sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Novo governo e o Quadricentenário de Belém


RUI RAIOL

Não estamos muito longe. Em 12 de janeiro de 2016, Belém completará 400 anos de fundação. Pela sua importância, a data requer uma festa brilhante, digna do privilégio da geração que viver nesse tempo. Digna das gerações pretéritas e de tantas outras que lerão nossos registros.
O novo governo tem um grande desafio pela frente: começar a planejar tão importante acontecimento. Embora o mandato do governador eleito encerre em 2014, não é aconselhável deixar essa tarefa para o período seguinte. Sobraria apenas um ano, tempo impossível para os preparativos de um evento desse porte. É melhor mesmo o governo do estado viver, mais do que nunca, o princípio da continuidade do serviço público. Pensar além do mandato. Governar olhando para frente.
As eleições deste ano têm essa peculiaridade. Mesmo o pleito não sendo municipal, o fator Quadricentenário começa a mostrar sua força. Isso porque o evento de 2016 interessa a todo o estado. Interessa porque Belém é a capital de todas as cidades paraenses. Isso é fato consumado, história, algo selado pelo tempo.
O Quadricentenário pode definir eleições e reeleições daqui para frente. No caso do governo do estado, penso que será um fator primordial. Não obstante a possibilidade de termos um novo governante em 2015, creio que um bom trabalho poderá garantir sua manutenção no cargo.
Mas, para que isso ocorra, o governador eleito deve arregaçar as mangas no primeiro dia de 2011. Montar um plano estratégico. Ouvir profissionais da área. Trabalhar pesado. Embora deva cuidar das questões cotidianas, 2016 será um alvo a conquistar. Não poderá tosquenejar, porque o tempo escoa apressadamente.
Francisco Caldeira de Castelo Branco será bastante útil para essa disciplina. Sua viagem, a partir do Maranhão, no Dia de Natal de 1615, deve servir como despertamento de que missões importantes requerem planejamento, trabalho de equipe e muita determinação. Belém precisa ser reconquistada.
E o que deve ser feito? Muita coisa. Belém está vivendo um dos seus piores momentos. A cidade, que já foi símbolo de romantismo e exemplo de bons governos, vive hoje um terrível caos. Suas ruas estão sufocadas por um exército de gente e motores, num amontoado desumano que nos remete há séculos de atraso. Não há sinalização nem fiscais de trânsito. O transporte urbano está falido, sendo socorrido hoje por uma população de vans fantasmagóricas, que escaparam de cemitérios ferruginosos. Motos não respeitam sinais de contramão nem calçadas. Ciclistas atropelam pedestres em rascunhos de faixas de travessia. A cidade está estressada e adoecendo com o seu trânsito.
O patrimônio histórico de Belém está ruindo. Muito já se perdeu. Muito se perderá. Edificações centenárias estão clamando por bons governos. Praticamente toda a cidade de um século passado hoje é apenas assombração. Só não está pior devido ao projeto Feliz Lusitânia, que recuperou um pouco a memória da cidade. Porém, é uma gota d'água. Muito do acervo de Belém está morrendo. O Belocentro virou lenda. Imponentes obras, como o Teatro São Cristóvão, na Magalhães Barata, estão agonizando diante de nossos olhos. Belém, uma cidade tão bonita, com seu casario ostentoso, pede socorro!
Belém precisa de um bom governo nos próximos quatro anos. Belém precisa de todos, mesmo dos políticos que, saindo agora, farão oposição. É tempo de abandonar vaidades pessoais e olhar, de verdade, para o povo e sua morada. É isso que ficará registrado. A verdadeira memória, que será lida e ensinada às gerações futuras. Não é o fim do mandato que retira o político. Se for um bom agente público, jamais será banido. É por essa razão que até hoje Antônio Lemos vive em Belém.
Belém, a Cidade das Águas, está sitiada. Não podemos nos contentar em ver o rio através de janelas. Belém é quase uma ilha, mas a gente vive cercado de pedra. Vivemos no coração da Amazônia, porém, sem o direito de contemplar as águas do rio e as matas ciliares. Não é possível que cheguemos assim no Quadricentenário. Eis uma árdua tarefa para o novo governo.
Governar olhando para frente, parece-me o mote necessário ao novo governo do Pará. Unindo-se à prefeitura da capital, acredito que o dirigente poderá fazer um belo trabalho, vindo a ser, com orgulho, o governador do Quadricentenário. Mas, para isso, deve começar logo. Precisamos conferir o desenvolvimento desse projeto a cada dia. Precisamos ver as ruas se arrumarem e os prédios serem restaurados. E não adianta dizer que isso será feito em 2015. Todos sabemos que não dará tempo!

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RUI RAIOL é escritor (www.ruiraiol.com.br)

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