milhares de sem-terra ocupam há quatro anos o que é de outros. Poderiam estar lucrando com os frutos da terra se tivessem genuíno interesse pela vida de agricultor e alguma intimidade com as coisas do campo. Não têm. Se tentasse manusear uma foice, o chefe João Pedro Stedile entraria para a História como o primeiro revolucionário a decepar a própria cabeça. Se resolvesse acompanhar o general com uma enxada, qualquer subordinado acabaria amputando um pé. É natural que todos prefiram estudar marxismo, ou rezar ajoelhados sob o pôster de Guevara. E, a partir de agora, também aprender como se improvisa um escudo humano. O governo garante a comida e a impunidade. O MST pode lutar sem sobressaltos pelo extermínio da democracia.
É o Brasil.

8 comentários:

Anônimo disse...

Por que o blog não publica a versão do MST? Por que o blog não publica a nota da CPT esclarecendo a "reintegração de posse" inventada desonestamente pelos advogados do grupo Opportunity? Pior que dizer Xinguará é disseminar como verdadeira a versão cínica do senhor Daniel Dantas e ignorar o outro lado.

Poster disse...

Não, Anônimo, você está enganado.
Pior, muito pior do que dizer "Xinguará" é fazer como você pretende que se faça aqui: que nós inventemos ou redijamos notas e versões do MST e da CPT.
Cadê a nota da CPT? Eu não recebi.
Você me autoriza a inventar uma? E se me autorizar, pagará por essa fraude?
Se me mandarem pra cá uma nota da CPT, publicá-la-ei, como tenho publicado tantas outras - de um lado, do outro lado, do terceiro lado, do quarto lado, do quinto e do sexto; enfim, todas as versões possíveis.
Que o final de semana o ajude a ter sensatez.
Grande abraço.

Anônimo disse...

Cruz credo, coisa mais reacionária e direitista que eu li sobre o assunto.

A nota da CPT está publicada em vários lugares pela internet.

Para você, caro blogueiro, a quem muito respeito e que percebemos entender tanto de questões jurídicas, a nota da CPT explicaria tintim por tintim a situação da agropecuária Santa Bárbara e da fazenda Espírito Santo no sudeste do Pará.

E entenderia o quanto fede esse tipo de argumentação em que se esbraveja contra a afronta, oh, que afronta!, de camponeses desvalidos que ousam se organizar contra poderosos-improdutivos-privilegiados-truculentos-grileiros-latifundiários que representam o que há de mais atrasado na política e na economia nacional e que estão passando de mão em mão os mesmos títulos de terra falsificados desde a época da colônia.

Anônimo disse...

Poxa, depois de um longo tempo sem o blog, achei infeliz esse retorno, acho que Paris não lhe fez bem, talvez por ter muitas poucas marcas da revolução e do poder jacobino, que em 1789 derrubou a propriedade feudal e a servidão. Demorou algum tempo para se reconhecer a importancia desse evento para a humanidade, mais depois dele nada mais seria como antes.

Poster disse...

Rsssss.
Você está bem informado sobre viagens, hein, Anônimo?
Mas ainda bem que é seu, exclusivamente seu, o juízo de que Paris não faz bem às pessoas.
Se você faz esse juízo, é porque já foi lá.
E se já foi, temos certeza de que não foi nas asas das cotas da Câmara dos Deputados (hehehehe).
Abraços.

Anônimo disse...

Como leitora assídua de seu blog, estou bem informada sim, como não sou burra, pela troca de e-mails entre o poster e seus comentaristas deduzi que voce merecidamente, apesar da ausência que nos fez sentir, passou alguns dias na Cidade Luz. Desculpe se errei.
Agora se fomos, disso não tenho dúvida, certamente foi com o suor de nosso trabalho.

Poster disse...

Anônima,
Desculpa se não nos fizemos entender.
Nem de longe insinuamos que você é burra. Nem de longe.
E é um alento sabermos que você está bem informada. E como está bem informada, é inteligentíssima.
É verdade, fomos mesmo descansar uns dias fora do País, para rever familiar. Isso não é mencionado com destaque aqui no blog - no máximo, é insinuado - porque é assunto estritamente pessoal e que não interessa a leitor algum, não é?
Mas você está certíssima nas deduções que fez.
Um grande abraço e, mais uma vez, desculpa por qualquer mal entendido.
Abs.

Anônimo disse...

Engraçado o blogueiro: não conhece nenhuma nota da CPT, mas publica um artigo desavergonhado de Augusto Nunes. Pergunto: o Augusto Nunes mandou a nota para o blog, ou o blog reproduz matéria publicada na imprensa ou na internet? Mas não viu nenhuma nota da CPT? Se a seriedade do blog pára por aí, melhor informar seus leitores disso: só publico aquilo que quero ler, o contraditório saudável em qualquer imprensa só publico se mandarem expressamente para o blog, com pedido de publicação, caso contrário a nota não existe, mesmo que percorra os 4 cantos do planeta.