sábado, 20 de dezembro de 2008

SOS pela vida

A seção Cartas na Mesa, de O LIBERAL, publicou a seguinte carta do jornalista e colaborador do blog Francisco Sidou:

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O assassinato brutal e covarde do médico Salvador Nahamias, na última sexta-feira, não abalou apenas sua família de modo tão cruel, pela perda irreparável, mas, também, deixou em todos nós, paraenses do bem, uma sensação de revolta, impotência e desamparo. Na expressão de dor e de perplexidade da senhora Vera e do jovem Rafael, contemplando seu esposo e pai sem vida ainda no carro onde foi executado, sem querer acreditar no que viam, está estampada toda a angústia de uma sociedade que está ficando cada vez mais órfã de governo e refém dos bandidos, da insegurança e do medo.
Salvador Nahmias, profissional de saúde do primeiro time, que salvou e ajudou a salvar milhares de vidas, em 30 anos de profissão, foi brutalmente assassinado sem qualquer possibilidade de defesa, nem mesmo de assistência médica, ele que prestou assistência de urgência e emergência a tantos pacientes nos vários hospitais onde emprestou o brilho de sua inteligência e de sua qualificação profissional esmerada.
Essa sensação de insegurança e de medo diante da perda de tantas vidas produtivas, de maneira tão violenta e cruel, está também deixando na sociedade paraense um sentimento de enorme vazio. Vazio inclusive de esperança diante da inércia e da lentidão do aparelho do Estado para defender a segurança dos cidadãos, atribuição que lhe é conferida como dever pela Constituição Federal (artigo 144, CF/88).
As notas de solidariedade do governo do Estado e as palavras da governadora de que lamenta o ocorrido em nada vão contribuir para dissipar a sensação de desamparo da sociedade diante da omissão e negligência com que vem sendo tratada a questão de segurança pública, não apenas neste governo, mas em quase todos que o antecederam. Os governantes não são eleitos para se lamentar ou jogar a culpa da violência em governos anteriores. Eles são eleitos pelo povo justamente para promover as mudanças que a sociedade reclama e que fazem parte de suas propostas de campanha. Ou tudo não passa de propaganda enganosa?
Não defendemos a tese de que basta colocar a polícia nas ruas para resolver o problema do crime. Mas o policiamento preventivo nas áreas de maior risco de assaltos, como nas portas dos bancos, onde acontecem as 'saidinhas', principalmente às sextas-feiras, já seria um bom começo de reação a esse estado inercial em que se encontra o aparelho policial do Estado. Aumentar o policiamento motorizado, em rondas pelos locais de maiores riscos (que a polícia conhece) também ajudaria a inibir a ação audaciosa dos marginais, que apostam, sobretudo, na impunidade.
O que não dá para aceitar, sem reagir com indignação, é a tese defendida por alguns policiais de que as vítimas, às vezes, dão 'bandeira', numa infame alusão ao fato de que Salvador teria 'facilitado' demais ao ir a um banco sacar dinheiro e depois sair tranqüilamente dirigindo seu carro particular. Ora, tenham a santa paciência, só está faltando mesmo culpar as vítimas indefesas por não saberem se defender dos assaltantes armados... Ora, um homem de bem, realmente, não está preparado para entender a linguagem cifrada de marginais, porque não convive com eles, como alguns policiais o fazem, por dever de ofício ou por outras razões...
Seria então o caso, senhora governadora, de sugerir ao 'aparelho' de segurança do Estado que promova, pelo menos, um curso de sobrevivência na selva urbana para cidadãos indefesos, com ensinamentos básicos de técnicas para não reagir aos assaltos e como se manter frio e calmo de modo a facilitar o 'trabalho' dos assaltantes...
Essa postura cínica de alguns policiais tentando culpar as vítimas do golpe de 'saidinhas' fatais é a própria negação do que preconiza o artigo 144 da CF, ou seja, de que a segurança da sociedade é dever do Estado e direito do cidadão. O certo é que, diante da omissão das autoridades ditas competentes e responsáveis pela segurança pública, os cidadãos-eleitores-contribuintes, que pagam impostos para sustentar a 'máquina' e o 'aparelho' emperrados do governo, estão cada vez mais entregues à própria sorte. Ou seria falta de sorte?
A campanha 'Em defesa da vida', lançada durante o comovido enterro de Salvador Nahmias, pelos familiares e amigos da vítima, é um grito de alerta de uma sociedade que não agüenta mais tanta violência, tanta barbárie e tanta omissão. O silêncio dos omissos é, sempre, mais pernicioso para a sociedade do que o silêncio dos inocentes...

Francisco Sidou
chicousidou@bol.com.br

Um comentário:

Anônimo disse...

Enquato isso, repete-se mais uma vez a mesma história: o bandido preso, que pilotava a moto do crime, JÁ TEM EXTENSA FICHA CRIMINAL, desde quando ainda era um adolescente "tolinho".
Responde por diversos crimes entre outros, por assaltos, roubos e MORTE.
Sim, já matou e surpreendentemente estava livre e solto. Cínico, sorria para as fotos, ao ser preso.
Passou por intensivas "medidas sócio-educativas" na DATA (ou seja lá onde...) mas não aprendeu nada.
Mesmo assim, estava nas ruas em intensa atividade laboral.
E como ele, muitos e muitos outros, basta ler os jornais.
Ao longe, a dona justiça, lerda, surda, cega e preguiçosa, está ocupadíssima preparando a confraternização e o reveillon.
O governo da mudança (pra pior) idem.
Paz as vítimas e seus familiares.
O horror , a insegurança e a impunidade continua.
Até quando?